- Não é incomum encontrarmos investidores que sonham em viver de renda
- Mas como identificar uma empresa boa pagadora de dividendos? Ante a outras modalidades de investimentos, esse é um ativo de fato interessante?
- A consistência e a regularidade por longos períodos são dois atributos que podem nos ajudar na identificação das melhores companhias pagadoras de dividendos
Não é incomum encontrarmos investidores que sonham em viver de renda, recorrendo a papéis de empresas maduras e bem estabelecidas em seus respectivos segmentos de atuação e que, em geral, costumam oscilar muito pouco, mesmo diante dos cenários mais turbulentos do mercado.
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Via de regra, esse comportamento acaba por se refletir na recorrência de distribuições de lucro – previsibilidade normalmente enxergada como uma vantagem competitiva por parte de seus acionistas.
Mas como identificar uma empresa boa pagadora de dividendos? Ante a outras modalidades de investimentos, esse é um ativo de fato interessante? Quais os prós e contras? A rentabilidade entregue de forma faseada é vantajosa?
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Pensando em todas essas questões, como de costume, resolvi olhar para os dados na busca por respostas mais assertivas.
A consistência e a regularidade por longos períodos são dois atributos que podem nos ajudar na identificação das melhores companhias pagadoras de dividendos. Com base nesse princípio, busquei junto à plataforma do TradeMap as ações que distribuíram dividendos em todos os trimestres nos últimos 5 anos – 20 trimestres no total –, e que possuem volume financeiro médio diário superior a R$ 1 milhão nos últimos 12 meses.
Aqui, vale um passo atrás. No Brasil, o pagamento de dividendos é obrigatório para as empresas listadas na B3, devendo ocorrer a cada exercício, pelo menos uma vez por ano. Essa frequência, no entanto, varia de companhia para companhia.
Muitas vezes, as empresas optam por distribuições a cada mês, trimestre ou semestre, fazendo uso desse prazo mais curto justamente com o intuito de atrair mais investidores. Para a nossa análise, consideramos apenas as empresas que distribuíram proventos em janelas trimestrais.
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De acordo com o levantamento, dentre todas as ações listadas na B3, apenas oito distribuíram dividendos em todos os 20 últimos trimestres, sendo sete do setor bancário – e aqui falamos dos três maiores bancos privados do País – e uma do setor de saúde, a Odontoprev.
Sobre cada ação, calculamos a média e a mediana desses dividendos no prazo de 20 trimestres, comparando esses valores com a média e a mediana da rentabilidade da poupança no mesmo período.
Dessas oito ações, sete possuem uma média de Dividend Yield (DY) igual ou superior à rentabilidade da poupança, que foi de 1,13% nesse intervalo. Dividend Yield, vale lembrar, é o indicador que mede a performance da empresa de acordo com os proventos pagos a seus acionistas, trazendo uma relação entre os dividendos distribuídos e o preço atual da ação da empresa.
Nessa comparação, no entanto, não consideramos a parcela de imposto de renda que os acionistas devem pagar sobre os Juros Sobre Capital Próprio (JSCP) recebidos, o que corresponde a 15% do valor recebido.
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Segundo o levantamento realizado, a ação preferencial do Santander (SANB4) apresentou a melhor média de DY nos últimos cinco anos, com 1,56% por trimestre, seguida pela Unit do próprio banco (SANB11), com 1,53%; e por sua ação ordinária (SANB3), com 1,48%.
Já a ação ordinária do Itaú Unibanco (ITUB3) registrou no período uma média de DY 1,30%, seguida pela ação ordinária do Bradesco (BBDC3), com uma média de 1,21% de DY trimestral. A ação preferencial do Bradesco (BBDC4), por sua vez, registrou DY trimestral de 1,19%, enquanto a preferencial do Itaú Unibanco (ITUB4) fechou a lista dos bancos, com 1,13% – valor bastante similar à média registrada pela poupança.
Por fim, a ação ordinária da Odontoprev (ODPV3), a única da seleção fora do setor bancário, possui uma média de Dividend Yield de 0,82% nos últimos 20 trimestres.
Feita essa análise, trago aqui uma provocação: costumeiramente, o investidor brasileiro é atraído pela distribuição de dividendos. Não faltam na imprensa e nos canais dos influenciadores de finanças rankings e mais rankings sobre as melhores pagadoras de proventos.
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Essa cultura, porém, é bastante distinta da adotada pelo mercado americano, reconhecidamente mais maduro.
Os acionistas americanos costumam preferir o crescimento da companhia à arrecadação de dividendos. Lá, há uma máxima de que ao se reinvestir os lucros que poderiam ser distribuídos, a empresa ganha corpo, mais recursos para investir em tecnologia e pessoas e, assim, tem suas ações valorizadas. É um investimento que, de alguma forma, possui uma lógica de dono – o acionista investe como se estivesse investindo em sua própria empresa.
Somente a título de curiosidade, entre 1995 e 2012, a Apple deixou de pagar proventos a seus acionistas, decisão tomada pelo fundador e então CEO Steve Jobs, que alegava que o dinheiro gerado era fundamental para o investimento em inovação na companhia. De fato, a medida contribuiu fortemente para a consolidação e estabilidade da Apple.
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Como podemos ver no gráfico abaixo, duante a gestão de Jobs a empresa atingiu crescimentos anuais raramente superados após a morte do fundador – evento que de alguma forma marcou a mudança da política de dividendos da companhia.
Olhando para o Brasil e considerando as médias de Dividend Yield que apresentamos acima, podemos dizer que as melhores pagadoras de proventos recorrentes possuem rentabilidades muito semelhantes à da poupança.
Nesse sentido, não há dúvidas de que considerado esse histórico, Santander, Itaú Unibanco e Bradesco são sérias candidatas a serem boas pagadoras de dividendos no futuro.
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Mas até que ponto essa segurança é vantajosa do ponto de vista de crescimento de capital?