Para onde vai o Ibovespa se o governo não zerar o déficit fiscal em 2024?

Presidente Lula afirma que dificilmente o governo vai conseguir cumprir a meta fiscal

As dúvidas do mercado sobre a capacidade do governo em cumprir a meta fiscal do próximo ano só aumentaram com a declaração do presidente Lula.

Na última sexta-feira, 27, durante café da manhã com jornalistas, o chefe do Planalto afirmou que dificilmente o governo vai conseguir zerar o “déficit fiscal” em 2024, como prevê a nova regra que rege as contas públicas.

Já na tarde de segunda-feira, 30, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou durante coletiva de imprensa que a meta fiscal estava mantida para garantir o equilíbrio fiscal.

No entanto, analistas afirmam que as incertezas adicionadas pelo presidente não devem mudar radicalmente os rumos do Ibovespa nos próximos meses. Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o mercado ainda não precificou este cenário.

“Fizemos até um cruzamento do que está no boletim Focus desde o novo arcabouço fiscal e as projeções não chegaram nem perto (da precificação caso o governo cumprisse a meta fiscal). Então, o mercado sempre achou que haveria um deslize de forma negativa”, explica.

A dúvida que fica para o mercado é o tamanho desse déficit em 2024. Até o momento, as estimativas do Boletim Focus apontavam para um déficit de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para o próximo ano.

Com o pronunciamento do presidente, Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, afirma que a equipe econômica ficou descredibilizada perante ao Congresso. “O problema é o que vem depois. Se houver um déficit, eu vou querer ‘um pedaço’. Essa é a dinâmica política”, avalia.

Desde o anúncio do novo arcabouço fiscal, a equipe econômica trabalha para aprovar medidas que possam elevar a arrecadação dos cofres públicos e zerar o déficit fiscal em 2024. Uma das apostas é a aprovação do projeto de lei que prevê a taxação dos fundos exclusivos de investimentos e de offshores.

O PL já avançou na Câmara dos Deputados e aguarda aprovação do Senado para, caso seja aprovada, entre em vigor no próximo ano. A equipe econômica espera arrecadar cerca de R$ 18 bilhões com a taxação dos produtos de investimentos e conseguir cumprir a meta fiscal de 2024.

O problema é que as medidas não serão suficientes para cobrir todos os gastos do governo. “Precisaria de um aumento na arrecadação de ao menos 1% do PIB ou um contingenciamento de despesas de forma mais incisiva”, diz Luan Alves, analista chefe da VG Research.

Enquanto a situação não estiver resolvida, a tendência é que o Ibovespa enfrente um cenário desafiador nos próximos meses, o que deve impedir o índice de ter grandes avanços.