“Grande demais para quebrar”: por que crise do Credit Suisse assusta o mercado?

Envolvido em escândalos, segundo maior banco suíço está em grandes dificuldades financeiras

A Suíça é um daqueles países onde a reputação de seus serviços (leia-se, seus bancos) e produtos (canivetes, chocolates e relógios) têm uma dimensão de solidez e qualidade lendários.

Mas se até o chocolate Toblerone deixará de ser suíço em breve, a crise financeira do Credit Suisse – o segundo maior banco do país, atrás apenas do UBS – tem o potencial de fazer o sistema bancário europeu ruir.

O Credit Suisse foi fundado em Zurique como Schweizerische Kreditanstalt em 1856 para financiar a ampliação da rede ferroviária, a infraestrutura e a indústria do país.

Durante sua trajetória o Credit Suisse se consolidou como uma grande instituição de crédito e outros serviços financeiros através de múltiplas aquisições globais. Em 2007, por exemplo, ela comprou a asset brasileira Hedging Griffo.

No entanto, nos últimos anos a gigante do setor financeiro vem sendo alvo de inúmeros escândalos e acusações, o que vem deteriorando exatamente o nível de confiança de seus investidores.

Os primeiros sinais ruins surgiram em 2021 com a ruína da Greensill Capital, uma empresa financeira britânica. Quando ela quebrou, o CS perdeu por volta de US$ 3 bilhões.

Relembre o caso

No mesmo ano, o colapso da family office Archegos Capital, do americano Bill Hwang, trouxe prejuízos bilionários não só a investidores do Credit Suisse, mas também de Goldman Sachs, Nomura Securities e Morgan Stanley.

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Nos meses seguintes, acusações de não cumprimento de políticas de compliance, lavagem de dinheiro e a investigação do consórcio jornalístico Suisse Secrets (composto pelo inglês The Guardian, o norte-americano New York Times e o francês Le Monde, entre outros), aprofundaram ainda mais a crise de credibilidade.

Entre os clientes polêmicos do banco suíço estariam a família de um torturador egípcio, um traficante das Filipinas, autoridades da petrolífera venezuelana PDVSA e até o rei Abdullah II, da Jordânia. O Credit Suisse negou veementemente as acusações.

Relembre o caso

Em meio à toda essa turbulência, desde sua cotação máxima de 12,42 francos suíços no meio da pandemia do Covid-19 as ações do Credit Suisse recuaram 83,7%, chegando a operar abaixo dos CHF 2 neste mês de março.

Essa perda de valor de mercado, aliado a temores de sua capacidade de liquidez e à falência dos bancos SVB e Signature já não eram uma conjuntura positiva. A gota d’água foi seu maior investidor, o Saudi National Bank, negar aportes adicionais para estabilizar o balanço do CS. O motivo alegado foi não ultrapassar sua fatia de 10% (o que traria complexidades regulatórias).

Na quarta-feira (15), as ações do Credit Suisse derreteram mais de 20%. Mas com a máxima de que o banco é uma daquelas instituições “grande demais para falir”, ela foi resgatada pelo Banco Central suíço com uma linha de crédito de US$ 54 bilhões, evitando assim maiores danos ao sistema e outros bancos expostos.

Mas no domingo (19), em uma reviravolta espetacular e com as bençãos dos reguladores suíços, o UBS comprou o Credit Suisse por US$ 3,25 bilhões em um resgate de emergência.

Como o combalido (mas sólido?) sistema financeiro suíço será visto daqui para frente, só o tempo dirá.