Guerra na Ucrânia, 1 ano: entenda os impactos econômicos da invasão pela Rússia

Vladimir Putin não dá sinais que conflito chegará ao fim em breve

Em 24 de fevereiro de 2022, tropas russas invadiram a Ucrânia na mais nova escalada do conflito iniciado em 2014, trazendo pesados impactos econômicos e financeiros em um mundo ainda combalido pela pandemia global do novo coronavírus.

Depois de ocupar e anexar territórios ucranianos como a Crimeia nos anos anteriores, há um ano Vladimir Putin ordenou a invasão de novas regiões em Luhansk e Donetsk, ao leste do país, com o apoio de paramilitares e ucranianos de etnia russa. Parte da estratégia teve o apoio do governo de Belarus.

O que talvez Putin não imaginasse foi a feroz defesa dos territórios liderada pelo ex-comediante e presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e a forte reação do Ocidente, impondo diversas sanções econômicas para estrangular o esforço de guerra russo.

Mirando oligarcas

Diversas companhias e oligarcas ligados ao regime de Putin tiveram seus bens congelados ou mesmo apreendidos. Um dos alvos foi o então dono da equipe inglesa de futebol Chelsea FC, Roman Abramovich, que teve que vender o time da Premier League e outros ativos no exterior.

Iates de luxo, grandiosas mansões, aviões, automóveis esportivos e outros bens de bilionários como Alexei Mordashov, Alexei Kuzmichev e Alisher Usmanov foram igualmente apreendidos.

Congelamento de bens

O Banco Central da Rússia teve cerca de US$ 400 bilhões de suas reservas no exterior congeladas. A medida foi acompanhada por outras restrições impostas pela União Europeia, Reino Unido, EUA, Japão, Coreia e Taiwan.

Diversos bancos russos foram banidos do sistema bancário Swift, em um esforço para isolar o sistema financeiro russo do resto do mundo e dificultar o financiamento dos esforços bélicos e de pagamentos do país.

Óleo, Carvão e Gás

Diversos países europeus decidiram por limitar a importação de petróleo e gás da Rússia, duas commodities importantíssimas para a economia local. A restrição levou à escalada dos preços da energia elétrica e combustíveis, aumento de custos e inflação em vários países da região.

A Rússia também resolveu diminuir o fornecimento de produtos para o exterior, agravando ainda mais a subida dos preços. Após atingir níveis recordes, o preço do barril começou a cair, o que levou a OPEP+ a diminuir a oferta e assim reequilibrar os preços.

Países como Canadá e a União Europeia lançaram planos para que sua matriz energética deixe de depender das commodities energéticas russas entre 2027 e 2030.

Espaço aéreo

Dezenas de países proibiram o acesso de companhias aéreas e aeronaves russas ao seu espaço aéreo. Uma recíproca foi imposta quase que imediatamente, inviabilizando várias rotas comerciais de carga e passageiros devido à imensa extensão territorial russa.

Trigo

Tanto Rússia como Ucrânia são dois dos maiores produtores mundiais do grão. Com estradas e ferrovias destruídas pela guerra, portos fechados e rotas comerciais com circulação limitada, houve um aumento nos custos dos alimentos globalmente, do pão europeu ao lamen no Japão.

E o Brasil?

O Brasil, então sob o comando do presidente Jair Bolsonaro, manteve uma postura neutra e, por enquanto, sob novo governo, mantém o mesmo posicionamento diplomático.

Parte do interesse do Brasil é não agravar pressões inflacionárias e o acesso a fertilizantes e outras commodities russas fundamentais para nosso agronegócio. Atualmente, os países mais afetados pela falta de trigo, milho, óleos e produtos da região do conflito são países pobres da África, Sudeste Asiático e antigas repúblicas soviéticas.

A guerra na Ucrânia, aliada à crise da pandemia do novo coronavírus, levaram a altas recordes da inflação. Com o avanço nos custos de energia e preços de alimentos, países como Alemanha, Reino Unido e EUA viram algumas das mais fortes pressões sobre os índices nos últimos 40 anos e, com isso, aumento generalizado das taxas básicas dos juros.

Os impactos na economia da Ucrânia são devastadores. A destruição de infraestrutura logística, de energia e abastecimento, perdas humanas e estrangulamento de áreas produtivas podem ter levado à queda de um terço do PIB em 2022, segundo o FMI.

E a economia russa?

Dados sobre a economia da Rússia são conflitantes. Entidades como FMI, Banco Mundial e OCDE apontam para uma contração do PIB entre 2,2% e 5,0% em 2022 e a perspectiva de um novo recuo para 2023.

As exportações russas caíram 15% em 2022 afetando sua balança comercial -- número atenuado por renovados negócios com a China. Já a Bolsa vem operando 40% abaixo dos niveis pré-invasões.

A inflação, que chegou na casa dos 14% em 2022, deve arrefecer em 2023 (para cerca de 5%). Mesmo assim, os juros se mantém em 7,5%.

A tragédia humana

Além das questões econômicas e financeiras, a tragédia humana na Ucrânia já provocou milhares de mortos, feridos e desaparecidos nos dois lados da fronteira, a movimentação de milhões de refugiados para o Leste Europeu, cidades e infraestrutura destruídos e patrimônios históricos e culturais perdidos para sempre.