- Temporada de balanços e Super-Quarta na terça fazem preço logo no início do mês
- Papéis que se beneficiam da melhora do mercado brasileiro podem mostrar melhor desempenho
- Empresas de commodities se beneficiam do preço por causa de guerra e movimentos da China
Novembro começou sob o ruído das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, colocando sob (mais) desconfiança o compromisso do governo em cumprir sua própria meta fiscal e sua capacidade de pagar a dívida pública.
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Além disso, o mês já começa com uma agenda que tem grande potencial de fazer preço nos ativos, com temporada de balanços em curso no Brasil e nos Estados Unidos e uma Super-Quarta (1º), quando haverá as decisões sobre os juros nos dois países. “A gente terá um mês bastante agitado”, resume o sócio da Multinvest, Osvaldo Moraes.
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Apesar de uma visão benigna em relação à inflação brasileira, o que deverá diminuir a pressão sobre o Banco Central (BC), o cenário macroeconômico e geopolítico segue pesando, principalmente no que diz respeito à escalada de preços na maior economia do mundo.
Com isso, os analistas que não se dizem preocupados, afirmam que estão “cautelosamente otimistas com o cenário de Bolsa local”, como avalia o chefe de inovação do TC Pandhora, Isaías Lopes.
Pró-cíclicos e bancos
Dada a maior desconfiança externa, e uma visão interna mais otimista, Lopes diz que os papéis que se beneficiam da melhora do mercado brasileiro tendem a mostrar melhor desempenho.
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Por outro lado, é esperado que as empresas mais endividadas mostrem desempenhos ruins na Bolsa e nos resultados do trimestre. “As companhias mais alavancadas vão sofrer com as despesas financeiras devido ao ainda alto nível de juros no Brasil”, contextualiza o sócio da Oriz Partners, Luiz Azevedo.
“Temos uma visão mais cautelosa em relação ao setor de varejo, mas, por outro lado, isso já está no preço. Precisamos monitorar os balanços para ver se vêm melhores ou piores”, destaca o gestor.
Com os bancos, o mesmo nível de cautela. É esperado que as instituições mais sensíveis à inadimplência sejam penalizadas após a divulgação de resultados. “A dinâmica da Bolsa em novembro será fortemente influenciada pelos resultados do terceiro trimestre das grandes empresas”, avalia Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Neste sentido, há quem espere resultados positivos. “No primeiro semestre a gente verificou balanços resilientes e a gente espera que se mantenham assim no terceiro trimestre”, diz o sócio da Finacap, Luiz Fernando Araújo. Apesar da desaceleração da economia e dos juros, diz o gestor, “a gente acredita que as empresas estão performando bem e podem trazer surpresas positivas”.
Reforma tributária no radar
No Congresso, a reforma tributária também pode acender uma luz amarela na questão do déficit público, ditando parte da volatilidade na Bolsa esperada para o mês.
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Nas discussões sobre a taxação sobre renda sairão o novo formato tributário dos fundos fechados e offshores (exterior) que mexem com a decisão dos maiores investidores. O mês ainda será marcado por dois feriadões, de Finados (2) e da República (15) que têm o potencial de arrefecer as discussões no Congresso e arrastar os temas para dezembro, mês de recesso parlamentar. “Não sei dizer se o mercado vai ficar tranquilo diante dessas incertezas”, avalia Moraes da Multinvest.
A reformulação do juros sobre capital próprio (JCP) também poderá afetar a expectativa de lucro de um grande número de empresas listadas.
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Ainda em relação à questão fiscal, o gestor da Hike Capital, Ângelo Belitardo, diz que não enxerga ganhos consistentes no Ibovespa para novembro devido à alta do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviço (ICMS) sobre combustíveis a partir de fevereiro. Ele lembra da decisão do Confaz que anunciou alta importante do tributo. “A visão otimista para a inflação doméstica está sendo ofuscada com isso”, diz o gestor.
Juros, juros e juros
Sobre os juros, as taxas norte-americanas pagando acima de 5% em títulos de 10 anos, porcentual mais alto desde a crise de 2008, ainda deverão drenar mais os recursos dos investidores internacionais, com o dinheiro na Bolsa minguando e menos gente disposta a apostar no risco.
No Brasil, as recentes declarações de Lula sobre a meta fiscal acende mais atenção sobre o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) a respeito do anúncio da taxa. Nos EUA, a resiliência da economia também deixa os olhos do mercado abertos para a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
As duas reuniões, tanto do Copom, no Brasil, quanto do Fomc (órgão americano equivalente ao Copom), nos Estados Unidos, terminam no dia 1º de novembro.
José Eduardo Daronco, analista da Suno Research, diz que a política monetária ditará os preços na Bolsa, que deverá continuar sofrendo em novembro. Na opinião dele, a renda variável vai se manter na baixa “até haver uma sinalização melhor da possibilidade dos juros caírem dos dois dígitos no Brasil”.
Commodities e os gráficos
Outro assunto que deixa os agentes financeiros com o radar ligado é a guerra no Oriente Médio, com o risco de o conflito se alastrar pela região. A instabilidade na grande região produtora seguirá fazendo preço no petróleo e beneficiando as empresas do setor.
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A China também está no radar dos analistas, mas sob uma ótica otimista, que pode indicar ganhos para os papéis ligados ao minério de ferro. Ganhos da Vale (VALE3) e outras siderúrgicas podem reduzir a pressão negativa sobre o Ibovespa, reflexo das “recentes medidas de apoio econômico ao setor de construção civil por parte do governo chinês”, destaca Belitardo da Hike Capital.
Para quem acompanha o sobe e desce das ações sob o prisma da análise técnica, é esperado que novembro traga uma performance positiva. “A recuperação é provável. Estamos vindo de três meses de queda. A Bolsa sempre tem esse movimento alternado de alta e baixa”, avalia Luiz Fernando Araújo, sócio da Finacap.
Ele lembra que o movimento de baixa foi causado principalmente pelos juros nos EUA, que forçaram a saída de capital do Brasil.