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Comportamento

Messi e CR7 fazem parte de plano multibilionário da Arábia Saudita; entenda

A magnitude de seus gastos fez com o reino fosse notado pela elite mundial

Messi e CR7 fazem parte de plano multibilionário da Arábia Saudita; entenda
Lionel Messi. Foto: REUTERS/Bernadett Szabo
  • O reino está supostamente disposto a pagar US$ 400 milhões por ano para o maestro argentino Lionel Messi pelo crepúsculo de sua carreira
  • A Arábia Saudita espera que os gastos, apoiados pelo excesso de receita gerada como maior exportador de petróleo do mundo, animem sua crescente geração mais jovem e turbinem seu setor de turismo
  • O fluxo repentino de eventos esportivos e culturais é popular no país, que até bem pouco tempo impunha regras proibindo homens e mulheres de se misturarem em locais públicos

A conta da Arábia Saudita referente ao uso de ícones da cultura popular ocidental para reforçar sua importância e influência no cenário global em breve pode aumentar.

O reino está supostamente disposto a pagar US$ 400 milhões por ano para o maestro argentino Lionel Messi pelo crepúsculo de sua carreira. Embora seja um valor enorme, mesmo para os padrões inflados do futebol, é apenas a mais recente de uma série de movimentações dos governantes do petroestado, que estão investindo bilhões em esportes, arte e música.

A Arábia Saudita espera que os gastos, apoiados pelo excesso de receita gerada como maior exportador de petróleo do mundo, animem sua crescente geração mais jovem e turbinem seu setor de turismo. Os críticos dizem que as iniciativas têm como objetivo envernizar uma imagem internacional desgastada por uma guerra brutal no Iêmen e pelo assassinato do dissidente saudita Jamal Khashoggi em 2018.

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Supervisionando esse chamado jogo de soft power está o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, conhecido como MBS, que está, ao mesmo tempo, gastando bilhões na criação de recursos militares da Arábia Saudita, com o que hoje é o quinto maior orçamento de armas do mundo, e seguindo um caminho diplomático mais oportunista que posiciona Riad em conflito com Washington.

“É uma reorientação completa do reino”, disse Kristin Smith Diwan, pesquisadora sênior residente no Arab Gulf States Institute, em Washington. “Eles querem convencer as pessoas de que este é um lugar acolhedor, não ameaçador.”

A magnitude de seus gastos tornou a Arábia Saudita impossível de ser ignorada pela elite política e empresarial do mundo. A economia do reino foi uma daquelas com crescimento mais rápido do G20 no ano passado, impulsionado pelos preços mais altos do petróleo em cerca de uma década; e atualmente conta com o sétimo maior fundo soberano, movimentando bilhões tanto em casa como no exterior.

Os ativos esportivos têm ocupado o topo da lista de aquisições.

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No fim de 2022, o português e astro do futebol Cristiano Ronaldo assinou um contrato com o Al-Nassr no valor de US$ 200 milhões por ano. Pouco mais de um ano antes, o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita liderou um consórcio para adquirir o Newcastle United, clube da Premier League do Reino Unido, por cerca de £ 300 milhões. A Arábia Saudita está considerando uma candidatura conjunta para sediar a Copa do Mundo da FIFA de 2030, depois de testemunhar o recente sucesso do torneio no vizinho Catar.

Segundo relatos, o Fundo de Investimento Público também destinou bilhões de dólares para financiar seu torneio profissional de golfe, o LIV Golf, que atraiu estrelas como Phil Mickelson e Dustin Johnson, e no ano passado considerou uma aposta de US$ 20 bilhões para adicionar um GP da Fórmula 1 à sua cada vez maior carteira de investimentos esportivos.

Em instalações em Jidá e Riad e nos arredores, o país têm sediado lutas de boxe milionárias de todas as categorias, envolvendo desde os campeões peso-pesado Anthony Joshua e Oleksandr Usyk, até os lutadores promissores Jake Paul e Tommy Fury.

“O esporte é essencial para o que a Arábia Saudita está fazendo conforme avança em direção a um mundo em que o país é menos dependente das receitas do petróleo”, disse Simon Chadwick, professor de economia do esporte e geopolítica na Skema Business School, em Paris.

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A Arábia Saudita quer que o turismo represente 10% de seu produto interno bruto em 2030, nessa altura o país espera atrair 100 milhões de visitantes por ano. Em 2022, o reino recebeu cerca de 16 milhões de visitantes, incluindo turistas, viajantes de negócios, aqueles que vieram visitar parentes que vivem no país e muçulmanos estrangeiros durante o hajj, peregrinação até Meca, disse um representante da Autoridade do Turismo Saudita em uma entrevista coletiva em Dubai este mês.

Para alcançar sua meta, a Arábia Saudita não tem se limitado aos esportes profissionais. De uma exposição de Andy Warhol, Bienal de Arte e shows de música eletrônica no deserto, a restaurantes de chefs famosos em Riad e parcerias com as principais escolas de culinária, o país está gastando bastante para criar uma indústria de entretenimento e lazer do zero.

Os hotéis de luxo Aman Resorts e Banyan Tree já foram atraídos por Al-Ula, uma antiga cidade que funcionava como oásis no noroeste da Arábia Saudita, que está sendo transformada em um destino de viagem de luxo com um orçamento de US$ 35 bilhões. As estrelas da música pop americana Alicia Keys, Mariah Carey e John Legend se apresentaram recentemente por lá.

Phillip Jones, diretor de turismo da Comissão Real do país para Al-Ula, disse que, embora alguns artistas ainda se recusem a visitar o reino, o dinheiro de investidores experientes está na Arábia Saudita em busca de oportunidades de investimento. “Eles reconhecem que este país está prestes a explodir em termos de crescimento da capacidade financeira”, disse ele.

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E não é apenas o setor privado. Nos últimos anos, o Reino Unido e a França assinaram acordos de cooperação cultural com a Arábia Saudita.

O fluxo repentino de eventos esportivos e culturais é popular no país, que até bem pouco tempo impunha regras proibindo homens e mulheres de se misturarem em locais públicos. Essa mudança drástica coloca a estratégia da Arábia Saudita “num nível muito maior” que a de seus vizinhos do Golfo, como os Emirados Árabes Unidos, que também se abriram à cultura ocidental, segundo Lina Khatib, diretora do SOAS Middle East Institute.

Mas nem todo mundo está comprando a aposta. Ativistas dizem que a Arábia Saudita está desviando a atenção de um histórico precário de liberdade de expressão e outros direitos humanos no país.

“Fico feliz que essas mudanças estejam acontecendo, mas elas dão uma falsa impressão sobre o nosso país”, disse Lina Al-Hathloul, chefe de monitoramento e defesa da organização em prol dos direitos humanos ALQST, em Bruxelas, a respeito do projeto de soft power de MBS. Ela disse que assim que essa estratégia de usar a cultura, o esporte e as artes para melhorar a reputação do príncipe herdeiro e conquistar investidores e visitantes ocidentais gerar dividendos, “as violações que apontamos não serão mais eficazes”.

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A irmã de Lina Al-Hathloul, Loujain Al-Hathloul, uma ativista proeminente dos direitos das mulheres na Arábia Saudita, foi detida em 2018 e depois presa sob a acusação de incitar a mudança de regime e tentar servir a agendas estrangeiras. Ela foi solta em 2021, mas está proibida de viajar.

A metamorfose de Al-Ula é apenas um projeto que alimenta o ambicioso plano Vision 2030 de MBS para reformular a economia da Arábia Saudita – algo que não é apreciado por todos no país. Pessoas do povo Howeitat foram presas por resistirem aos despejos forçados associados ao projeto gigantesco da megacidade futurística Neom e correm o risco de serem condenados à morte, disse o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos em um comunicado em 3 de maio.

Um representante da Neom não quis se posicionar. A Central de Atendimento à Imprensa Internacional do governo saudita não respondeu ao convite de posicionamento enviado pela Bloomberg.

No início deste mês, Fahd Hamidaddin, CEO da Autoridade de Turismo Saudita, liderou uma delegação que participou da feira anual Arabian Travel Market, em Dubai. Segundo ele, aquela era apenas a terceira vez que o país participava do evento, lançado há 30 anos.

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Dirigindo-se a repórteres em um hotel de luxo durante o evento, Hamidaddin sentou-se de costas para uma grande tela que exibia imagens de um Messi sorridente em suas atividades como embaixador do turismo saudita. As fotos mostravam o jogador de futebol e a família tecendo cestos, fazendo carinho em puros-sangues árabes e brincando em parques de diversões durante uma visita ao reino.

“Para aqueles que são céticos, se quiserem se esforçar para falar coisas a respeito da Arábia Saudita, encorajaria vocês a dar uma olhada nisso antes”, disse Hamidaddin no evento.

Matthew Martin, David Hellier e Nikki Ekstein, da Bloomberg, contribuíram com esta reportagem.

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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