- A chegada desses investidores reforça o processo de rejuvenescimento da bolsa brasileira
- Esse movimento é impulsionado, principalmente, por influenciadores digitais que falam sobre o mercado financeiro
- A popularização do assunto desmistificou a ideia de que a bolsa de valores é restrita a determinada classe social
A presença de crianças e adolescentes no mercado financeiro brasileiro quase triplicou nos últimos dois anos. Segundo dados da B3, o número de investidores com menos de 18 anos estava próximo dos 11 mil (10.911) em março de 2020. Exatos dois anos depois, esse público cresceu e chegou a 30.732, o que representa um salto de 181% durante o período.
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A chegada desses investidores ainda na infância ou na adolescência impulsiona ainda mais o processo de rejuvenescimento da bolsa brasileira.
Mateus Gusmão, de 14 anos, é investidor desde 2019, quando descobriu por meio de conteúdos de finanças na internet que era possível ganhar mais dinheiro por meio de aplicações. A percepção fez com que ele saísse na frente em relação ao seus pais quando o assunto é finanças.
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“Eu tinha um pouco de dinheiro guardado (que recebeu dos pais e de familiares em datas comemorativas) e queria saber como poderia multiplicá-lo. Então, fui aprendendo sobre investimentos e comecei a investir com menos de R$ 100 em fundos imobiliários”, afirma o adolescente.
Ele é o responsável por todas as aplicações e segue no objetivo de conquistar a tão sonhada independência financeira. Para alcançá-la, o adolescente segue um conselho comum entre os analistas: manter uma carteira diversificada. Metade dos seus investimentos está posicionada em ações de companhias brasileiras. O restante segue aplicado no exterior, em renda fixa e até em criptomoedas.
“Não tenho o objetivo fixo de ter R$ 50 milhões ou R$ 100 milhões. Quero ter uma vida confortável financeiramente”, diz o jovem investidor. O seu interesse pelo mercado financeiro influenciou até a mãe do adolescente, a arquiteta Rose Gusmão, para o mundo dos investimentos.
Com a participação mais ativa do adolescente na bolsa, ela sentiu na obrigação de entender melhor como funciona o mercado de capitais para acompanhar e orientar o filho. “Eu não conhecia nada sobre mercado financeiro e achava que era uma realidade bem distante. Foi por causa dele que a gente (pais de Mateus) começou a investir na bolsa também”, conta.
Já João Diniz Altmann, de 14 anos, ainda é novato no mundo dos investimentos. Como iniciou a investir há menos de um mês, ele realiza apenas aplicações financeiras mais conservadoras para não ter risco de perder dinheiro. “Eu invisto em Tesouro Direto”, afirma.
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Embora esteja alguns passos atrás em relação a Gusmão, o jovem compartilha da mesma vontade: deseja ter uma renda extra no futuro e, para isso, não pretende manter um perfil conservador por muito tempo. “Eu quero ter mais experiência para investir em renda variável”, diz.
A cautela de Altmann faz sentido porque a investir na bolsa de valores não é uma tarefa fácil. O percurso para fazer bons investimentos nesta área exige conhecimentos que vão além da educação que esses jovens recebem na escola. No entanto, eles não se intimidam com o desafio.
Pelo contrário, em 2020, Gusmão criou um canal no YouTube sobre educação financeira para compartilhar a sua experiência e ajudar outros adolescentes que desejam investir. “Quanto mais cedo começar se começar a cuidar bem do seu dinheiro, melhor será para o futuro da nação”, acredita Gusmão.
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A presença de investidores com menos de 18 anos na B3
Período |
Nº de investidores menores de 18 anos
|
Março de 2020 | 10.911 |
Março de 2021 | 22.336 |
Março de 2022 | 30.732 |
Fonte: B3 |
Por que os jovens foram para a Bolsa?
A chegada de investidores cada vez mais novos à Bolsa tem relação ao maior acesso às informações sobre mercado financeiro e finanças pessoais.
A popularização do assunto desmistificou a ideia de que a bolsa de valores é restrita a determinada classe social. “Cada vez mais temos influenciadores digitais difundindo sobre a importância dos investimentos e Educação Financeira. Isso acaba por democratizar e fortalecer movimentos de expansão do número de investidores de todas as idades”, avalia João Daronco, analista da Suno Research.
O aumento da concorrência entre as corretoras e plataformas de investimentos trouxe a redução dos custos das taxas cobradas. Além disso, o cenário macroeconômico também contribuiu para a vinda desse público mais novo.
Alexandre Brito, analista de investimentos da Finacap, lembra que há dois anos as taxas de juros no Brasil estavam em patamares mais baixos. O cenário naquela época incentivou a migração das aplicações de renda fixa para a renda variável. “Até o início de 2021, estávamos com a taxa de juros a 2% ao ano. O retorno do CDI estava de 4% ao ano, enquanto na bolsa o retorno poderia ser ainda maior”, destaca Brito.
Como funciona para abrir uma conta?
Segundo a B3, cada corretora de investimentos estabelece os seus procedimentos para a abertura de conta para menores de 18 anos. No caso da Ágora Investimentos, o processo é feito junto com os pais ou por meio de um responsável legal.
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De acordo com Ellen Steter, especialista em investimentos da Ágora, a senha para a realização de operações financeiras fica sob responsabilidade do tutor.
Mas além de garantir a segurança do dinheiro do menor de 18 anos, a abertura de conta tem como meta ajudar no processo de educação financeira. “O principal objetivo é que os pais sejam os condutores de educação financeira para as crianças e adolescentes. Os pais podem abrir a conta, mostrar e explicar como funcionam as operações financeiras”, explica Steter.
Para estimular ainda mais esse processo de educação, a Ágora estabeleceu um desconto de 50% para abertura de conta para menores de 18 anos. “No Ágora Kids, temos uma cartilha chamada “Preparando o meu futuro” porque queremos deixar essa visão de educação para essa gestão de conta”, ressalta a especialista.
A Rico Investimentos também permite a abertura de contas para o público abaixo dos 18 anos. Assim como na Ágora, os pais são os responsáveis pelas decisões de investimentos.
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Segundo a corretora, a transferência do dinheiro para a conta ocorre de duas formas: a primeira pode ser realizada de forma direta caso a criança ou o adolescente já tenha alguma conta no banco.
Agora, se o jovem for o segundo titular da conta bancária do tutor, o cadastro na corretora poderá ser feito de forma conjunta para a realização de transferências financeiras.