Mercado

Megainvestidor Silvio Tini é condenado pela CVM em caso de insider

Executivo não poderá exercer cargos de administrador ou de conselheiro fiscal por 5 anos

  • A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) proibiu o megainvestidor Silvio Tini de exercer cargos de administrador ou conselheiro fiscal por cinco anos
  • A condenação acontece no âmbito das investigações em torno de um caso de insider trading (negociação com uso de informação privilegiada) na Alpargatas, em abril de 2017
  • Na época, Tini era conselheiro de administração da companhia e foi acusado de passar a Caio Galli, operador da Bradesco S.A. Corretora, informações não públicas sobre a companhia

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) proibiu o megainvestidor Silvio Tini de exercer cargos de administrador ou conselheiro fiscal por cinco anos. A condenação acontece no âmbito das investigações em torno de um caso de insider trading (negociação com uso de informação privilegiada) na Alpargatas (ALPA4), em abril de 2017.

Na época, Silvio Tini era conselheiro de administração da companhia e foi acusado de passar a Caio Galli, operador da Bradesco S.A. Corretora, informações não públicas sobre a companhia. Júlio César, também operador na Bradesco Corretora, teria igualmente executado ordens sob posse de informações não públicas, vindas de Tini.

A própria Bradesco S.A. Corretora conduziu investigações internas em relação ao caso e identificou, em 29 de março de 2017, duas ligações feitas entre Tini e Galli, nas quais o conselheiro provoca o operador a comprar especificamente as ações ordinárias de companhia “no limite do fôlego” e solicitar a César que o ajude nessas compras. As aquisições teriam sido feitas em nome dos próprios operadores, não para Tini.

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Cerca de 23 dias depois, em 20 de abril de 2017, a Alpargatas soltou um fato relevante sobre a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) e uma Assembleia Geral Especial (AGE) para discutir a migração da empresa para o segmento especial de listagem Novo Mercado.

Para mudar ao Novo Mercado, as empresas só podem emitir ações ordinárias, com direito a voto. Desta forma, o comunicado também apontou que a relação de conversão das ações preferenciais em ordinárias seria na proporção de 1,3 ação preferencial para cada 1 ação ordinária da Companhia.

“Logo após a divulgação do Fato Relevante em 20.04.2017, as ações ordinárias da Companhia tiveram expressiva valorização, não acompanhada de imediato pelas preferenciais”, afirmou a área técnica da CVM. Contudo, cerca de um mês após o fato relevante, a Alpargatas cancelou a migração ao Novo Mercado.

A CVM também apurou as relações entre Tini, Galli e César. O primeiro operador foi apontado como a pessoa responsável por executar as ordens de compra e venda de valores mobiliários do executivo. O segundo também já teria atendido o megainvestidor. No total, Galli e César teriam auferido ganhos de R$ 4,7 mil e R$ 9,4 mil, respectivamente, e agora foram condenados a multas de R$ 200 mil cada.

Silvio Tini possui cerca de 10% da Alpargatas, entre as participações como pessoa física e por meio da Bonsucex Holding S.A, em que é diretor-presidente. Ele também possui fatias relevantes em grandes empresas como IRB Brasil Resseguros e Gerdau.

Em defesa, o empresário afirmou que não tinha informação privilegiada, tendo em vista que “até a divulgação do Fato Relevante o controlador podia simplesmente alterar a proposta da relação de troca ou simplesmente decidir não promover a migração para o Novo Mercado”. Também mencionou que a conversa telefônica com Galli estava baseada exclusivamente na observação sobre o spread atípico entre ações ordinárias e preferenciais da Alpargatas, dado público naquele momento.

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Já Galli e César afirmam que “não sabiam (ou poderiam saber) que a sugestão de investimento recebida poderia estar contaminada por uma informação privilegiada e, ainda, desconheciam o momento no qual ela seria divulgada ao mercado”.

Leia a conversa telefônica entre Tini e Gali na íntegra:

  • Primeiro telefonema:

“Silvio: É…essas coisa aí, Caio, É…é…essas coisa aí…Caio…o…a ALPA ON tá
muito distorcida…você não quer comprar um pouquinho pra você, hein,
Caio?
Caio: Posso.
Silvio: Isto…pra você.
Caio: Tá…E a PN [ações preferenciais da Alpargatas], Silvio, acabou a venda,
hein? Voltou…
Silvio: ‘Cê” entendeu, Caio?
Caio: Entendi, entendi…Voltou um caminhão de compra da PN aqui, hein? Você
me dá só um minutinho, Silvio, pra…?
Silvio: Tá.
Caio: Um caminhão de venda, hein? Um caminhão de compra na PN.
Silvio: É…eu, eu acho que vai melhorar. Essa ON [ALPA ON] está mais barata,
viu, Caio?
Caio: É… Agora fechou a 10,40, as vendas estão ali a 10,34. Se eu tomar um
“cenzinho” lá, o papel vai parecer com queda.
Silvio: Ô Caio? “Cê” entendeu o que eu falei?
Caio: Lá, né?
Silvio: É…manda o…manda o…o…manda lá o Júlio César comprar pra você.
Caio: Tá bom.
Silvio: Tá bom? No limite do seu fôlego.
Caio: Pode deixar.
Silvio: Tá?
Caio: Pode deixar.
Silvio: Nós não vamos falar mais.
Caio: Tá bom.
Silvio: Tá bom?.

  • Segundo telefonema:

Caio: Silvio?
Silvio: Muito cuidado com isso que eu falei, viu, Caio?
Caio: Tá joia. Pode ficar tranquilo.
Silvio: Tá. E é só pra você…
Caio: Pode ficar tranquilo.
Silvio:…e mais ninguém…ir com muita sede ao pote, tá? Senão…
[…]
Caio: E a PN…tem…tem gente mostrando compra aqui, viu Silvio? Tem um monte
de gente olhando aí.
Silvio: É, mas não…não se mete nessa não…
Caio: Não…não tô nem olhando…
Silvio: Ah não. Vai no outro que lá que eu falei… né?
Caio: Não tá nem no radar.
Silvio: Tá…Nós não vamos falar mais, tá?”

 

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