O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 24, em baixa de 0,37%, cotado a R$ 4,9540, na contramão do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior, em meio à aversão ao risco desencadeada pelo impasse em torno do aumento do teto da dívida dos EUA. Mais uma vez, houve oscilação bem contida, de pouco mais de três centavos, entre máxima (R$ 4,9678), na abertura, e mínima (R$ 4,9358), ainda pela manhã.
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Analistas atribuíram o desempenho do real à aprovação, no fim da noite de ontem, do texto-base do projeto de lei do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados por ampla margem (372 votos a favor, 108 contrários e uma abstenção). A perspectiva é que a proposta seja apreciada rapidamente também pelo Senado. Embora ainda seja alvo de críticas de ala relevante de economistas, por ser ancorado em aumento de receitas, o chamado novo marco fiscal diminui as incertezas sobre a trajetória das contas públicas no curto prazo.
“O mercado recebeu bem a votação favorável ao arcabouço com um número de votos ainda superior ao de aprovação da urgência da matéria”, afirma Bruno Martins, sócio e gestor da Armor Capital. “A boa performance do peso mexicano, principal par do real, também ajudou. No entanto, seguimos nesse ‘range’ entre R$ 4,95 e R$ 5,00”.
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Dados divulgados pelo Banco Central hoje à tarde mostram que o apetite por ativos domésticos segue baixo. Em maio, até dia 19, o fluxo cambial é negativo em US$ 3,151 bilhões, graças a saídas líquidas de US$ 5,446 bilhões pelo canal financeiro. Pelo comércio exterior, houve entrada líquida de US$ 2,296 bilhões.
O texto final do relator do arcabouço, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), trouxe ajuste de redação, condicionando o aumento de gastos no ano que vem ao crescimento da receita. Na versão original do relatório, o crescimento real da despesa seria de 2,5%, o máximo permitido pela nova regra – o que, segundo cálculos de economistas, abriria brecha para ampliação de R$ 80 bilhões em gastos nos próximos dois anos. Com a mudança no texto, o limite de despesas para 2024 será calculado com base na variação de 70% da receita acumulada em meses até junho deste ano.
“O arcabouço fiscal trouxe um bom humor ao mercado local. Esse pacote agrada e deve funcionar no curto prazo. Os problemas ficam mais para 2026 e 2027”, afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, para quem a questão fiscal deve agora ficar em segundo plano. “O real ainda é o melhor ativo para ter no Brasil e deve seguir se apreciando”.
Divulgada à tarde, a ata do encontro de política monetária do Federal Reserve em maio não trouxe surpresas. Houve alertas para a lentidão do processo de desinflação. Há dúvidas, contudo, sobre o nível apropriado da extensão do processo de alta de juros. Mais uma vez, o BC americano reiterou que não vê espaço para queda da taxa neste ano. Ferramenta da CME mostra que, após a divulgação da ata, as chances de manutenção dos Fed Funds em junho voltaram a superar 70%.
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O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, observa que o estresse com o teto da dívida nos EUA provocou uma alta das taxas dos Treasuries e do dólar em relação a divisas emergentes nas últimas semanas. “Mas o real manteve-se relativamente valorizado na vizinhança de R$ 4,95, bem abaixo do valor justo de R$ 5,05 que calculamos para o curto prazo”, afirma, em relatório, Maciel, que vê a queda da volatilidade da taxa de câmbio e a apreciação do real como reflexos do otimismo com o arcabouço fiscal, mesmo “aquém dos modelos ideais”.