A Selic é a taxa básica de juros (Foto: Adobe Stock)
Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado segue dividido: metade dos gestores multimercados projeta alta da Selic, enquanto a outra metade aposta em estabilidade. É o que mostra a nova edição da pesquisa Pré-Copom da XP Investimentos, que ouviu 27 gestoras com estratégias baseadas em cenários macroeconômicos entre os dias 4 e 12 de junho.
Um resultado semelhante teve o levantamento do Projeções Broadcast, publicado no dia 12 de junho. A pesquisa realizada com 48 casas mostra que 27 preveem o juro básico estacionado em 14,75%, enquanto outras 21 instituições apostam em uma nova alta da Selic, de 0,25 ponto porcentual, no encontro deste mês.
Segundo o levantamento da XP, 50% das casas esperam um aumento de 0,25 ponto porcentual (p.p.) na Selic, para 15% ao ano, enquanto os outros 50% projetam manutenção da taxa em 14,75%. A estimativa média para o fim de 2025 passou de 14,77% para 14,83%, o que indica que parte do mercado já começa a considerar um possível novo ciclo de alta. “A divergência entre os gestores mostra a incerteza do momento, com leituras distintas sobre a resiliência da atividade e a dinâmica de inflação”, avalia a equipe de fundos da XP.
A inflação projetada para o fim do ano recuou pela segunda vez consecutiva, de 5,56% em maio para 5,35% em junho. De acordo com a XP, o movimento acompanha a tendência de revisão baixista observada no Relatório Focus (5,44%) e reflete, sobretudo, “a redução das pressões cambiais”. O PIB estimado para 2025, por sua vez, passou de 2,11% para 2,38%, reforçando a percepção de crescimento moderado, mas mais firme do que se antecipava.
Posição em juros nominais e reais
No mercado de juros, os gestores aumentaram expressivamente o posicionamento neutro: em juros nominais, a alta foi de 12 p.p., enquanto em juros reais chegou a 24 p.p. Esse reposicionamento sinaliza, segundo a corretora, que parte dos gestores começa a enxergar um possível encerramento do ciclo de aperto monetário. Em juros emergentes, também houve recuo nas posições aplicadas e aumento nas neutras, em linha com o movimento observado nos países desenvolvidos.
Posição em moedas
No câmbio, a pesquisa revela uma mudança tática relevante nas carteiras. Mais da metade (67%) das casas estão atualmente compradas em real, ante 33% em janeiro. Ao mesmo tempo, as posições vendidas em dólar saltaram de 13% para 95%. “A tese de dólar forte perdeu força”, afirmam os analistas. O movimento também inclui realocações para outras moedas, como o euro, onde 100% das casas com posição estão compradas. Já o iene japonês ganhou força como ativo defensivo, com aumento de convicção nas posições.
Posição em Bolsa
Já em renda variável, a percepção dos gestores sobre o Brasil melhorou levemente. O número de casas compradas em ações locais subiu para 44% (ante 42% em maio), enquanto as vendidas recuaram para 15%. A parcela neutra segue relevante, com 41% das casas sem exposição à Bolsa brasileira. No exterior, o tom permanece cauteloso. Nos Estados Unidos, 52% estão neutros e apenas 37% comprados. Nos demais mercados globais, 85% dos gestores estão neutros, patamar acima dos 81% da pesquisa anterior.
Na avaliação da XP, “a seletividade segue como premissa”, com maior preferência pelo mercado local diante das incertezas externas. A leitura da casa é que o cenário global ainda inspira cuidado, mas há sinais de “alívio das tensões comerciais”, o que contribuiu para uma leve melhora na percepção entre os gestores. Assim, a visão negativa sobre a economia global caiu de 68% em maio para 41% em junho, com aumento da posição neutra e da visão positiva (de 3% para 15%).
O levantamento também destaca a resiliência das estratégias multimercados, que entregaram, em média, retorno de 134% do CDI nos últimos 12 meses. Para a XP, a flexibilidade dessas carteiras, com capacidade de navegar entre juros, câmbio e bolsa, tanto no Brasil quanto no exterior, foi fundamental para capturar oportunidades em um ambiente de alta volatilidade. “A baixa dependência do cenário macroeconômico pode ser vista como uma das principais vantagens dessas estratégias em momentos desafiadores”, apontam os analistas.