O dólar recuava contra o real nesta terça-feira, embora o movimento fosse limitado pela persistência de temores sobre a economia global, conforme participantes do mercado digeriam a ata da última reunião de política monetária do Banco Central, em que a autarquia indicou necessidade de manter a taxa básica de juros em nível elevado por período prolongado para levar a inflação a patamar próximo à meta fiscal em 2023.
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No documento, publicado antes da abertura dos mercados, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que pretende promover novo aumento igual ou menor que 0,5 ponto percentual na Selic em agosto.
O Banco ABC Brasil avaliou o tom da ata como “moderadamente mais ‘hawkish'”, ou agressivo no combate à inflação, e disse que o documento impõe algum viés de alta a sua projeção para o patamar da Selic ao fim do atual processo de elevação da taxa. A instituição prevê os juros chegando a 13,75% em agosto.
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A taxa básica de juros está atualmente em 13,25%, depois que um agressivo ciclo de aperto monetário iniciado em março de 2021 tirou a Selic de uma mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia.
Custos de empréstimos mais altos tendem a restringir a atividade econômica –impacto que o BC espera ser maior a partir do segundo semestre deste ano, devido à defasagem da transmissão da política monetária–, mas também tornam o mercado de renda fixa brasileiro mais atraente para investidores estrangeiros, o que, no geral, é visto como fator de impulso para o real.
Às 10:27 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,51%, a 5,1616 reais na venda. Na mínima do dia, a moeda chegou a cair 0,66%, a 5,1537 reais na venda.
Na B3, às 10:27 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,62%, a 5,1775 reais.
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Parte dessa desvalorização também era atribuída ao enfraquecimento do dólar no exterior, onde seu índice contra uma cesta de pares fortes recuava 0,20% nesta manhã. Rand sul-africano e peso mexicano, divisas emergentes cujo desempenho o real tende a acompanhar, registravam ganhos frente ao dólar no dia.
Investidores citavam um sentimento global mais ameno nesta sessão. As bolsas europeias e os futuros de Wall Street, por exemplo, operavam em alta nesta terça-feira, recuperando-se de um tombo recente, desencadeado por temores de que uma postura mais agressiva do Federal Reserve pudesse prejudicar a atividade econômica dos Estados Unidos e do resto do mundo.
“Ajuda no melhor sentimento do mercado as falas de Joe Biden durante o dia de ontem, em que o presidente norte-americano disse que uma recessão não é inevitável. Ainda assim, o mercado continua apostando em uma maior chance de que isso ocorra na maior economia do mundo”, comentou Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
O Goldman Sachs somou-se a outras grandes instituições financeiras e elevou as chances de a economia norte-americana entrar em recessão ao longo do próximo ano para 30%, cerca de uma semana depois que o Federal Reserve promoveu sua maior alta de juros desde 1994, de 0,75 ponto percentual, para conter o aumento da inflação.
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O medo de recessão costuma afetar o apetite de investidores por risco, levando a uma fuga para ativos considerados seguros, como a moeda norte-americana. O dólar também tende a se beneficiar de juros mais altos nos EUA porque isso torna os retornos da dívida local mais atraentes.
Impulsionado pelas notícias envolvendo o banco central norte-americano, o dólar à vista subiu por nove das últimas dez sessões completas de negociação contra o real, e fechou a segunda-feira em 5,1878 reais, maior patamar para encerramento desde 14 de fevereiro deste ano (5,2195).
No ano, a moeda norte-americana ainda acumula queda de 7,3%, mas está mais de 12% acima da mínima para encerramento de 2022, de 4,6075 reais, atingida no início de abril.