- Inflação, taxa de juros e conjuntura internacional têm sustentado um momento de otimismo no início de abril
- O arcabouço fiscal também gerou maior estabilidade para os ativos de risco, embora a regra não seja vista como perfeita pelo mercado
- Neste momento, o Brasil vive uma expectativa de queda de juros e de um “pouso suave” da economia e do crescimento. Porém, de acordo com a teoria do Dolar Smile, podemos estar caminhando para um momento de recessão muito em breve
O mês de abriltem sido marcado por uma recuperação dos ativos do Brasil. Vejo alguns vetores suportando este movimento, alguns estruturais, alguns mais pontuais. Vamos a eles:
- Um IPCA (inflação medida pelo IBGE) dando sinais mais consistentes de arrefecimento, com um qualitativo menos negativo;
- Uma ancoragem das taxas de juros, que acabou se consolidando com a divulgação do último IPCA e a ajuda da divulgação do novo Arcabouço Fiscal;
- Um mercado tecnicamente “leve”, com pouca alocação a bolsa do Brasil e muitos fundos multimercados “vendidos” (apostando na queda ) em bolsa brasileira;
- Preços e valuations dos ativos locais em níveis historicamente baixos;
- Um ambiente internacional de alta das bolsas e das commodities, além de forte fechamento recente de taxas de juros nas economias desenvolvidas, o que deixou o mercado no Brasil mais atrativos no relativo aos seus pares;
- Um Arcabouço Fiscal que não é ideal (ou perfeito/utópico), mas que retira riscos de cauda do horizonte (mais detalhes a seguir). Como disse Luis Stuhlberger, gestor do famoso Fundo Verde: “O plano consegue ser pior que o necessário e melhor que o temido”;
- A China vem divulgando dados de crédito e atividade econômica fortes, saudáveis e (na média) acima das expectativas, o que aponta para algum ímpeto adicional ao crescimento do país. Isso acaba dando suporte, mesmo que pontual, para os ativos que dependem da demanda chinesa, como Minério de Ferro e seus derivados.
Esses são alguns de vários pontos que podem estar dando impulso ao movimento positivo dos ativos brasileiros. Ainda me parece cedo para afirmar que estamos diante de uma mudança definitiva de tendência.
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Todavia, como tenho insistido nos últimos meses, uma eventual queda saudável dos juros no Brasil pode ser um vetor muito importante para uma eventual reprecificação positiva dos ativos locais. Ainda vejo diversos riscos, locais e externos, mas começo a ver uma conjunção de fatores menos negativos para os ativos locais, mesmo que pontualmente.
Uma parte do movimento parece ter acontecido nas últimas semanas. O movimento não será linear e teremos bastante volatilidade ao longo do caminho, mas há sinais mais construtivos para o preço dos ativos brasileiros.
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Em relação a divulgação do Novo Arcabouço Fiscal, o modelo apresentado não é o melhor modelo do mundo. Certamente será de difícil execução. Outras opções existiam. Contudo, na atual conjuntura, com os mercados locais em níveis historicamente atrativos, com valuations (na média) baixos e uma posição técnica saudável, não surpreende totalmente que o mercado tenha se animado, em um primeiro momento, com este anúncio.
Qualquer Arcabouço seria de difícil execução. O próprio Teto do Gastos, que sempre foi visto como um excelente avanço institucional, se mostrou frágil em um momento de maior incerteza para o País. Dito isso, a proposta parece de simples entendimento e a matemática, a princípio, funciona, com todos os seus desafios e “poréns”.
Que fique claro, não estou ficando mais otimista estruturalmente, mas entendo que este era um tema sensível de curto-prazo, que terá sido endereçado em um caminho razoável, mesmo que não perfeito (ou utópico).
As condições de contorno do mercado internacional também estão mais favoráveis aos ativos do Brasil, que viviam a incerteza do fiscal, e vinham com desempenho relativo pior do que os seus pares. A China segue dando sinais positivos de crescimento, as taxas de juros no mundo desenvolvido recuaram, as commodities apresentaram recuperação recente e ainda não há sinais de desaceleração do crescimento global. Menos juros, com crescimento ainda saudável costuma ser um pano de fundo positivo para Brasil.
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No cenário internacional, gosto de olhar a teoria do “Dollar Smile” (sorriso do dólar), desenvolvida por um antigo estrategista do Morgan Stanley, Stephen Jen, para descrever o ambiente atual.
Na parte a esquerda do “sorriso” a economia está saudável e robusta. A inflação ainda é alta, mas com crescimento significativo, o que acaba dando uma sustentação ao dólar no mundo. Uma alta nas taxas de juros, na maior parte das vezes, acaba afetando negativamente os ativos de risco, como vimos ao longo de 2022.
Conforme o ciclo caminha à direta do “sorriso”, ele passa pelo vale, onde a economia está desacelerando, ainda saudável, sem recessão, porém com sinais mais positivos de arrefecimento da inflação. Neste momento, o dólar se enfraquece e os ativos de risco apresentam bom desempenho, pois existe a expectativa de queda de juros e de um “pouso suave” da economia e do crescimento. Acredito que estamos nesta fase do ciclo.
Um pouco mais à direita, contudo, a economia desacelera mais fortemente, geralmente com inflação cadente (mas não necessariamente). A desaceleração pode virar uma recessão. A economia perde suporte e o cenário vira uma aversão a risco mais clássica. Neste ambiente, o dólar se fortalece. Em algum momento do ciclo, acredito que poderemos entrar nesta fase, mas ainda não parece que estamos nele.
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Sigo com uma visão ainda cautelosa com o cenário global como um todo. Há esperanças para o Brasil, mas muita coisa ainda precisa ser feita. Alguns indicadores recentes, locais e externos, certamente deram conforto para o bom desempenho dos ativos de risco nas últimas 4 a 5 semanas.
De qualquer forma, não podemos perder de vista o cenário estrutural, de 12 a 18 meses, em que os desafios a serem transpostos continuam elevados.
*As análises e opiniões são pessoais e não representam uma visão institucional.
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