- Com as expectativas para o início do corte de juros no 2º semestre, a tendência é que as ações se valorizarem nos próximos meses
- Por esse motivo, o momento é visto como ideal para investir em ações. No entanto, para ela, o investidor deve respeitar o seu perfil de risco ao aproveitar as oportunidades
- Marília Fontes é sócia-fundadora da Nord Research e possui 12 anos de experiência de mercado financeiro
O cenário parece ideal para o investidor encontrar oportunidades na renda variável. Com projeções para o início da queda dos juros no próximo semestre, a expectativa é que as ações se valorizem na bolsa quando o Banco Central realizar o primeiro corte na taxa Selic.
Leia também
Apesar das oportunidades em vista, Marília Fontes, co-fundadora da Nord Research e colunista do E-Investidor, não aconselha expor 100% do patrimônio em renda variável. “Há imprevistos que acontecem e não podemos expor tanto o nosso patrimônio aos riscos. O investidor deve alocar em renda variável aquilo que é compatível ao seu nível de abertura ao risco”, afirma.
O restante do portfólio deve ser aplicado em ativos de renda fixa que costumam oferecer proteção ao patrimônio mesmo com o início do ciclo de cortes da taxa de juros. “A renda fixa sempre vai ter um papel importante no portfólio do investidor porque funciona como controle de risco”, diz.
Publicidade
Veja os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – A ata do Copom mais recente sinalizou que o mercado não possui mais incertezas associadas a cenários extremos de crescimento da dívida pública. O que ainda falta para o BC iniciar o corte da taxa de juros?
Marilia Fontes – Não é só ter um arcabouço fiscal. É ter um arcabouço fiscal crível que possa retomar uma trajetória de queda da dívida pública. O que é negociado no Congresso agora é inferior ao teto de gastos (atual regra para o controle das contas públicas) na questão de mecanismos para obrigar a realização de alguns cortes caso a regra não se cumpra. Esse plano não gerou o efeito de credibilidade que o Banco Central esperava. Por isso, o órgão informou que a relação entre o arcabouço e a política monetária não é mecânica. Ou seja, o que importa é ter uma regra que garanta uma queda na trajetória de dívida/PIB (Produto Interno Bruto).
Houve uma pressão de parlamentares para que o texto detalhasse regras mais duras caso o governo não consiga cumprir a meta fiscal. Se o texto aprovado pelo Congresso incluir esses dispositivos, o mercado pode projetar um cenário fiscal melhor para os próximos anos?
Publicidade
Se o texto sair mais rígido nesse sentido, eu acho que será muito positivo. O mercado deve reagir positivamente e fica até mais provável o espaço de queda de juros ainda neste ano.
Com a expectativa para o início de cortes de juros no segundo semestre, o momento ideal de investir na Bolsa é agora?
O fato é que não teremos mais ciclos de alta e vamos começar a ter queda. Quando isso acontecem sabemos que as ações performam muito bem. Por mais que ainda haja dúvidas de quando vai começar, já sabemos que esse movimento vai acontecer. Agora, as empresas estão muito baratas, o que representa um excelente momento para compras. O investidor vai pegar boas companhias a múltiplos bem baratos e vai conseguir antecipar esse momento de ciclo de queda de juros, quando as ações devem valorizar bastante.
Quais são as ações e/ou setores que os investidores devem priorizar?
Publicidade
Gosto das empresas de crescimento (companhias que ainda não atingiram o seu potencial de desenvolvimento no mercado. Ou seja, o seu negócio ainda pode crescer) que são mais sensíveis à política monetária, porque foram as que mais sofreram nos últimos dois anos. Tivemos companhias de crescimento em que as ações caíram 80%. Acredito que essas companhias serão as campeãs desse ciclo de quedas, assim como os bancos e petroleiras.
O que o investidor precisa ficar atento ao buscar ações de crescimento?
Tomaria cuidado com as ações que fizeram IPOs nos últimos anos e prometeram crescimento. O problema delas é que não estão crescendo, ou seja, o investidor precisa olhar para as empresas que estão entregando crescimento de fato. Alguns exemplos são: o banco Inter (INBR32), o BTG Pactual (BPAC11), a 3R Petroleum (RRRP3) e a MRV (MRVE3).
E como ficam os ativos de renda fixa? É hora de rever o portfólio?
Publicidade
A renda fixa sempre vai ter um papel importante no portfólio do investidor porque funciona como controle de risco. Por mais que eu ache interessante investir em bolsa, não é bom investir 100% em renda variável. Há imprevistos que acontecem e não podemos expor tanto o nosso patrimônio aos riscos. O investidor deve alocar em renda variável aquilo que é compatível ao seu nível de abertura ao risco. O resto deve ficar em renda fixa.
Com o início de queda nos juros, quais produtos de renda fixa não podem sair da carteira?
Gosto dos títulos de IPCA+ porque performam bem no cenário quando o governo consegue suas aprovações e em momentos de queda de juros. Esses títulos também entregaram boa rentabilidade em um cenário com taxas de juros mais baixas, enquanto os prefixados não performaram tão bem.