

A Oncoclínicas (ONCO3) encerrou o ano de 2024 com seu balanço sinalizando os esforços feitos de revisão de contratos e redução de capex (investimento), o que proporcionou uma posição melhor de seu caixa e de seu endividamento líquido, que vem pesando em seus resultados.
Mesmo assim, as últimas linhas do balanço da Oncoclínicas ainda refletem o impacto de um ano difícil para o setor de saúde e marcado pela ruptura com a Unimed Rio, um dos planos para os quais prestava serviço.
Em contrapartida, na quinta-feira (27), a Oncoclínicas anunciou um acordo comercial com a operadora de saúde Hapvida (HAPV3) que se alinha à sua nova política de busca de maior eficiência de contratos e margens.
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No quarto trimestre de 2024, a Oncoclínicas reportou um prejuízo líquido contábil de R$ 759,3 milhões, revertendo lucro de R$ 87 milhões no mesmo período do ano anterior. O lucro líquido excluindo esse efeito contábil, não recorrente e sem impacto no caixa, foi de R$ 42,6 milhões, 56,8% abaixo do quarto trimestre de 2023.
O diretor de Relações Financeiras da Oncoclínicas, Cristiano Camargo, afirmou que o prejuízo contábil da Oncoclínicas resulta de impairment (ajuste no valor contábil de um ativo que passou por depreciação), ou conciliação de ativos. “Resolvemos fazer esse exercício, já que estávamos limpando o balanço”, afirmou.
Segundo ele, trata-se de um ajuste contábil que compara a projeção financeira feita para cada um dos ativos adquiridos na época com o de fato realizado. “Identificamos que as operações de hospitais não tiveram o desempenho esperado”, disse. A elevação do custo de capital, dada a alta dos juros, também impactou neste exercício. “Nada disso tem impacto no resultado líquido ou no caixa, é apenas ajuste contábil”, reiterou.
Camargo comemora o fato de a Oncoclínicas ter elevado o fluxo de caixa livre, a partir das iniciativas tomadas ao longo do ano para dar maior eficiência operacional e financeira à companhia, permitindo redução da dívida líquida organicamente em cerca de R$ 112 milhões no quarto trimestre, para R$ 3,2 bilhões, de R$ 3,318 bilhões no terceiro trimestre de 2023. No primeiro trimestre de 2024, estava em R$ 4,26 bilhões.
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Ele lembra que a Oncoclínicas veio de um ciclo intenso de capex, o que consumiu caixa ao longo de vários trimestres até a metade do ano passado. “Mudamos essa trajetória a partir do terceiro trimestre e assim seguimos no quarto trimestre, por mérito operacional e disciplina de capex”, acrescentou.
Entre as iniciativas tomadas pela empresa a partir do terceiro trimestre está a redução da exposição a planos de saúde com taxas de inadimplência maior e prazos de recebimento mais longos. “Adotamos deliberadamente política comercial em que privilegiamos geração de caixa, reduzindo entre R$ 30 milhões a R$ 35 milhões ao mês de exposição a esses planos que não se enquadravam em nossa estratégia”, explicou.
O prazo médio de recebimento chegou a ser de 118 dias no primeiro trimestre de 2024, fechando em 107 dias no quarto trimestre. De acordo com ele, esse prazo está ainda acima do que a companhia operava antes da piora generalizada do setor de saúde, que era de cerca de 95 dias. “Essa melhora deve ser gradual e lenta, mas consistente”, acrescentou.
Essa estratégia de corte de algumas fontes pagadoras, ou planos, impactou negativamente a margem Ebitda, que caiu para 17,4% no quarto trimestre, de 18,9% no mesmo período de 2023. “Estamos substituindo esse volume por faturamento de outros clientes”, afirmou, citando como exemplo o acordo com Hapvida. Camargo afirmou que o acordo com Hapvida deve gerar um crescimento gradual de margem já que, historicamente, a entrada de um plano novo normalmente não implica migração de todos os pacientes.
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No trimestre, a receita líquida foi de R$ 1,56 bilhão, representando um crescimento de 9,2% ante igual trimestre de 2023, uma expansão que ele vê como saudável dada a nova política comercial e o fato de 2024 ter sido marcado por dificuldades, entre as quais a descontinuidade da operadora Unimed Rio, que gerou uma inadimplência para a Oncoclínicas de cerca de R$ 400 milhões. Essa dívida foi transformada em recebíveis de 10 anos. Frente ao terceiro trimestre, a receita líquida caiu 4,2%.
Do ponto de vista de capex, Camargo explicou que o desembolso foi de R$ 33 milhões no quarto trimestre, bem inferior ao que vinha sendo gasto nos trimestres anteriores, para atender os investimentos contratados para a expansão dos centros de alta complexidade e unidades maiores, entre as quais, em São Paulo. “Não temos mais compromissos financeiros grandes de investimentos em obras de expansão”, disse, lembrando que a Oncoclínicas ainda tem outros projetos em andamento e que precisam ser concluídos.
Camargo lembrou que a Oncoclínicas paralisou há dois anos as aquisições e que a companhia entende que neste momento o ciclo é de contingência e entrega de não orgânico, com foco na desalavancagem. “Não há projetos de aquisição no curto prazo”, afirmou.
De acordo com Camargo, esta é a primeira vez que a Hapvida escolhe um prestador de serviço de oncologia externo para atender seus pacientes. O acordo prevê inicialmente atendimentos em unidades na Grande São Paulo e tratamentos de radioterapia em todo o Brasil. A Oncoclínicas (ONCO3) tem 148 clínicas em 44 cidades. “Embora esse acordo comece em São Paulo, deverá ser expandido para outras regiões”, afirma.
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