- Desde 2020, 76 companhias abriram capital na B3
- Mediana do retorno das ações de companhias que fizeram IPO na bolsa até o dia 6 de abril foi de -55,02%
- Embora esteja amadurecendo, o mercado de capitais brasileiro ainda representa risco e é preciso analisar o desempenho das principais companhias e seus desempenhos pós-IPO
O ano de 2022 ficou marcado pela ausência de IPOs na B3, como são chamadas as ofertas públicas de ações em bolsa. Trata-se de um marco que não era registrado desde 1998. E, ao que tudo indica, o cenário neste ano não deve ser muito distinto. Com incertezas pairando sobre a economia, é certo que o crescimento das companhias será mais tímido. Até aqui, não tivemos nenhuma abertura de capital e devemos assim seguir até o final deste trimestre.
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Tomando esse panorama como ponto de partida, me propus a olhar para o desempenho dos papéis das empresas que surfaram o boom de IPOs dos anos de 2020 e 2021.
Sem dúvida, esse salto de IPOs reflete certo amadurecimento do mercado de capitais brasileiro. É natural, por exemplo, que com mais empresas abrindo capital na bolsa, tenhamos maior liquidez desse mercado como um todo, uma vez que há mais investidores interessados em comprar e vender ações – movimento refletido em um número elevado e crescente de negociações.
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Desde 2020, 76 companhias abriram capital na B3, três das quais acabaram fechando-o ou descontinuando as ações do IPO de lá para cá – Mosaico, Focus ON e Modalmais, esta última descontinuando a ação oriunda do IPO (UNIT) e por esse motivo não entrou na amostra, visto que não é possivel calcular a rentabilidade desde o IPO.
A maior parte das empresas, onze desse total, são do setor de Programas e Serviços, sete são Incorporadoras e quatro são os setores com quatro IPOs – Agricultura; Serviços Médicos, Hospitalares, Análises e Diagnósticos; Serviços Diversos e, por fim, Medicamentos.
Os destaques pós-IPO
Se avaliarmos as 73 empresas desse grupo hoje ativas na B3, verificamos que a mediana do retorno de seus respectivos papéis, da oferta pública de cada uma delas até o dia 6 de abril, foi de -55,02%. A média, por sua vez, foi de -37,3%. A companhia com pior desempenho foi a Espaçolaser, cujos ativos caíram 94,44%. No outro extremo, temos o Assaí com o melhor desempenho, apresentando um avanço de 371,3%.
Uma vez que os IPOs foram emitidos em datas diferentes, para uma análise mais equilibrada, efetuamos um novo cálculo, que apresenta o prêmio dessas ofertas públicas em relação ao Ibovespa. Nesse comparativo, a mediana dos papéis dessas 73 companhias tiveram uma queda em 42,10 pontos porcentuais (p.p.) em relação ao principal índice da B3, enquanto a média ficou em 26,50 p. p. negativos.
Sob essa análise, das 73 companhias listadas, 56 tiveram desempenho negativo até aqui, contra apenas 17 com resultados positivos. O pior desempenho ficou por conta da Estapar, com 116,75 pontos porcentuais abaixo do Ibovespa e o Assaí se manteve com a melhor performance, com 379,66 p.p. acima do Ibovespa desde a oferta inicial do papel na B3.
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Pois bem, feita essa introdução inicial que apresenta uma fotografia dos IPOs brasileiros realizados nos anos de 2020 e 2021, acho que vale olharmos para os papéis que pior performaram de lá pra cá.
Empresa | Ticker | Data do IPO | Retorno desde o IPO (em %) | Prêmio x IBOV (em p.p.) |
Estapar | ALPK3 | 14/05/20 | -89,1 | -116,7 |
Sequoia Log | SEQL3 | 06/10/20 | -87,1 | -92,5 |
Enjoei | ENJU3 | 06/11/20 | -91,7 | -91,6 |
Espacolaser | ESPA3 | 29/01/21 | -94,4 | -82,1 |
D1000vfarma | DMVF3 | 07/08/20 | -80,6 | -78,7 |
*Até 6 de abril de 2023
Cinco ações tiveram quedas superiores a 90% e, não à toa, essas companhias registraram prejuízos acumulados da ordem de R$ 348 milhões de acordo com seus últimos e respectivos relatórios entregues à CVM. Além da já citada Espaçolaser, integram essa lista a Dotz SA, Westwing, Enjoei e TC – coincidência ou não, as duas últimas integram o setor de Programas e Serviço, segmento que prevalece, inclusive, quando ampliada a análise dos 10 piores – desses, seis são representantes desse grupo.
O segmento de Programas e Serviços é composto, sobretudo, por empresas de forte base tecnológica. Além de uma competição crescente e acirrada, tais companhias parecem agregar uma série de fatores que contribuem fortemente para a instabilidade de suas ações.
A maior exposição à ciclicidade do mercado, desafios e altos custos tecnológicos em termos de desenvolvimento e manutenção de softwares e plataformas e, ainda, eventuais desempenhos financeiros insuficientes ao longo de sua história são alguns dos pontos que podem impactar negativamente o valor de mercado dessas companhias e o desempenho de seus papéis na B3.
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Na lanterna entre as empresas aqui analisadas, a Espaçolaser (ESPA3) fez seu IPO em fevereiro de 2020 e desde então tem enfrentado uma série de dificuldades para estabelecer um bom desempenho. Além da forte concorrência que sofre no setor de estética, a empresa foi duramente impactada pela pandemia, que a obrigou a suspender suas atividades por um longo período. Seu papel foi listado a R$ 17,27 (valor ajustado por proventos) e atualmente vale R$ 0,96.
A empresa de programas de fidelidade Dotz (DOTZ3), por sua vez, abriu seu IPO em maio de 2021, com seu papel ofertado a R$ 13,20. Atualmente, sua ação vale R$ 0,80. A pandemia e a entrada de novos concorrentes nesse mercado também podem ajudar a explicar essa queda.
Em fevereiro de 2021, a alemã Westwing, abriu seu capital na B3. A companhia atua com a venda de móveis e decoração via e-commerce, principalmente. Em seu IPO, suas ações chegaram à marca de R$ 13 e, no dia 6 de abril, eram negociadas a R$ 1,04. Já a Enjoei, e-commerce de produtos usados, teve seu papel ofertado a R$10,25 em novembro de 2020, quando chegou à B3 e hoje vê o seu valor derretido a meros R$ 0,85.
A crescente concorrência e uma série de desafios relativos à logística são fatores que decaem sobre o desempenho das duas empresas. No caso da Westwing, pesa ainda os anseios por sua expansão internacional, desejo que resvala em inúmeras diferenças culturais e regulatórias, nem sempre positivas.
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Por fim, temos o Traders Club, empresa brasileira que atua no mercado financeiro, fornecendo conteúdo e ferramentas para investidores. A companhia teve seu IPO em julho de 2021. Na ocasião, seus papéis eram negociados a R$ 9,50 e hoje estão em R$ 0,93. Apesar de atuar em um mercado com grande potencial de crescimento, o TC enfrenta uma forte concorrência no mercado de educação financeira e ferramentas para investidores, tanto de empresas estabelecidas quanto de novos entrantes, o que dificulta sua capacidade de crescimento e aumento de market share.
Feita essa análise, é preciso dizer que ainda que tenhamos inúmeras razões para comemorar o amadurecimento do mercado de capitais em nosso país, é preciso olhar para essa conjuntura com alguma prudência. De modo geral, os IPOs também apresentam riscos.
Existe sempre a possibilidade de superavaliação de empresas nesse instante, seguida da falta de liquidez em algumas ações após o período de oferta inicial. Algo que, infelizmente, é mais regra do que gostaríamos como apontam os números.