Comportamento

As estratégias do lutador de UFC Renato Moicano para viver de renda

O lutador Renato Moicano, que entrou nos holofotes da imprensa internacional ao se declarar fã de Mises, fala sobre seus investimentos

As estratégias do lutador de UFC Renato Moicano para viver de renda
" Moicano wants money! Quero dinheiro, quero liberdade financeira", diz lutador. (Foto: Divulgacao UFC)
  • A vontade do lutador em aprender sobre investimentos o fez descobrir a escola austríaca
  • A Escola Austríaca é uma corrente de pensamento econômico que dá ênfase à ação individual das pessoas sobre o mercado. Além de Mises, Carl Menger e Friedrich Hayek estão entre seus principais representantes
  • A estratégia de investimento do lutador envolve aportes mensais, independentemente do preço, em Bitcoin, S&P 500 e imóveis

O lutador brasiliense do UFC Renato Moicano ganhou fama fora do universo do MMA ao dizer que amava a propriedade privada, conclamando todos a lerem ‘As Seis Lições de Ludwig von Mises’, livro que reúne palestras ministradas pelo economista austríaco na Universidade de Buenos Aires, em 1959.

A declaração de Moicano aconteceu ainda no octógono, após vencer o norte-americano Jalin Turner. O rosto inchado e sangrando aumentou a dramaticidade da declaração e cumpriu o objetivo do atleta. Ele chamou atenção. Instantaneamente virou uma espécie de herói em grupos políticos no Brasil e Estados Unidos e passou a estampar o noticiário nacional e internacional. Sua fama foi além. A CNN norte-americana também usou a paixão de Moicano pela escola austríaca para debater o porquê de o falecido economista despertar tanta paixão nos latino-americanos, lembrando dos estridentes chefes de El Salvador, Nayib Bukele, e Argentina, Javier Milei.

A Escola Austríaca é uma corrente de pensamento econômico que dá ênfase à ação individual das pessoas sobre o mercado. Além de Mises, Carl Menger e Friedrich Hayek estão entre seus principais representantes. A maior crítica aos austríacos vem de seu desprezo a modelos matemáticos e estatísticos no estudo da economia.

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A forte rejeição de Mises ao socialismo também é uma marca. E teve reflexos no Brasil, lembrou a CNN, fazendo referência ao movimento “Menos Marx, Mais Mises”, que ficou famoso nos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Desde 2014, nos ringues do UFC, Moicano passou incólume pelo movimento no Brasil, mas a vontade de aprender a investir a grana das lutas o fez descobrir a contra-corrente austríaca e atuar no mercado financeiro. “Eu comecei a estudar sobre investimentos e caí nessa questão da curva de juros negativa. Isso foi andando até ler o livro da das seis lições de Mises”, conta.

Moicano passou a questionar o Estado e os impostos, que sempre pareceram uma coisa natural para um filho de Brasília, capital nacional dos concursos públicos. Não só isso. Os profissionais que ele conhece como “investment advisors” – Moicano só investe nos Estados Unidos – passaram também a ser alvo de sua desconfiança. “Independente de o mercado estar ganhando ou perdendo, eles vão pegar a taxa de corretagem deles.”

Falando ao E-Investidor de sua casa na Flórida, o lutador com 10 vitórias e quatro derrotas no UFC mostra um nível de conhecimento de mercado suficiente para dizer que não sabe analisar empresas e, por isso, prefere investir em fundos de índice (ETFs) que pagam dividendos. Sua estratégia para viver de renda no futuro envolve os aportes mensais em um plano de previdência (dolar cost average) e investimentos em criptomoedas. Ele também aplica em imóveis e com foco sempre no longo prazo. “Eu não especulo, não faço day trade”, diz;

Para os outros atletas e profissionais, Moicano sugere que é mais rentável investir na carreira do que pagar cursos para tentar aprender a investir em ações. 1) ETFs; 2) Aportes mensais; 3) Bitcoin; 4) Imóveis ;5) Foco no longo prazo; 6) Carreira. Parafraseando o livro do seu ídolo Mises, essas são as seis lições de Renato Moicano para quem quer investir o suado  e – também – sangrado dinheiro.

Confira a seguir os principais trechos da conversa:

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E-Investidor – Como esportista, qual a sua relação com a escola austríaca?

Renato Moicano – Não sou um especialista. Eu recomendei a leitura das 6 lições porque eu me identifiquei bastante com o que o livro trata. Eu acho que essa é a versão do esporte, né? Sem subsídio e sem atalhos. A minha carreira no UFC é de altos e baixos, mas de persistência, com um objetivo maior: a liberdade financeira. Depois que eu acabar meus anos de luta, quero viver uma vida tranquila.

Um dos motivos para você se interessar pelo liberalismo econômico tem a ver com impostos?

Até chegar à escola austríaca foi um longo caminho. Eu sou de Brasília e tem muito concursado lá, então falava muito quando eu era criança que queria passar no concurso para ganhar um salário de R$ 20 mil. Eu já tinha um entendimento de que o Estado desconta os impostos da fonte, do salário do servidor público, então eu simplesmente assumia que o imposto era uma coisa natural. Mas, se você for ver, principalmente o Imposto de Renda, ele começou como uma maneira de financiar guerras. A Guerra Civil Americana, e depois a Primeira Guerra Mundial, nos Estados Unidos. Então, era uma lei provisória que se tornou obrigatória. Tem países no Oriente Médio que não tem o Imposto de Renda. O Estado acaba assumindo uma postura paternalista e intervencionista. Os oligarcas do poder precisam da sua contribuição, eles precisam do seu dinheiro, eles precisam que o status quo permaneça como eles querem, e eu comecei a entender um pouco mais disso quando comecei a ler a Escola Austríaca.

Quando foi que você descobriu a Escola Austríaca?

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Há uns dois anos, quando comecei a me interessar por Bitcoin. Depois, fui estudar sobre investimentos tradicionais na Bolsa e comecei a buscar informações sobre inflação, fundos e assim sucessivamente. Fui em várias instituições, como JP Morgan, Chase, Western Mutual Funds, entre outros, para ouvir os chamados financial advisors, os especialistas que te recomendam investimentos. A partir disso comecei a entender que é muito difícil botar dinheiro na mão desses caras. Todas essas firmas, no final das contas, vão fazer o que mais interessa para elas. Eu comecei a tentar entender sobre investimentos e depois caí nessa questão aí da curva de juros negativa e isso foi andando até eu chegar e ler o livro da escola austríaca de Mises, das seis lições.

E como você investe o seu dinheiro hoje?

Eu não invisto no Brasil, só nos Estados Unidos. Como eu não tenho tempo para acompanhar as notícias das empresas ou entrar em balanços, invisto em index funds (fundos de índice), tipo o VOO (Vanguard S&P 500 ETF), o dolar cost average (estratégia de investimento que envolve a compra regular de um ativo, independentemente do preço). Eu separo um dinheiro todo mês e boto no S&P500 e outros fundos diversificados que pagam dividendos, tudo passivo. Faço isso com Bitcoin também, com aportes mensais predeterminados. E tenho alguns investimentos em imóveis.

E a volatilidade do Bitcoin não te preocupa?

Me preocupa de certa forma, mas, ao mesmo tempo, o Bitcoin é um dinheiro que eu posso perder. Eu sei que o Bitcoin é bastante volátil, dizem que não produz nada, mas para mim faz algo que é muito importante, que é tirar o dinheiro do governo. Por mais que ele tenha uma volatilidade grande, a cotação tende sempre a crescer. Essa é uma ideia que eu acredito. Acredito em descentralização, em governança e acredito em você ter o controle, a autocustódia do seu dinheiro.

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E qual a porcentagem de sua carteira está em Bitcoin, em ETF e imóveis?

Apesar de eu acreditar no Bitcoin, eu também não sou louco de por 50% da minha carteira. Tenho de 25% a 30% em Bitcoin. Eu queria alocar somente 10%, quando comecei, mas cada vez mais eu penso em aumentar esse aporte. Tenho outros 25% em S&P 500 e o resto em imóveis. Não importa a volatilidade porque já entendi que a maior segurança nos investimentos é o longuíssimo prazo. Eu não vendo nada.

Então você está dizendo que, como não vende, você não precisa pagar o imposto. Você não realiza lucro?

Exatamente, eu não realizo. Eu acho que muitas pessoas ficam ligadas à volatilidade. Eu entendo o investimento não como especulação. Tem gente que gosta de especular e fazer day trade. Eu não especulo, não compro e vendo ações. Eu invisto no mercado americano porque eu acredito no longo prazo. Eu acredito que nos próximos 100 anos, mesmo se a China passar os Estados Unidos globalmente na economia, o mercado continuará relevante. As 500 maiores empresas dos Estados Unidos geram valor, trabalho e ajudam a economia. Por isso eu escolhi investir via S&P 500 e na ideia do Bitcoin.

Qual o conselho mais importante para outros atletas ou fãs que estão começando a investir?

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O meu conselho é, se você não sabe nada de mercado, estude. Está tudo aí na internet, com muito livro e muita informação. Talvez a maior commodity dessa década seja a atenção. Se você tiver a atenção das pessoas, você vai poder gerar renda de alguma forma. Então estude, se dedique na sua profissão e use os investimentos para manter e multiplicar a sua renda.

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