

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na quarta-feira (2) um pacote de tarifas a países que aplicam impostos de importação a produtos americanos. Ao Brasil, será imposta uma taxa mínima de 10%. Outros países, como a China, devem sofrer com alíquotas maiores, de até dois dígitos. Em reação ao anúncio, o dólar sofre uma queda generalizada nesta quinta-feira (3).
O índice DXY, que compara a divisa americana com uma cesta de seis moedas fortes (euro, iene japonês, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço) recua 1,67% nesta tarde, aos 102,073 pontos, o nível mais baixo desde outubro de 2024.
Entre as principais divisas, o euro sobe 1,91% em relação ao dólar, atingindo o patamar de US$ 1,10383. Já a libra esterlina registra valorização de 0,77% a US$ 1,30991. O iene avança 1,59% a US$ 0,006, enquanto a coroa sueca tem alta de 1,29% a US$ 0,1023. O dólar canadense, por sua vez, sobe 1,22% a US$ 0,7102. Já o franco suíço observa o maior ganho, de 2,42% a US$ 1,1613.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
No mercado doméstico de câmbio, o dólar cede 1,35% em relação ao real, a R$ 5,622, sendo a primeira vez que a cotação da moeda americana vai a tal patamar desde meados de outubro de 2024.
O que mexe com o mercado de câmbio?
Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, após o anúncio das tarifas, o mercado passou a adotar uma visão mais pessimista em relação à atividade econômica dos Estados Unidos, incorporando a expectativa de uma desaceleração mais acentuada. “Esse cenário tem pressionado o dólar, levando a um enfraquecimento da moeda americana frente a outras divisas. Além disso, a perspectiva de crescimento mais fraco contribuiu para o fechamento da curva de juros futuros, com os investidores passando a precificar até três cortes na taxa básica de juros dos Estados Unidos ainda neste ano”, diz.
André Valério, economista sênior do Inter, argumenta que a dinâmica da moeda americana no curto prazo vai depender de qual fator irá prevalecer em resposta às tarifas. “Se a economia americana absorver bem o choque, com baixo impacto na atividade e na inflação, a tendência é vermos o dólar se apreciar de maneira global. Por outro lado, se o impacto das tarifas for extenso, criando incertezas e desaceleração da economia, ao passo em que os Estados Unidos se isolem do resto do mundo, a tendência é observar a continuidade do movimento de depreciação do dólar”, diz.
O real, em meio a isso, deve sofrer pouco. O economista entende que o impacto sobre a balança comercial brasileira pode ser pequeno, uma vez que o fluxo do Brasil com os Estados Unidos não é o mais relevante. “Por outro lado, o efeito líquido das tarifas tem chances de ser positivo, especialmente se houver retaliação por parte da China e da Europa. O Brasil tende a ganhar participação de mercado com suas exportações, à medida que essas regiões direcionem suas demandas para outro lugar. Isso pode ocorrer particularmente com o setor de agronegócio, que sofre grande competição com o agro americano”, acrescenta.
Além das tarifas de Trump, outro fator tem mexido com o câmbio doméstico: o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos. Vale lembrar que, enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic por aqui em março, o Federal Reserve (Fed) manteve as taxas de juros estabilizadas nos EUA. “Atualmente, o real é uma das moedas favoritas dos investidores justamente por causa desse fator”, reforça Valério.
Publicidade