- Retornos em renda fixa que superam os 6% de ganho real são sinônimos de crise
- Mesmo com o arrefecimento da inflação no País, a rentabilidade das NTN-Bs segue forte
- Cenário reflete combinação de uma percepção pior sobre o endividamento público brasileiro com a alta das taxas de juros nos EUA
Desde setembro, os títulos do Tesouro que pagam inflação mais uma taxa de juros, as NTN-Bs, voltaram a ganhar destaque, com os papéis mais longos pagando rendimentos maiores que o CDI e o Ibovespa. Apesar de fazer a alegria dos investidores, com retornos que podem superar os 6% de ganho real, esses rendimentos mais gordos em renda fixa são sinônimos de crise.
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Analisando a janela de tempo dos últimos 20 anos, o Ibovespa superou as NTN-Bs na maior parte do tempo, com exceção dos períodos mais críticos da história recente.
O principal deles aconteceu entre 2014 e 2016, quando a inflação ao consumidor no Brasil apresentou um ciclo relevante de alta e o país enfrentou muita incerteza na política, que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e fraqueza da atividade econômica.
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Depois disso, foi durante a pandemia que as NTN-Bs voltaram a ganhar destaque, um tempo marcado por forte aversão a risco e queda na Bolsa e alta da inflação ao consumidor puxada principalmente pela desvalorização cambial e choques de oferta gerados pela pandemia.
Fiscal brasileiro e americano
Agora, mesmo com o arrefecimento da inflação no País, a rentabilidade das NTN-Bs segue forte. Segundo a economista-chefe do TC Investimentos, Marianna Costa, este novo cenário reflete a combinação de uma percepção pior sobre o endividamento público doméstico com a alta das taxas de juros dos títulos norte-americanos em níveis não observados desde 2007, fato que aumenta o déficit público naquele país na casa de centenas de bilhões de dólares.
"Na margem, o recente conflito no Oriente Médio adiciona mais um fator de incerteza, que acaba por elevar ainda mais essa parcela da aversão a risco e, portanto, pressiona as taxas pagas pelas NTN-Bs", observa.
Nesta terça (24), os papéis mais longos já estão pagando o IPCA + 6,2% de retorno para vencimento em 2045. Mesmo títulos com vencimento mais curto, em 2029, estão pagando na faixa de 5,79%, como é o caso do Tesouro IPCA + 2029.
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O rendimento mais alto é um ponto de entrada importante para os fundos de pensão e referência para os gestores de fundos de investimentos, conforme mostra essa matéria do E-Investidor. No longo prazo, um título que paga 6% de retornos reais pode superar o Ibovespa e o CDI.
Como funciona a NTN-B
Na prática, o título do Tesouro Nacional (Nota do Tesouro Nacional – Série B), rende a soma de uma taxa dada no momento da compra do título mais a inflação do período entre a compra e o vencimento do título. O índice de inflação usado é o IPCA ( Índice de Preços ao Consumidor Amplo) calculado pelo IBGE. "Neste sentido, o título pode ser considerado um ativo que garante o poder de compra ao longo do tempo", explica Costa.
A inflação e o prêmio são os dois vetores que determinam a rentabilidade do título, sendo o segundo componente a tradução percepção sobre o risco país ou risco de mercado, determinada no momento da compra do título.
Segundo ela, a percepção de risco é primordialmente dada pela perspectiva doméstica, no caso, a do endividamento público. "Quando pior for esta percepção, maior será a taxa ofertada, e ele é válido na situação inversa", diz.
Com o arcabouço fiscal (que limita o crescimento de gastos do governo brasileiro de acordo com o crescimento de receita), a maior percepção de risco, por enquanto, vem da conjuntura externa. "Parte desta taxa que compõem a segunda parcela também é dada pela percepção de risco país, que é composta tanto pelo cenário doméstico como externo, é considerado um indicador de confiança", afirma a economista.
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