- Levantamento analisou a mobilização de recursos das empresas listadas no índice ISE, da B3, para o Investimento Social Privado
- 91% das companhias alocam até 1% da sua receita bruta em investimento social
- Uma das razões para a dificuldade de quantificar esse volume é a falta de padronização para classificar os investimentos em ESG
Os investimentos das companhias brasileiras para a agenda ESG (governança ambiental, social e corporativa, na sigla em inglês) ganham cada vez mais relevância no mercado à medida em que os investidores ficam atentos aos critérios socioambientais. No entanto, quando o assunto é o campo social, representado pela letra S, os recursos destinados para esta área ainda ocupam um espaço pequeno na receita das empresas.
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Segundo levantamento da Bravo Research, enviado com exclusividade ao E-Investidor, 91% das companhias alocam até 1% da sua receita bruta em investimento social. O estudo analisou as respostas das companhias de capital aberto listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial, da B3, referente ao Investimento Social Privado (ISP).
O ISP corresponde à mobilização de recursos privados para fins públicos realizada de forma planejada para iniciativas sociais, ambientais, culturais e científicas de interesse público. A partir desses dados, a Bravo conseguiu analisar os investimentos para a categoria Social de 116 empresas de capital aberto.
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Desse total, 94 companhias destinaram até 0,5% da sua receita operacional bruta para os investimentos sociais, o que representa 81% da amostra analisada. Vale lembrar que nesse grupo também inclui as companhias que não mobilizaram nenhum recurso para o social. Outras 12 empresas mobilizaram entre 0,5% e 1% do seu faturamento para esse tipo de investimento.
Embora o porcentual voltado para as ações sociais possa parecer pequeno, a mobilização dos recursos para tal finalidade tem um peso relevante para o mercado por dois motivos: primeiro porque os dados mostram que há uma mobilização de recursos para a agenda social e segundo, que esse porcentual é aplicado em cima do faturamento bilionário das companhias de capital aberto.
“Se a gente for olhar o faturamento das empresas, ultrapassa facilmente R$ 2 bilhões. Então, 1% ou 0,5% desse volume já passa a ser um investimento expressivo”, afirma Eduardo Grytz, sócio da X8 Investimentos. E de fato, relevante. Ainda de acordo com os dados da Bravo, a soma de todos os recursos das companhias destinados para fins sociais de interesse público atingiu a marca de R$ 14,6 bilhões.
A boa notícia é que esse montante pode ganhar patamares ainda maiores nos próximos anos devido ao processo de amadurecimento da sociedade e do mercado financeiro em relação à temática ESG. “As gerações mais recentes têm esse critério socioambiental como um ponto extremamente decisivo seja na hora de investir seja na hora de consumir”, afirma Marcela Ungaretti, head de research de ESG da XP.
Falta transparência
A temática ESG ganha espaço no mercado, mas ainda enfrenta um desafio: a consolidação dos dados referentes aos investimentos alinhados às três vertentes. A ausência de transparência impede que os investidores tenham uma perspectiva mais detalhada sobre o compromisso das companhias com as pautas ESG.
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A dificuldade fez com que o levantamento da Bravo Research ficasse restrito apenas aos dados do ISP por se tratar de uma das poucas informações de ESG consolidadas no mercado brasileiro. “Investimentos realizados em treinamentos, capacitação da força de trabalho, implementação de tecnologias e melhorias na gestão somente são financeiramente mensuráveis se expostos de forma clara pelas empresas”, afirma Suelen Silva, head de Research da Bravo.
Mas com o amadurecimento do mercado, a tendência é que novas metodologias sejam desenvolvidas a fim de quantificar os investimentos em ESG e os resultados de forma mais transparente. Não existe uma padronização de efetivação de resultados em ESG. Há muitas iniciativas nesse sentido. Na Europa, eles devem publicar ainda em 2023 uma tentativa de padronização”, diz Marcos Rodrigues, especialista em ESG e sócio da MRD Consulting.
Uma das iniciativas recentes neste sentido, considerada como relevante na visão de Rodrigues, foi o lançamento da ABNT PR 2030 – ESG. A norma, aplicável para todo o tipo de organização, estabelece um modelo de avaliação e de direcionamento capaz de oferecer para empresas uma forma de identificar o seu nível de maturidade relacionado às práticas socioambientais e de governança corporativa. “Por que isso? Para que o mercado tenha dados comparáveis”, acrescenta Rodrigues.