Por Luís Eduardo Leal – Em dia majoritariamente negativo no exterior, com o apetite por risco cerceado pelo avanço da inflação nos Estados Unidos, o Ibovespa parecia a caminho de manter a linha dos 98 mil pontos pela terceira sessão, sem se distanciar da faixa de 98,2 a 98,4 mil em boa parte da tarde, entre leves ganhos e perdas. Ao fim, a referência da B3 cedeu um pouco mais, em baixa de 0,40%, aos 97.881,16 pontos, entre mínima de 97.402,99 e máxima de 98.928,24 pontos, saindo de abertura aos 98.257,94. Agora abaixo dos 98 mil, foi a menor marca de fechamento no ano, e também a mais baixa desde os 97.866,81 do encerramento de 4 de novembro de 2020.
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Com o vencimento de opções sobre o Ibovespa, o giro financeiro foi a R$ 35,8 bilhões na sessão. Na semana, o índice cede 2,40% e, no mês, perde 0,67% – no ano, o recuo é de 6,62%. Entre o fechamento de segunda e o desta quarta-feira, a variação da referência da B3, agora negativa, corresponde a 331 pontos.
“Os mercados acabaram se firmando no negativo, e o Ibovespa se inclinou também, após ter oscilado entre altas e baixas ao longo do dia. Recessão nos Estados Unidos tem sido o grande tema, e o dado de inflação foi o grande destaque da sessão, com um movimento generalizado de alta nos preços (ao consumidor). Um relatório de inflação de forma geral ruim, que aumenta as apostas de Fed mais agressivo já na reunião de julho”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.
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Na ponta do Ibovespa, destaque para Ambev (+5,66%), Carrefour Brasil (+3,29%) e Natura (+2,93%), com 3R Petroleum (-5,55%), Qualicorp (-4,40%) e Rede D´Or (-4,31%) no lado oposto. A sessão também foi negativa para os grandes bancos (Bradesco PN -2,28%, mínima do dia no fechamento; Santander -1,55%), e ao fim positivo para Petrobras (ON +0,43%, PN +0,07%), mesmo com o Brent abaixo dos US$ 100 por barril desde ontem. O dia foi de leve baixa para Vale ON (-0,34%) e de alguma recuperação para a siderurgia, com CSN ON (+0,91%) à frente.
O foco dos mercados globais nesta quarta-feira esteve no índice de inflação ao consumidor nos EUA em junho, com nova leitura acima do esperado – e a maior taxa anual desde novembro de 1981. O resultado reforça a perspectiva de que o Federal Reserve precisará elevar os juros de forma ainda mais agressiva até o fim do ano para enfrentar a resiliente inflação, apesar dos sinais de desaceleração econômica.
“A inflação ao consumidor nos EUA atingiu 9,1% em junho, no acumulado em 12 meses. O núcleo, que exclui preços de alimentação e energia (considerados itens voláteis), mostrou alta de 0,7% (no mês) e de 5,9% em 12 meses. O dado reforça a postura ‘hawkish’ do Federal Reserve. Coloca ‘lenha na fogueira’ para elevação do ritmo (de aumento) dos juros em setembro, para 100 pontos-base. Aí que mora o risco, se eventualmente os juros nos EUA encerrarão 2022 muito acima dos 4% já precificados”, observa Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
“Os dados de inflação nos EUA reforçam a expectativa por uma alta de 0,75 ponto porcentual agora em julho. O próprio presidente americano tem dito que inflação é o desafio mais urgente deles, o que é também o discurso do Federal Reserve, mesmo que signifique a atividade ir para baixo. O mercado de trabalho americano está extremamente aquecido, há espaço para pesarem a mão contra a inflação, com juros mais altos”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
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“Dados inflacionários piores do que o esperado ancoram as expectativas por taxas de juros ainda mais apertadas. Um aumento de 75 pontos-base na próxima reunião já estava dado pelo Fed. E agora há a possibilidade de que tal aumento se repita também sem setembro. Mas o aumento de 100 pontos-base na taxa de juros do Canadá, em grau inesperado, pode mexer no ‘forward guidance’ dos demais BCs, com muita incerteza ainda sobre a inflação, mês após mês”, ressalva Victor Hugo Israel, especialista em renda variável da Blue3.
Assim, nesta tarde, o mercado já embutia 69,0% de probabilidade do Federal Reserve elevar os juros em 100 pontos-base na decisão do próximo dia 27, em comparação a 31,0%, dos que se posicionam para alta de 75 p.b. na mesma reunião. No final da manhã, havia equilíbrio nas apostas: 51,1% e 48,9%, respectivamente, conforme os dados da ferramenta de monitoramento do CME Group.
O aumento “surpreendente” de 100 p.b. na taxa básica de juros pelo Banco Central do Canadá pode pressionar o Fed a “seguir o exemplo”, avalia o banco ING. Apesar disso, o banco holandês mantém a previsão de 75 p.b. para a decisão de 27 de julho, do BC americano.
Por sua vez, a consultoria Capital Economics observa que a decisão do BC canadense de aumentar a taxa básica de juros para 2,5% ao ano – o primeiro movimento desta magnitude desde agosto de 1998 – teve como objetivo “adiantar o caminho para taxas de juros mais altas”, em vez de alcançar um valor final para o juro do país. Embora a autoridade monetária do Canadá tenha dito que “continua a julgar que as taxas de juros precisarão subir ainda mais”, diz a Capital Economics, não forneceu nenhuma atualização sobre onde espera que a taxa básica termine.
Na agenda brasileira, os dados do varejo também surpreenderam negativamente. “As vendas no varejo ampliado variaram 0,2% m/m e -0,7% a/a, bem abaixo da nossa estimativa (+2,2% a/a)”, aponta em nota a Terra Investimentos. “Já o varejo restrito – excluindo ‘autos e peças’ e ‘material de construção’ – variou 0,1% m/m e -0,2% a/a, também abaixo da nossa estimativa (+2,9% a/a)”, acrescenta a casa.
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