Os juros futuros encerraram a sexta-feira em alta, mais pronunciada nos vencimentos de longo prazo e com ganho de inclinação na curva não só hoje como na semana, que foi marcada pela piora na percepção de ingerência política no trabalho do Banco Central.
Às críticas do presidente Lula sobre o nível dos juros e das metas de inflação e à autonomia do Banco Central (BC), que vêm atormentando os agentes nos últimos dias, somou-se o receio quanto à diretoria de Política Monetária depois que Bruno Serra deixar o cargo. O governo atua para indicar um substituto, enquanto o presidente Roberto Campos Neto tenta construir um consenso para a escolha.
O mercado também buscou se antecipar a uma eventual piora nas medianas de IPCA do Boletim Focus na segunda-feira. Nesse contexto, o ambiente externo ficou em segundo plano.
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A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,54%, de 13,48% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,82% (12,61% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2027, em 12,85%, de 12,53% ontem. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 13,01%, de 12,66%.
O mercado operou sob estresse desde a abertura, com as máximas atingidas no período da tarde, principalmente a partir da formação dos preços de ajuste depois das 16 horas. Apesar da tentativa de membros do governo de apaziguar os ânimos ontem com relação às críticas de Lula ao BC, o mercado sustentou a desconfiança sobre o que pode ocorrer com a política monetária nos próximos meses.
Apuração da jornalista Adriana Fernandes mostra que Campos Neto tem tentado, nos bastidores, fechar um nome para substituir Bruno Serra – que fica no BC até 28 de fevereiro – em consenso com o governo, mas estaria enfrentando resistências, pois o governo busca alguém novo que possa começar a mudar a “cara” do Copom.
Essa tentativa se dá ao mesmo tempo em que o presidente Lula questiona os atuais níveis das metas de inflação, defendendo um alvo maior contra o risco de “arrocho” na economia, e a própria autonomia da autoridade monetária para tomar decisões. O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, afirma que o momento é de tensão sobre as diretrizes da política econômica. “Começou com o risco fiscal, evoluiu para as metas de inflação e agora chegou no BC”, disse.
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A disparada das medianas de IPCA de longo prazo na pesquisa Focus desta semana já havia sido considerada um efeito da discussão sobre as metas e, depois das críticas de Lula, hoje o mercado buscou se proteger contra uma possível nova alta a ser trazida pelo Boletim da segunda-feira – hoje é data crítica para inserir projeções.
Os agentes trabalham não só com o risco de que a meta de 2026, a ser estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de junho, fique acima do alvo central de 3,00% para 2025 como também o de mudanças nos atuais níveis de 3,25% para 2024 e daqueles 3,00% para 2025. “Se forem mudar, vão mexer em todos os horizontes e isso implica em ajustes nas medianas do Focus e mais prêmio na curva”, diz Lima.
A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria, disse, no Twitter, que uma meta de inflação de 4% não vai resultar em juros menores. “Já tivemos meta de 4,5% no passado e juros reais superaram 7% e taxas pré 16%. Para reduzir juros é preciso credibilidade nas políticas monetária e fiscal. Já vimos Selic a 6% e inflação a 3%, não é impossível”, afirmou.
Na parte mais técnica, operadores observaram forte movimento de zeragem de posições, sobretudo à tarde, por players estrangeiros, que vinham bem mais otimistas com o Brasil do que os locais, dado o bom momento da China e perspectiva de desaceleração do ritmo de aperto monetário nos Estados Unidos.
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