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Juro alto afasta IPOs nos EUA e abertura de capital despenca 80%

Segundo dados da Avenue, apenas 181 IPOs foram registrados nas bolsas norte-americanas no ano passado

Juro alto afasta IPOs nos EUA e abertura de capital despenca 80%
IPOs estão escassos na bolsa brasileira em 2023 (Foto: Envato Elements)
  • Em 2022, as bolsas norte-americanas registraram apenas 181 ofertas públicas de capital
  • Já em 2021, esse número era de 1035 IPOs em virtude da expansão monetária nos mercados durante a pandemia da covid-19
  • Para 2023, o ambiente ainda segue desafiador para a abertura de capital nos EUA mesmo com a pausa dos reajustes da taxa de juros

Há 12 meses, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, decidiu elevar a taxa de juros do país pela primeira vez desde 2018. De lá para cá, foram oito aumentos consecutivos até chegar ao patamar dos 4,5% a 4,75%, o maior nível dos últimos 16 anos.

Em um ambiente mais hostil para a tomada de risco, as ofertas públicas de ações (IPOs) nas bolsas norte-americanas caíram 82% em um ano. Segundo dados da Avenue, apenas 181 IPOs foram registrados nos EUA no ano passado. O número é bem menor quando comparado com 2021. Na época, a oferta chegou a 1.035.

A grande diferença pode até ser explicada pela expansão de crédito que os mercados acompanharam durante a pandemia da covid-19 com uma forma de estimular a economia após os períodos de lockdown. O problema é que o efeito dessa medida trouxe um aumento da inflação na economia, o que exigiu que o Fed adotasse uma política de aperto monetário ainda mais severo a partir de março de 2022.

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“As maiores taxas de juros expandem as taxas de desconto que os investidores passam a exigir, comprimindo valuations e as expectativas de crescimento e lucratividade das empresas. Isso faz com que as empresas de capital fechado não vejam o cenário tão vantajoso para a abertura de capital”, diz Rodrigo Lima, analista de investimentos da Stake.

Essa realidade influencia na aversão ao risco e estimula os investidores a migrarem o capital para os ativos de renda fixa, que conseguem entrar uma rentabilidade semelhante ao da taxa de juros com um menor risco. E se olharmos para o período pré-pandemia, os efeitos dessa política mais severa de aperto monetário se tornam ainda mais evidentes. Ainda de acordo com a Avenue, o número de IPOs no ano passado foi 22% menor do que em 2019, quando a taxa de juros estava na faixa de 1%.

Os números consideram tanto a estreia de companhias na bolsa de valores, quanto de SPACs (Companhia com Propósito Especial de Aquisição, tradução livre), uma modalidade de oferta pública, bastante popular nos Estados Unidos.

Veja o número de IPOs nos Estados Unidos desde 2018

Ano Estados Unidos
2018 255
2019 232
2020 480
2021 1035
2022 181
2023* 27
Fonte: Guilherme Zanin, analista da Avenue/*Os dados são parciais e correspondem a abertura de capital até a data 13/03/2023

O que esperar para 2023?

Até o momento, as bolsas americanas registraram apenas 27 IPOs, segundo dados da Avenue. O problema é que o ambiente ainda segue nada propício para a abertura de capital, mesmo com as apostas para um alívio no ciclo de aperto monetário no país. Portanto, a probabilidade de ter um cenário semelhante ao de 2022 ou até pior aumenta.

“Ainda que haja um corte modesto no segundo semestre, os juros vão continuar em um patamar contracionista por mais tempo. Pelo menos essa é a mensagem do Fed para trazer a inflação para a meta”, diz Guilherme Bellizzi, estrategista de BDRs do Santander.

Desde a falência de Silicon Valley Bank e Signature Bank no último fim de semana, o mercado aposta em uma elevação de 0% a 0,25% na taxa de juros na próxima reunião do Fed, que vai acontecer nos dias 21 e 22 de março. “Eu não me surpreenderia se o Fed não elevar a taxa de juros porque ‘não se apaga fogo jogando gasolina'”, diz Marcelo Cabral, CEO da Stratton Capital.

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Essa possibilidade se torna evidente devido ao “clima” instalado pela falência dos dois bancos. De acordo com Cabral, há um receio do mercado que problemas semelhantes possam surgir nos próximos meses. “Os bancos estão sob pressão, vão ficar mais retraídos para a concessão de crédito e o mercado ficar mais averso ao risco. E isso prejudica o mercado de IPOs”, acrescenta Cabral.

E se considerarmos uma linearidade na abertura de capital para os próximos trimestres, a partir dos dados prévios da Avenue de 2023, o mercado financeiro dos EUA pode encerrar o ano com apenas 108 IPOs, o que representaria uma queda de 40% em relação ao ano passado. Os números revelariam o pessimismo no ambiente econômico para a tomada de risco. Por outro lado, as companhias que decidirem estreiar na bolsa mesmo com um cenário desafiador seriam aquelas empresas consideradas “maduras” no seu negócio.

“Geralmente, são empresas que estão dispostas a ter um menor valor de mercado, mas que já são lucrativas e resistentes. Estão indo ao mercado para não emitir bonds (títulos de crédito privado, como as debêntures) e, sim, encontrar sócios para os seus negócios”, afirma Guilherme Zanin, analista da Avenue.

Desta forma, a tendência é que as ações dessas companhias que abriram capital recentemente (desde 2022) sofram com perdas significativas diante do cenário macroeconômico desafiador. Desde janeiro do ano passado, o ETF IPO, por exemplo, acumula uma desvalorização de 52,5% até o pregão desta quinta-feira (16), enquanto o SP&500 sofreu uma queda de 16,9% durante o mesmo período.

Por outro lado, essa desvalorização pode representar uma oportunidade de investimento. Para Bellizzi, estrategista de BDRs do Santander, o investidor exposto ou interessado em expor o seu portfólio no mercado internacional precisa manter o foco nos retornos de longo prazo. Segundo ele, embora há chances da economia dos Estados Unidos entrar em uma recessão, existem várias companhias com tendências seculares. Ou seja, com um horizonte de crescimento consistente.

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“O Google e a Meta são exemplos de democratização da publicidade digital, enquanto a Amazon se destaca no avanço do e-commerce e da computação em nuvem. Então, são empresas que, embora possam ter um lucro baixo no curto prazo, possuem uma trajetória de crescimento no longo prazo”, afirma.

Em resumo, o investidor precisa ter paciência e manter o foco nas projeções de retorno financeiro futuro, quando o cenário macroeconômico poderá voltar a ser atrativo para a tomada de risco.

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