Há alguns anos, a Resia, subsidiária do MRV&Co (MRVE3) nos Estados Unidos, ajudava a sustentar o balanço consolidado do grupo no azul. Hoje, ela virou um peso. Com dívidas elevadas, a empresa focada no aluguel de apartamentos residenciais na Flórida, Geórgia e no Texas teve prejuízo de quase R$ 900 milhões no segundo trimestre de 2025.
O aumento dos custos de construção, taxas de juros elevadas e uma estratégia de crescimento que resultou em excesso de oferta em alguns mercados forçaram o grupo controlador brasileiro MRV&Co a realizar, em junho deste ano, um “impairment” de US$ 144 milhões dos ativos da Resia. Ou seja, o grupo ajustou o valor contábil dos ativos para o seu valor recuperável, tendo que informar essa diferença em balanço.
Assim, o MRV&Co apresentou prejuízo líquido consolidado de R$ 774,7 milhões entre abril e junho deste ano, revertendo um lucro de R$ 29 milhões registrado no mesmo trimestre de 2024. Em entrevista exclusiva à websérie Balanço em Foco, Ricardo Paixão, CFO do MRV&Co, explicou como o grupo pretende resolver o problema que virou a subsidiária nos Estados Unidos.
“Haviam alguns terrenos dentro do balanço da Resia que achamos melhor não desenvolver mais e colocar à venda. E há quatro projetos prontos que fazem parte de uma safra legado, onde tivemos um pouco de desvio de custo no aluguel, então eles ficaram com a rentabilidade prejudicada”, disse. “A soma desses 11 terrenos e 4 projetos perfizeram o montante de US$ 144 milhões de perda, o que basicamente corresponde pela totalidade do prejuízo que apresentamos”, completou.
Segundo o executivo, não há possibilidade do reconhecimento de novas perdas com ativos da subsidiária estadunidense nos próximos balanços do grupo, pois houve uma preocupação em fazer isso de uma só vez, a fim de prolongar o problema. Para isso, a companhia contratou duas consultorias nos Estados Unidos, responsáveis por validarem os valores projetados para a oficialização do “impairment” da Resia.
“Na parte de projetos, fizemos uma abordagem com a projeção de aluguel de cada um dos empreendimentos que temos em locação e, em cima disso, usamos um cap rate de saída que é o atual do mercado, sem considerar uma eventual melhora futura devido à queda dos juros nos EUA. A gente ainda solicitou que essas duas empresas de consultoria validassem os valores que foram apurados, certificando que todos estão dentro do range de valuation fornecido por essas empresas”, explicou o CFO.
Não vai ter impairment um, dois ou três. Foi um impairment único e pronto e acabou. Não tem mais nada para vir pela frente quanto a isso.
Paixão disse que a ideia é deixar a operação da Resia bem mais enxuta, com a cobrança de algumas taxas de rentabilidade que não eram aplicadas anteriormente. “Estamos falando de uma Resia bem menor, com dois ou três projetos por ano”, afirmou.
MRV ganha com programas habitacionais
Enquanto a subsidiária nos Estados Unidos dá prejuízo, por aqui a principal empresa do grupo, a construtora MRV, faz dinheiro na esteira dos programas habitacionais do governo federal e dos governos estaduais pelo País. Considerando apenas o segmento de incorporação de imóveis no Brasil, com as marcas MRV e Sensia, o grupo teve lucro líquido ajustado de R$ 125 milhões no segundo trimestre de 2025, um crescimento de 65% na comparação anual.
Paixão comentou que a criação da Faixa 4 do programa “Minha Casa, Minha Vida”, destinada a famílias com renda bruta mensal entre R$ 8.600,01 e R$ 12.000, impactou positivamente os empreendimentos, por isso há boas perspectivas para os lançamentos na segunda metade deste ano. O executivo também comentou sobre os gargalos nos programas estaduais, com solução no Amazonas, mas ainda com indefinições no Ceará.
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Sobre loteamentos, o grupo pretende continuar expandindo suas operações através da subsidiária Urba, que reverteu prejuízo no segundo trimestre deste ano. Já a Luggo, empresa de construção para aluguéis residenciais, teve prejuízo, queda de receita e queima de caixa, mas o diretor financeiro avaliou que há expectativa de venda de projetos ainda neste ano, o que deve reverter essa situação no balanço da companhia, beneficiando os números consolidados do grupo. Confira a entrevista na íntegra com o CFO Ricardo Paixão no player acima, ou clique aqui.