Adeus Real? Entenda o que é a moeda única do Mercosul

Divisa comum sul-americana volta ser discutida por Haddad

Em agosto de 2021, o então ministro da Economia Paulo Guedes defendeu a adoção de uma moeda única do Mercosul, citando que, em um futuro próximo, poucas moedas seriam relevantes globalmente, como dólar, euro e o yuan chinês. "O Brasil assumiria um papel como o da Alemanha na Europa”, disse Guedes na ocasião.

O assunto está em debate dentro do bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai há anos, mas não progride – entre outros motivos – devido às enormes disparidades econômicas entre os países, questões de política monetária e negociações diplomáticas.

O assunto voltou a ser discutido após o encontro entre o embaixador argentino Daniel Scioli e o ministro da Fazenda Fernando Haddad, que – junto com Gabriel Galípolo, atual secretário-executivo na Fazenda – é um entusiasta da proposta.

Para que ela serviria?

Esta moeda comum seria um agente catalisador de integração, coordenação política e intercâmbio econômico entre os países da região, facilitando o comércio, pagamentos, transferências financeiras e negócios transnacionais entre empresas e cidadãos deste espaço econômico, sem o obrigatório uso do câmbio.

Quem emitiria a Moeda Mercosul?

Tal como o Banco Central Europeu, uma autoridade monetária regional teria que ser criada, regulando a emissão da moeda.

Moedas regionais não são novidade. O exemplo mais conhecido é o Euro, adotado por 20 dos 27 países da União Europeia, e que substituiu o marco alemão, franco francês, peseta espanhola, lira italiana e florins holandeses, entre outros.

Outro exemplo é o Franco CFA (Comunidade Financeira Africana), dividido entre duas moedas intercambiáveis: XAF (para países da África Central, cujas maiores economias são República do Congo e Camarões) e XOF (da África Ocidental, incluindo Costa do Marfim e Senegal). Quase todos os 14 países adotantes são ex-colônias francesas. Uma exceção é a lusófona Guiné-Bissau.

Moeda Mercosul é o fim do Real?

A princípio, não. Assim como o Euro, que foi adotado pela maioria dos países da União Europeia (com a notória exceção do Reino Unido), cada país-membro do Mercosul teria a opção de manter sua respectiva divisa (Real, Guarani e Pesos argentino e uruguaio).

E quando ela chega?

Apesar do presidente Lula apoiar a ideia de uma moeda latino-americana independente do dólar, ainda não há acordos que definam metas e prazos. As placas de automóveis Mercosul, por exemplo, levaram 8 anos para serem implementadas e ainda há milhões de carros com licenças antigas.

Outro empecilho é o atual estado das economias locais. A inflação argentina em 2022 foi a maior nos últimos 32 anos, aos 95%. Já os mercados de Uruguai e Paraguai são consideravelmente menores que os de seus vizinhos e parceiros: enquanto o PIB brasileiro é de US$ 1,6 trilhão e o argentino é um terço disso, o do Paraguai é de cerca de US$ 45 bi.

Para contornar essas disparidades, uma das soluções possíveis seria a adoção de uma espécie de URV (unidade real de valor), o instrumento que ajudou a acabar com a hiperinflação brasileira e deu origem ao Real.