O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 27, em alta de 0,67%, cotado a R$ 4,7987, na contramão do sinal predominante de queda da moeda americana em relação a divisas emergentes, em dia marcado por apetite ao risco no exterior. Operadores atribuíram o escorregão do real a um movimento de realização de lucros no mercado futuro de câmbio e na Bolsa, com provável fluxo de saída de investidores estrangeiros.
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A perspectiva de corte da taxa Selic a partir de agosto – reforçada hoje pela divulgação da ata do Copom e do IPCA-15 de junho – é vista como positiva para os ativos domésticos, incluindo o real. Analistas ressaltam que, a despeito do início iminente de um ciclo de afrouxamento monetário, as taxas reais domésticas e o diferencial de juros seguirão elevados, dando suporte à moeda brasileira no curto prazo. O IPCA-15 desacelerou de 0,51% em maio para 0,04% em junho, levemente acima da mediana de Projeções Broadcast (0,03%).
Logo após a abertura, o dólar até ensaiou uma nova rodada de baixa, descendo até o nível de R$ 4,75, ao registrar mínima a R$ 4,7517. A divisa trocou de sinal em seguida e rompeu a linha de R$ 4,80 ainda pela manhã, com máxima a R$ 4,8065 no início da tarde. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para julho teve bom giro, acima US$ 14 bilhões.
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“Tivemos um risk-off no Brasil hoje, com bolsa caindo apesar da alta forte do S&P lá fora. O que estamos vendo é algo natural, uma correção sem motivo específico, depois de um período de melhora gigantesca dos ativos locais”, afirma Rodrigo Natali, sócio da gestora de recursos Skopos. “O mercado brasileiro andou muito e muito rápido, o dólar estava no nível mais baixo em um ano, e hoje sobe bem pouco”.
Apesar do tropeço hoje, o dólar ainda acumula baixa de 5,41% no mês, o que faz o real apresentar em junho o terceiro melhor desempenho entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, atrás apenas do peso colombiano e do rand sul-africano. Com apenas mais três pregões para o encerramento de junho, o dólar apresenta a maior queda mensal no mercado doméstico desde março de 2022 (-7,65%). No ano, a moeda americana cai 9,12% ante o real.
No exterior, o índice DXY trabalhou em leve queda ao longo do dia e operava ao redor de 102,500 pontos no fim da tarde, em meio ao avanço do euro e da libra esterlina, diante da expectativa de aperto monetário mais intenso na região. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse pela manhã que a inflação segue alta e que será preciso não apenas aumentar os juros a níveis “suficientemente restritivos”, mas mantê-los elevados “pelo tempo que for necessário”.
“Estamos vendo provavelmente um ajuste técnico no mercado de câmbio local, após o forte movimento de queda nos últimos dias”, diz a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, ressaltando que, enquanto o Copom adota um tom ‘dovish’, sinalizando corte da Selic, os bancos centrais de países desenvolvidos sinalizam com mais aperto monetário.
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Por aqui, a ata do Copom trouxe um tom bem mais ameno que o do comunicado da quarta-feira passada, 21, quando a taxa Selic foi mantida em 13,75% ao ano. No parágrafo 19 do documento, o colegiado afirma que há divergência dentro do comitê sobre a “sinalização em relação aos próximos passos”, mas que a “avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.
A leitura é que já há maioria formada dentro do colegiado para iniciar um ciclo de afrouxamento monetário. Casas relevantes, como Bradesco e Itaú, que previam cortes da Selic a partir de setembro, mudaram de opinião após a ata e passaram a ver redução da taxa em agosto.