O que este conteúdo fez por você?
- Iniciamos o ano de 2023 com uma interessante janela de oportunidade proveniente do cenário global, que poderia estar sendo melhor aproveitada, pelo menos por ora, pelo novo governo brasileiro
- No contexto internacional, a janela positiva deveria estar sendo usada pelo Brasil para sinalizar um caminho de ajustes e prosperidade, e não sinais trocados que trazem mais incertezas e baixa visibilidade
- O Brasil precisa fazer o seu dever de casa para estar bem posicionado quando essa janela positiva externa começar a se fechar
Iniciamos o ano de 2023 com uma interessante janela de oportunidade proveniente do cenário global, que poderia estar sendo melhor aproveitada, pelo menos por ora, pelo novo governo brasileiro.
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Na China, a reabertura econômica e social anunciada no final de 2022 e implementada no inicio deste novo ano ocorreu muito antes do que o mercado esperava (muitos achavam que só iria ocorrer no final do primeiro trimestre do ano), de maneira muito mais rápida do que a postura do governo chinês vinha sinalizando até então.
A despeito deste trágico período, que não pode ser ignorado, precisamos focar no cenário econômico. Os investidores fizeram analogias ao que foi visto no Ocidente e concluíram que a reabertura chinesa, após um breve período de desafios, poderia conviver de maneira mais estrutural com uma normalidade econômica e social.
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Isso deveria levar a uma recuperação do consumo e, em certa medida, aos investimentos e ao crescimento em geral. Assim, este vetor de reabertura da China está marcando um começo de ano de forte alta das commodities e recuperação dos ativos mais dependentes da demanda chinesa, como moedas de países exportadores de commodities, assim como alta de ações de empresas com receitas provenientes da China.
Esta janela de reabertura da China traz um importante suporte ao Brasil, país que acaba sendo bastante ajudado pela alta no preço das commodities e pelo alivio das condições financeiras provenientes do país asiático.
Do outro lado do oceano, sinais de acomodação da inflação nos EUA levaram a uma reprecificação da curva de juros americana. As taxas de 10 anos saíram de 4,5% para 3,5%, um movimento relevante de fechamento de juros e um item que acaba trazendo enorme alivio das condições financeiras globais.
Este é mais um vetor que acaba garantindo algum tempo para que países alavancados como o Brasil e que precisam de ajustes econômicos possam trabalhar com alguma tranquilidade – pelo menos de curto prazo – para ajustar suas condições.
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Neste momento, contudo, o cenário econômico para o Brasil ainda se mostra de baixa visibilidade e muitos ruídos. Do lado concreto, vimos ser aprovada uma PEC de Transição de cerca de R$ 200 bi, que deveria levar um superávit fiscal de cerca de 1,5% do PIB para um déficit de 1,5% PIB em 2023.
Este é um número inaceitável e insustentável para um pais que precisa reduzir sua relação de divida/PIB de maneira estrutural.
As medidas anunciadas pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para recuperar parte desta perda de resultado fiscal são os primeiros passos na direção correta. Entretanto, são medidas insuficientes. Muitas delas não são críveis ou de implementação simples. Outras estão superestimadas. Grande parte dessas medidas são pontuais e não estruturais.
Há um acumulo de sinais de que uma desaceleração do crescimento já está em curso. A inflação mostra alguma acomodação, mas seu nível ainda e incompatível com a meta de inflação do País.
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Os investidores continuam mostrando boa vontade em entender qual será o caminho de ajuste econômico e fiscal que este novo governo irá seguir. Todavia, as declarações desencontradas entre equipes dentro do próprio governo adicionam uma incerteza a mais ao ambiente econômico do pais.As incertezas levam a um recuo dos investimentos e do consumo que resultam na desaceleração do crescimento. Menos crescimento dificulta o ajuste das contas publicas e reduzem a sustentabilidade da divida, afastando os investidores institucionais e internacionais.
No contexto internacional, a janela positiva deveria estar sendo usada pelo Brasil para sinalizar um caminho de ajustes e prosperidade, e não sinais trocados que trazem mais incertezas e baixa visibilidade.
A janela positiva internacional pode ter vida curta. Uma eventual recessão pode acabar assolando os EUA nos próximos 12 meses. Ainda há enormes duvidas em relação à sustentabilidade da recuperação da China no longo prazo. O recuo da inflação nos EUA no mundo desenvolvido ainda está em estágio inicial e pode ser insuficiente para garantir juros mais baixos nos próximos meses.
O Brasil precisa fazer o seu dever de casa para estar bem posicionado quando essa janela positiva externa começar a se fechar. Ainda há tempo.
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