As taxas dos contratos de juros futuros fecharam praticamente de lado nesta sexta-feira, 5, em um dia de ajuste de posições após a semana de decisões de política monetária no Brasil, Estados Unidos e Europa. Apesar da forte valorização do real e do Ibovespa, os DIs encerraram o pregão com leves quedas nos trechos curto, médio e longo da curva.
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Na comparação com o ajuste de ontem, o DI para janeiro de 2024 recuou 1,2 pontos-base, de 13,207% para 13,195%, mesmo movimento visto nas taxas para janeiro de 2025 (11,760% para 11,680%) e janeiro de 2027 (11,484% para 11,435%). No trecho longo da curva, o contrato para janeiro de 2029 ficou praticamente estável, com baixa de 0,7 pontos-base (11,837% para 11,830%).
O comportamento dos juros domésticos acabou descolado dos rendimentos dos Treasuries, que avançaram durante o dia, refletindo o alívio de temores com o setor bancário dos Estados Unidos e a surpresa com os dados do payroll de abril. O relatório de empregos americano mostrou criação de 253 mil postos de trabalho no mês passado, acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de 185 mil.
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Diante do consenso do mercado de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pausou o ciclo de aperto monetário na última quarta-feira, os dados do payroll acabaram sendo vistos como um sinal de que os EUA podem escapar de uma recessão este ano, o que aumentou o apetite global por risco, que ajudou a amparar a valorização do real e do Ibovespa na sessão.
“A gente teve um movimento de tomada de risco no mercado financeiro e, aqui no Brasil, o dólar renovou mínimas, o que ajuda a justificar esse movimento de queda dos DIs mais curtos”, afirma a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
A estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patrícia Pereira, avalia que declarações do presidente do Fed de St. Louis, Jim Bullard, ajudaram a diminuir o impacto do payroll na curva local. Visto como nome hawkish no BC americano, Bullard destacou durante a tarde avaliar que um mercado de trabalho apertado não significa “exatamente” alta da inflação, e disse que o controle dos preços não envolve necessariamente o aumento do desemprego.
A agenda doméstica esvaziada também ajuda a explicar o viés de estabilidade dos DIs, segundo a estrategista. Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na Inglaterra para participar da coroação do rei Charles III, enquanto o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), está em viagem aos Estados Unidos. “Em dias sem notícias, a tendência é o mercado ficar de lado”, diz Pereira.
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Na comparação com o ajuste da última sexta-feira, 28, o DI para janeiro de 2024 mostrou leve viés de queda, com baixa de 9,9 pontos-base. O recuo foi maior nos vértices de janeiro de 2025 (-37 pontos-base) e janeiro de 2027 (-37,5 pontos-base). Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, o comportamento dos juros na semana mostra que a leitura de manutenção da Selic em nível alto por mais tempo continua.
“Ainda há uma inclinação negativa da curva de juros, com a parte curta mais pressionada do que a parte longa, por causa da leitura de que o BC não vai ter espaço para cortar a Selic agora, mas que essa política não é sustentável e, ao longo do tempo, os cortes virão”, diz Padovani. “O mercado está lendo que não tem espaço para cortes no curto prazo, e por isso vemos uma queda pequena dos juros, mesmo com o dólar caindo bem.”