Uma pergunta frequente feita pelos que se interessam pelo mercado de ações é como saber se uma ação está cara ou barata. A minha resposta sempre começa mostrando o índice preço/lucro também conhecido como P/L (preço/lucro) ou em inglês, P/E (price/earnings).
O índice P/L é obtido, pura e simplesmente, dividindo o preço atual da ação pelo seu último lucro por ação. Exemplificando: se a cotação de uma ação é R$ 20 e seu o lucro por ação é de R$ 1 nos últimos 12 meses, podemos dizer que o P/L é de 20.
A ideia geral é que quanto maior o P/L, mais cara é a ação indicando que o investidor terá que acumular/esperar mais anos de lucro de modo a compensar o preço pago no papel. Sendo assim, uma empresa com P/L de 50 indicaria que o investidor teria que acumular 50 anos de lucro para empatar com o dinheiro investido na compra da ação.
Publicidade
Embora simples e intuitiva, a explicação requer alguns reparos. Vejamos:
Não é todo o lucro da empresa que é transformado em caixa. Logo, se uma empresa tem um lucro de X em 2022, não é todo este X que é transformado em caixa. Sendo assim, se o LPA da ação for de R$ 1 em 2022, isso não significa que o acionista embolsará R$ 1 na forma de dividendos e outros proventos. Seguindo esta linha de raciocínio um P/L de 50 poderia significar que o investidor recuperaria o capital investido em mais de 50 anos.
Outro aspecto é que o lucro por ação pode crescer ao longo do tempo. Logo, um P/L de Y não significa que o investidor tenha que esperar Y anos para recuperar o investimento dado que o LPA poderia crescer ao longo do tempo. Seguindo esta linha de raciocínio um P/L de 50 poderia significar que o investidor recuperaria o capital investido em menos de 50 anos.
Outro ponto é que o investidor sempre pode vender o papel a qualquer momento. Logo, ele não precisa recuperar o investimento apenas com os dividendos recebidos.
O que passa na cabeça de um investidor que compra papel com P/L muito alto? Este tipo de investidor muito provavelmente (ou quase que seguramente) espera grande crescimento no LPA nos próximos anos.
A questão que todo investidor de ações que compra papel com P/L elevado deveria ser capaz de responder é: “Qual é o crescimento que a empresa deve ter para justificar um P/L tão elevado?”
A título de exemplo, seguem exemplos de P/L de alguns papeis listados na B3:
Empresas
P/L
Preço
Lucro por Ação
RAIL3
197,30
16,58
0,08
HAPV3
116,98
11,87
0,10
PETZ3
110,07
18,00
0,16
RDOR3
65,41
51,80
0,79
MGLU3
62,52
5,54
0,09
ITUB4
9,01
26,15
2,90
BBDC4
8,78
21,18
2,41
TAEE11
6,50
41,75
6,43
CSAN3
6,46
21,95
3,40
PCAR3
6,45
23,00
3,57
CMIG4
6,19
13,54
2,19
DXCO3
6,17
14,12
2,29
JBSS3
5,05
36,97
7,31
VALE3
3,76
94,30
25,07
PETR4
3,65
30,01
8,22
USIM5
1,75
14,29
8,17
Fonte: Comdinheiro. Valores referem-se à 17/03/2022
Notem a que existem empresas listadas na B3 com P/L próximo a 200!
Publicidade
Estes índices evidenciam que os papéis estão caros? Se eu responder que sim, alguém poderá argumentar que o P/L não é tão alto assim dependendo da taxa de crescimento esperada para a empresa.
Para o investidor que compra papel com P/L acima elevado, é absolutamente necessário que crescimento se materialize. Caso contrário, ele terá pago muito caro pelo papel.
Por outro lado, como seria possível ter empresa que valha 1,75x o seu último lucro? Uma possível explicação é que o mercado não espera que o lucro cresça ou pior: pode-se acreditar que lucro vai diminuir.
Então, como mensagem final, sugiro que os investidores sempre se atentem para o indicador P/L e naqueles casos em que o P/L é muito elevado, verifique se o plano de crescimento da empresa é compatível com taxa de crescimento embutida no P/L corrente.
Publicidade
Rafael Paschoarelli Veiga
Professor Doutor do Departamento de Administração da FEA-USP