A Genial rebaixou a recomendação para as ações da Americanas de compra para venda e reduziu o preço-alvo de R$ 28,40 para R$ 9,40, diante do fato relevante divulgado ontem dando conta de um impacto de R$ 20 bilhões em inconsistências contábeis no balanço da companhia e da renúncia dos recém-empossados Sérgio Rial (CEO) e André Covre (CFO).
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A corretora afirmou que, como se não bastasse a notícia ‘preocupante’ que a repentina renúncia (dos executivos) poderia trazer ao mercado, ela veio acompanhada de uma ‘potencial fraude contábil’. O rombo corresponde a 1,8 vez o valor de mercado que a companhia registrava no fechamento do dia de ontem.
“A primeira impressão é a pior possível, tanto na questão de governança corporativa, quanto na contábil”, escrevem os analistas Iago Souza, Igor Guedes e Vinicius Esteves.
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A Genial acredita que o problema estaria nas operações de financiamento de compras com fornecedores. A companhia realizava operações chamadas de Risco Sacado, onde repassa a responsabilidade do pagamento a fornecedores para instituições financeiras e que, por sua vez, reduziria a conta de Fornecedores no passivo, que no balanço do terceiro trimestre teve seu valor declarado em R$ 5 bilhões.
Mas, na sua avaliação, a companhia deveria reconhecer o valor que negociou em Risco Sacado dentro da conta de Empréstimos e Financiamentos. Assim, o passivo total não deveria diminuir, ele apenas mudaria de lugar no balanço, uma vez que o prazo é renegociado e alongado em relação ao que a empresa pagaria ao fornecedor versus o que ela vai pagar a instituição financeira. Por esse alongamento de prazo, as instituições financeiras cobram juros, o que caracterizaria a operação como um financiamento.
Como a Americanas passa a dever as instituições financeiras e não a fornecedores, os números fidedignos não estariam sendo refletidos no balanço, uma vez que os valores negociados nessas operações não tramitaram em sua integralidade pela conta de Empréstimos e Financiamentos. Não se sabe, segundo os analistas, até o momento, o quanto dos R$ 20 bilhões de fato estão fora do balanço e qual a parte desse valor estará sujeito a reclassificação de contas.
O relatório diz ainda que a reprecificação do balanço poderia estourar os covenants, aumentar consideravelmente a alavancagem financeira da companhia, forçando a negociação com os debenturistas, o que possivelmente causaria a rolagem da dívida a taxas maiores e um severo rebaixamento de rating das agências de rating. Também pode abrir espaço para uma chamada de capital de seus principais controladores.
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Para a corretora, a descoberta dessa inconsistência deve causar um mau humor em relação ao setor de varejo e-commerce, uma vez que os investidores irão se questionar se outras empresas estariam adotando as mesmas práticas contábeis da Americanas.
Além disso, a saída de Rial dá a entender que as extensões do ocorrido terão graves impactos na geração de valor da companhia. “Acreditávamos que a figura do Rial como cabeça no managment trazia uma confiabilidade em relação à capacidade de execução dos projetos de expansão da Americanas para os próximos anos. Com sua saída, além dos próprios impactos negativos em termos de resultados e da falta de confiabilidade na governança corporativa que investidores terão no case, vemos esse brilho se apagando.”
A Genial explica que a atualização do preço-alvo leva em conta um cenário onde as reclassificações das inconsistências causariam uma retração de 25% do montante de R$ 20 bilhões no Enterprise Value da companhia, somadas a maiores pressões de capital de giro consumindo caixa e a atualização das premissas macroeconômicas. O novo preço alvo representa um potencial de queda da ação de 21,14% sobre o fechamento de ontem, e pode ser revisado, segundo a corretora, de acordo com a divulgação de mais informações sobre o caso.