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Americanas (AMER3): como o mercado vê as contestações da lista de credores

Deutsche Bank e BV apareceram entre os credores, mas os bancos dizem que informações estão erradas

Americanas (AMER3): como o mercado vê as contestações da lista de credores
Fachada das Lojas Americanas. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
  • Doze instituições financeiras são credoras de mais da metade da dívida da Americanas. Contudo, pelo menos dois delas contestaram as informações apresentadas
  • As declarações dos dois bancos geraram certa insegurança no mercado. Para Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos, a lista fica menos confiável

Duas semanas após anunciar a descoberta de “inconsistências contábeis” em seus balanços, a Americanas (AMER3) enviou à Justiça a aguardada lista de credores. A relação contava com 7,7 mil nomes, totalizando uma dívida de R$ 41,2 bilhões, e foi enviada pela varejista na quarta-feira (25), no âmbito do processo de recuperação judicial.

Mais da metade deste valor seria de dívidas da Americanas com 12 instituições financeiras. Contudo, pelo menos duas delas contestaram as informações apresentadas.

Apesar de constar como principal credor da varejista entre as instituições financeiras, o Deutsche Bank esclareceu, em comunicado, que sua exposição à Americanas é indireta. “O Deutsche Bank não foi afetado, pois não tem relação de empréstimo nem qualquer exposição de crédito à empresa”, afirmou ao Estadão/Broadcast

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O banco BV (antigo Votorantim) também soltou um comunicado ao mercado afirmando que o valor elencado pela Americanas, de R$ 3,3 bilhões, não reflete a realidade.

Segundo a instituição financeira, no dia que o escândalo contábil veio à tona, em 11 de janeiro, o banco era credor de Cédulas de Crédito Bancário devidas pela Americanas com saldo de apenas R$ 206 milhões. “Americanas tratou, incorretamente, o banco BV como credor de operações coordenadas pelo banco, ao longo do tempo, de estruturação de captação de recursos pela Americanas junto a investidores”, explica o BV. Isto é, a Americanas contabilizou títulos de dívida estruturados pelo BV como créditos devidos ao banco.

As declarações dos dois bancos geraram certa insegurança no mercado. Para Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos, a lista fica menos confiável. Ele ressalta que nos casos do Deutsche e BV, os valores das dívidas continuam os mesmos, só os credores que são alterados – em vez dos bancos, os investidores que compraram os título

“A instituição que faz a emissão distribui para clientes institucionais e pessoas físicas. Mas o montante, se bem apurado, em tese não muda – só muda o credor. Chama a atenção a rapidez com que foi descoberto e divulgado a lista de credores, que se mostrou bem maior que o reportado nos balanços”, afirma Pompermaier.

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Entretanto, os erros podem ser menos graves do que aparentam. Douglas Duek, economista, especialista em reestruturação financeira de empresas e recuperação judicial, afirma que esse tipo de equívoco é bem comum em recuperações judiciais. Inclusive, haverá o momento no processo em que os credores podem contestar os valores apresentados. “Super normal, previsto em lei: a empresa mostra o crédito, o credor mostra a divergência, e se chega a um ponto principal”, aponta.

O especialista também ressalta que não se trata de um equívoco nas interpretações financeiras ou mais uma “confusão contábil”, mas um erro na montagem do pedido de recuperação judicial – que foi feito às pressas.

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, também não acredita que a Americanas forneceria dados totalmente incorretos. “Me parece mais algo administrativo mesmo, sem impacto muito grande, aparentemente”, afirma.

Próximos passos

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, afirma que  o mercado estará atento aos balanços dos bancos, que devem começar a provisionar (fazer uma reserva financeira para inadimplência) parte da dívida da Americanas. Desta forma, será possível ter uma dimensão melhor de qual a exposição de cada instituição financeira.

Para Fábio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research, a solução para as dívidas da Americanas ainda não foi apresentada. Paralelamente, a disputa entre os bancos e a varejista na Justiça só aprofundam o problema.

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“A Americanas vai ter que fazer muita mudança em seu negócio, se não fechar de vez”, afirma Sobreira, da Harami. “O ideal seria que existisse uma força conjunta para recuperar a empresa, mas como há suspeita de fraude, de má fé, os bancos estão mais suscetíveis a ir para justiça. Estão se sentindo lesados.”

Fabio Alperowitch, gestor da FAMA Investimentos, gestora especializada em ESG (sigla para boas práticas ambientais, sociais e de governança), vê a Americanas envolta em uma conjuntura derivada da própria cultura tóxica da companhia – de ganância, “atalhos”, e objetivos puramente financistas.

A gestora deixou de investir em AMER3 já em 2019, pela relação “nada sadia” que a varejista mantinha com seus fornecedores, “opacidade” dos resultados financeiros e dificuldade de acesso à companhia.Ainda assim, a varejista era listada no Novo Mercado, segmento considerado de mais alto nível de governança corporativa do mercado brasileiro, e ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).

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