A Ágora Investimentos e o Bradesco BBI avaliam que os planos da Petrobras com a Equinor para construir projetos de geração eólica offshore podem afetar a distribuição de dividendos da estatal. A estimativa é que a parceria das empresas possa diminuir o pagamento de dividendos em pelo menos 23% nos próximos cinco anos.
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Em relatório publicado hoje, Ágora e BBI descrevem que a Petrobras informou ter assinado uma carta de intenções com a Equinor para que possam avaliar a viabilidade técnica, econômica e ambiental de sete projetos de geração de energia eólica offshore na costa brasileira. Estas terão potencial para gerar até 14,5 GW, o equivalente a 8% da atual capacidade instalada de geração do Brasil.
“A energia eólica offshore é um dos riscos de capex (investimentos) que sinalizamos em nossos relatórios recentes. A referência de capex para desenvolver a energia eólica offshore na Europa é de US$ 3 milhões/MW de capacidade, mas no Brasil pode ser maior”, avaliam os analistas Vicente Falanga, do BBI, e Ricardo França, da Ágora. Isso significa que o projeto pode exigir a implantação de capex de pelo menos US$ 44 bilhões a serem gastos em cinco a sete anos. Assumindo uma parceria 50/50 com a Equinor, este projeto por si só aumentaria o programa de capex de cinco anos da Petrobras em pelo menos US$ 22 bilhões, calculam.
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Se de acordo com a atual política de dividendos da Petrobras a estimativa é que eles totalizem US$ 97 bilhões em cinco anos, o projeto com a Equinor “por si só poderia reduzir os pagamentos esperados em pelo menos 23% neste período”, dizem os analistas. “Notavelmente, a Petrobras provavelmente anunciará outros projetos, como outras parcerias eólicas offshore, complexos petroquímicos, refinarias, fábricas de fertilizantes, entre outros”, acrescentam.
O relatório ainda avalia que as TIRs (taxas de retorno internas) consolidadas da Petrobras “provavelmente tenderão para baixo”. Segundo os analistas, as TIRs do negócio do pré-sal estão próximas de 30% em dólar, assumindo um preço de longo prazo do Brent de US$ 70/barril, enquanto, as TIRs para novos projetos eólicos renováveis onshore estão abaixo do custo de capital para a maioria, dado que nos últimos seis a oito meses os preços da eletricidade despencaram devido ao excesso de oferta de geração.
“Se a Petrobras empregar tanto capital em energia eólica offshore, uma vez que a demanda/preços de eletricidade não suportarão esses novos projetos, as TIRs marginais bloqueadas pela Petrobras podem ser menores no futuro”, afirmam Falanga e França.
Com isso, eles consideram que a percepção de avaliação da Petrobras vai se deteriorar. “Devido a TIR mais baixa e aos pagamentos de dividendos mais baixos, a avaliação da Petrobras começará a ser maior em comparação com as empresas que estão pressionando mais pelos esforços de transição. É o caso da BP e da Shell, por exemplo, que negociam em média a 3,1x EV/EBITDA 2023, enquanto empresas como Exxon e Chevron (mais focadas em O&G) negociam a 5,8x. É quase um desconto de 50% na avaliação”, descreve o relatório.
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Por outro lado, Ágora e BBI destacam que as empresas de embarcações de apoio offshore (OSV) podem se beneficiar. “A atividade pode aquecer ainda mais a demanda por OSVs, beneficiando empresas como a Oceanpact”.