Ao reforçar o foco em produtos de maior qualidade, a administração da Vale (VALE3) espera capturar prêmios de preço e economias de custo que devem elevar o Ebitda (lucro antes de juros, depreciação, amortização e impostos) por tonelada ao longo do tempo, aponta o BTG Pactual, após participar de encontro com a empresa na última semana.
Na avaliação do banco, no entanto, o mercado ainda levará algum tempo para reconhecer integralmente esses ganhos de mix.
Em relatório, os analistas Leonardo Correa, Marcelo Arazi e Bruno Henriques destacam que a disciplina de capital permanece como pilar central. Segundo os profissionais, o capex (investimento) deve cair modestamente de US$ 5,9 bilhões para US$ 5,5 bilhões em 2025 e continuar abaixo de US$ 6 bilhões em 2026, enquanto o cenário resiliente do minério de ferro, hoje em torno de US$ 105/t, tende a reduzir a dívida líquida expandida para US$ 15 bilhões a US$ 16 bilhões até o fim deste ano.
Com esse nível de endividamento, o banco enxerga espaço para dividendos extraordinários de aproximadamente US$ 500 milhões até o fim de 2025 – e possivelmente mais adiante – ou para recompras de ações.
O cobre segue como vetor de crescimento, mas com alcance restrito nos próximos três a cinco anos, já que os projetos ainda estão nos estágios iniciais.
No front do minério, o BTG admite que suas projeções anteriores, de US$ 95/t em 2025 e US$ 85/t em 2026, soavam excessivamente conservadoras. Agora, a equipe de análise trabalha com US$ 100/t e US$ 92,5/t, respectivamente, refletindo a sustentação da curva de custos, a continuidade da força das exportações chinesas de aço (queda menor de produção, -2% versus -3,5% estimados antes) e limitações de oferta causadas por degradação de teor, exaustão de minas e menor presença de exportadores não tradicionais, como a Índia.
Ainda assim, o BTG mantém a visão de que os preços devem ceder com a entrada gradual de Simandou: 18 milhões de toneladas (Mt) em 2026, 35 Mt em 2027 e 55 Mt em 2028, volumes menores que os projetados anteriormente. Esses acréscimos levariam o mercado marítimo a um superávit superior a 130 Mt em 2028, algo como 10% do comércio transoceânico, pressionando as cotações para dentro da curva de custos.
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A redução do capex reforça a tese de geração de caixa: somente no segundo trimestre de 2025, a Vale desembolsou US$ 1 bilhão, prolongando a folga financeira. Se o minério permanecer ao redor de US$ 100/t, a companhia poderia chegar a um dividend yield (rendimento do dividendo) próximo de 10% em 2026 – cenário que o BTG não trata como base, mas que colocaria a empresa em vantagem frente às concorrentes australianas. Ainda assim, os analistas observam que parte dos investidores, sobretudo locais, seguiria exigindo retornos mais altos para se sentir confortável com o risco.
Diante desse conjunto de fatores, o BTG Pactual considera que as coisas estão melhores do que se esperava e elogia as iniciativas da gestão, mas reforça que o valuation (valor do ativo) ainda não oferece suporte suficiente para um upgrade da ação. O banco, portanto, mantém a recomendação neutra para Vale (VALE3). O preço-alvo é de R$ 65, o que representa um potencial de valorização de 13,04%.