- Com Lula eleito, chegou a vez de a escolha da composição ministerial do governo petista disputar as atenções do mercado
- Até que a composição ministerial seja oficialmente divulgada, o mercado financeiro projeta oscilações na Bolsa
- Especialistas explicam preferências do mercado, de Meirelles a Haddad, mas apostam em cenário intermediário ligado a governadores do PT no Nordeste
Com Luiz Inácio Lula da Silva eleito para governar o País pelos próximos quatro anos, chegou a vez de a escolha da composição ministerial do novo governo disputar as atenções do mercado. A bolsa de apostas ainda está aberta, enquanto membros do PT dão poucos indícios sobre possíveis nomes e a equipe de transição faz a opção por pessoas de diferentes visões econômicas.
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As preocupações dos analistas e investidores giram em torno principalmente do comando dos ministérios da Fazenda e Planejamento, que foram unificados no governo Bolsonaro mas devem ser separados novamente no Lula 3. Para 2023, os novos ministros terão que negociar com o Congresso e o Senado medidas importantes para acomodar novos gastos, como a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600, em um cenário fiscal apertado.
Por isso, até que a composição ministerial seja oficialmente divulgada, o mercado financeiro projeta oscilações na Bolsa à medida que reage às notícias divulgadas pela nova administração. Nesta reportagem, o gestor Luis Stuhlberger diz ver ‘com preocupação’ sinalizações da equipe de Lula.
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José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, explica que há três possibilidades principais: a de nomeação de um ministro com perfil econômico ortodoxo, a de indicação de um membro do PT com experiência em administração pública, ou de um perfil desenvolvimentista, como foi nos governos de Dilma Rousseff.
“A primeira enviaria aos investidores uma mensagem importante e geraria uma reação positiva no início do governo. Na segunda, a reação seria neutra, tipo esperar para ver”, diz o economista. Já a terceira possibilidade é a que mais preocupa e poderia causar uma reação bastante negativa nos mercados.
Pensando nisso, o E-Investidor conversou com analistas para entender, até aqui, quais parecem ser os nomes favoritos para a Fazenda e como o mercado avalia cada cenário.
Nas duas pontas, Meirelles e Haddad
Entre todos os nomes que já foram ventilados até aqui para assumir o ministério da Fazenda em 2023, o de Henrique Meirelles é o preferido do mercado. O ex-ministro e ex-presidente do Banco Central declarou apoio público a Lula logo após o resultado do 1º turno e, desde então, há uma expectativa de que o terceiro mandato do petista possa contar com a presença de Meirelles em algum cargo de relevância.
O administrador é tido como alguém com passe livre entre o mercado financeiro e empresarial, que seria capaz de trazer para o governo nomes de fora do PT e de maior credibilidade, principalmente tendo em vista o grande desafio fiscal em discussão no Congresso. “Meirelles é a pessoa que tem mais credibilidade junto ao pessoal que será fundamental para fazer as coisas darem certo, principalmente porque estamos discutindo um waiver de pelo menos R$ 100 bi”, destaca Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos.
Se nomeado, o nome seria recebido com euforia na Bolsa de valores. Mas apesar de ser o cenário preferido do mercado, o retorno do ex-ministro à Fazenda parece distante. Enquanto Meirelles é criador e defensor do Teto de Gastos, Lula e outros setores do PT defendem mudar o arcabouço fiscal do País.
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Em entrevista à Jovem Pan na segunda-feira (7), Meirelles disse que não está no páreo para ser ministro. A declaração gerou volatilidade na Bolsa e fez o Ibovespa ceder 2,38% no dia, à medida que surgiam boatos de que o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad pudesse ser a aposta do PT para a Fazenda.
Segundo os analistas, este seria o pior cenário entre os nomes ventilados até aqui e pode voltar a causar baixas na B3 e fortalecimento do dólar.
Mário Lima, analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors, explica que, além de ter ideias econômicas que não agradam o mercado, o perfil de Haddad não gera confiança em termos de formação de equipe nem de força política para aprovar as medidas no Congresso.“Se Haddad for indicado, dá muito a impressão de que é um aceno do PT a um quadro político que tem grandes chances de ser um sucessor do Lula, mas que está sem função no partido. Se é um governo que quer reestruturar o Brasil para além do PT, é um aceno na direção contrária”, diz.
Outros nomes do PT
Enquanto parte das atenções se divide entre as especulações em torno de Meirelles e Haddad nos ministérios ligados à economia do País, um outro cenário mais ligado a nomes do PT no Nordeste ganha força. É o caso de Wellington Dias, ex-governador e senador eleito pelo Piauí; Camilo Santana, ex-governador e senador eleito pelo Ceará; e Rui Costa, atual governador da Bahia.
Três nomes que a Warren Renascença está monitorando de perto como aqueles que parecem ter hoje maior chance de ganhar o controle da pasta econômica. “São nomes que vem do PT, têm perfil político e já têm uma vivência do Executivo, o que não é nada simples e pode fazer sentido, dado o cenário de muita dificuldade no que diz respeito a negociações no Congresso”, explica Erich Decat.
Mas o head de análise política destaca: por mais que talvez tenham uma aceitação maior do que o próprio Haddad, não são nomes que agradariam o mercado financeiro, uma vez que seguem o raciocínio do partido de acabar com o Teto de Gastos.
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Entre os três, Mário Lima, da Medley Advisors, destaca o atual governador da Bahia. Com o mandato encerrando ao final de 2022, Rui Costa ficaria livre para assumir um cargo no governo de Lula sem precisar desfalcar a base aliada do novo presidente, como no caso de Wellington Dias e Camilo Santana, que serão peças importantes no Senado.
Além disso, em seu período no comando do governo baiano, Costa se destacou por uma gestão mais austera, realizando até algumas privatizações no estado. “De todos os nomes que vem do PT, me parece que é o que poderia ganhar um voto de confiança do mercado. Atenderia a esse perfil de bom político e lembraria muito o Palocci no primeiro mandato de Lula”, diz Lima.
Um último nome, que vem ganhando destaque e poderia surpreender positivamente o mercado, é o do próprio vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB). Apesar de não ser o mais cotado para assumir alguns dos ministérios da Economia, seu papel de destaque na transição também está sendo monitorado pela Warren. “Na última semana, passamos a olhar com muita atenção para o Alckmin”, diz Decat.
Na coordenação da transição, o vice-presidente vai assumir várias frentes bastante espinhosas de negociação do orçamento com os parlamentares, uma função que pode habilitá-lo ao cargo de ministro. “Ele teria uma aceitação muito melhor no mercado, tendo em vista que representa essa inclinação do Lula ao centro”, afirma o head da Warren.
Se o PT quiser manter o controle da Fazenda dentro do partido sem que isso desagrade completamente o mercado financeiro, terá que abrir mão do Planejamento. “O que o mercado financeiro espera, caso este cenário de um integrante do PT com perfil político prevaleça como ministro na Fazenda, é que haja um contraponto no futuro ministro do Planejamento”, pontua Erich Decat.
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Ou, até mesmo, mesclar nomes do partido com outros mais ligados ao centro. Um movimento que já vem acontecendo na transição de governo liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
Nesta terça-feira (8), os economistas Pérsio Arida, André Lara Resende, Guilherme Mello e Nelson Barbosa foram anunciados por Alckmin para o núcleo de economia na transição de governo. Apesar de relevantes na montagem da agenda econômica, as fontes não acreditam que estes nomes sejam os mais cotados para o ministérios.
O head da Warren Renascença explica que ainda não existem nomes no radar para assumir a pasta do Planejamento, mas que deve ser uma construção para além do PT. “Um exemplo disso é que, ao mesmo tempo que convidaram o Arida e o Lara Resende, também chamaram o Guilherme Mello, um contraponto aos outros economistas liberais que foram convidados. Por aí, dá para ver que os nomes vão conversar com vários setores pensantes da economia”, explica.
Na visão de Flávio Conde, da Levante, o movimento contrário também agradaria o mercado. Caso os cargos mais importantes como a Fazenda, a Secretaria do Tesouro Nacional, a presidência do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica fiquem nas mãos de economistas de mercado, como Meirelles, Pérsio Arida ou Lara Resende, o Planejamento poderia ficar com um nome do PT.
“É um ministério que tem tudo a ver por exemplo com o nome do Haddad, que é uma pessoa mais acadêmica, com visão de médio e longo prazo. Assim como o do Wellington Dias, que foi muito bem ao liderar o Nordeste no consórcio da vacina e os governadores nas discussões relativas à reforma tributária”, diz o analista. “Se fosse o Meirelles na Fazenda e o Haddad no Planejamento, o mercado inteiro iria bater palma”.
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