- Para os cálculos foram considerados os gastos básicos com alimentação, convênio médico, mensalidade escolar, fraldas e vacinas não disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS)
- Os gastos com um bebê dos seis meses a dois anos, por exemplo, ultrapassam os R$ 23 mi. Já com um adolescente, dos 13 aos 18 anos, o valor supera os R$ 95 mil.
- A adolescência é a fase mais cara, pois dá início aos planejamentos mínimos do futuro, com investimento em cursos preparatórios para os vestibulares, por exemplo
À medida que os filhos crescem suas necessidades também mudam e os gastos familiares precisam se ajustar. Para entender todas essas transformações, o E-investidor apurou os custos básicos para criar um filho em cada faixa etária. Os gastos com um bebê dos seis meses a dois anos, por exemplo, ultrapassam os R$ 23 mil. Já com um adolescente, dos 13 aos 18 anos, o valor supera os R$ 95 mil.
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A artesã Jovana Nogueira engravidou de sua terceira filha, Maitê, durante a crise econômica de 2015. Tanto ela quanto marido, o metalúrgico Fabiano Favero, sentiram de perto as dificuldades impostas pelo cenário financeiro nacional. Especialmente porque as montadoras foram uma das principais indústrias afetadas na época.
“Estava nos nossos planos ter um filho, mas não estávamos tão preparados financeiramente. Tínhamos acabado de casar e depois de dois meses engravidei. Mas o grande problema foi o momento que o País estava vivendo. Durante a minha gestação as preocupações só aumentavam e o desemprego batia na porta”, relembra.
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Esta é a realidade de muitos pais, pois nem todos conseguem planejar meticulosamente o orçamento para enfrentar imprevistos como a perda do emprego. Mas, segundo o especialista em finanças pessoais Adriano Gomes, sócio-diretor da Méthode Consultoria, hoje há maior preocupação e organização para assegurar ao menos o acesso à saúde, independentemente do perfil social.
“É muito comum os pais não terem plano de saúde, mas a criança sim. Eu tenho visto inclusive pessoas com menor poder aquisitivo se planejando para oferecer um plano de saúde a seus filhos. Afinal, o mais importante é a manutenção da vida dessa criança”.
Qual é o gasto mínimo necessário em cada fase?
Para os cálculos foram considerados os gastos básicos com alimentação, convênio médico, mensalidade escolar, fraldas e vacinas não disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Considerando as diferentes fases do desenvolvimento, foram divididos cinco grupos etários: do nascimento aos cinco meses, dos seis meses aos dois anos, dos três aos cinco anos, dos seis aos 12, e dos 13 aos 18 anos.
Com base nos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi apurado que o valor médio da alimentação per capita mensal das famílias brasileiras era de R$ 209,12. Mas, para refletir a realidade, esse valor foi ajustado considerando a inflação do ano de 2022, e corrigido o montante fica R$ 355,75. Enquanto para entender o preço dos planos de saúde, foi solicitada uma cotação ao corretor de seguros da LUKSEG, Leonardo Cavalcante Domingos.
E na somatória foi considerado o plano de saúde básico de menor preço. Na pesquisa de gastos com mensalidade escolar foram usados os dados do levantamento do site Quero Bolsa, que analisou mais de 7 mil instituições de ensino e seus custos em 2023. “Não se planejou? Ainda assim dá para atravessar esse período gostoso da gravidez ou nascimento de forma mais tranquila, mas é preciso ter um olho no berço e outro no Excel”, brinca o especialista em finanças.
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Do nascimento aos 5 meses: gastos básicos somam R$ 2.509,86. Durante os primeiros cinco meses a alimentação do recém nascido é basicamente o leite materno. Mas ter um filho é lidar com o inesperado, como no caso da artesã Jovana, que não conseguiu amamentar e a fórmula infantil entrou para os custos da conta do mês. Na soma de gastos das necessidades básicas desse primeiro momento foi considerado o custo com fralda, convênio e vacina. Um total de R$ 2.509,86.
É importante lembrar que o Sistema Único de Saúde (SUS) não fornece a vacina de meningite B, e os pais precisaram desembolsar R$ 1.159,82 (valor já considerado na soma de gastos básicos) . “É uma vacina bem cara e de dose dupla. Mas depois do primeiro ano o número de vacinas diminui e todas outras podem ser feitas no sistema público “, afirma a doutora e chefe do departamento de pediatria da FMABC, Denise Schoeps.
Gastos básicos dos 6 meses aos 2 anos: um total de R$ 23.912,20. A partir dos seis meses inicia a introdução alimentar e chega ao fim o período de licença das mães que trabalham. “A maioria das mães trabalham, então na hora que acaba a licença gestante pouquíssimas tem com quem deixar o bebê, ou podem optar por uma babá. Então essa criança vai pra escolinha e por ser muito pequenininha a imunidade é fraca e facilita as contaminações virais, acarretando mais custos com medicamento”, explica a pediatra.
Nessa fase o cálculo contempla alimentação, fraldas descartáveis, convênio e creche. E nesse período de 18 meses o custo atinge R$ 23.912,20.
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Gastos básicos dos 3 aos 5 anos: sem contar os custos com brinquedos, lazer, e roupas, a contabilidade dos gastos básicos (alimentação, convênio e escola) para uma criança de três a cinco anos de idade, chegaram a R$ 28.801,44.
“Nós não conseguimos fazer tudo da forma perfeita, né? E as coisas mudam a cada faixa etária. Além do fato que tudo para criança é mais caro, até os brinquedos educativos são mais caros. Nós pais temos a mania de querer oferecer o mundo”, relata a artesã. Nessa faixa etária o custo com fralda não é mais contabilizado, já que o desfralde acontece geralmente aos dois anos.
Gastos básicos dos 6 aos 12 anos: além do custo de alimentação e convênio, na fase do ensino fundamental 1 e 2, nesse período dos seis aos 12 anos, o montante bate a marca de R$ 108.596,08.
O desejo dos pais em proporcionar atividades que auxiliem as criança no seu desenvolvimento não pode se tornar motivo de frustração para os que não conseguem arcar financeiramente com mais esse investimento. Em contrapartida, os pais que querem e podem pagar por isso devem policiar uma possível sobrecarga.
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Se o filho frequenta a escola, recebe apoio nas atividades e os pais estão atentos ao seu desenvolvimento, os momentos de ócio não significam negligência com o progresso da criança. Schoeps ressalta que, às vezes, a pausa é igualmente benéfica e produtiva para o desenvolvimento da criança. “Eu como pediatra me preocupo com uma agenda muito cheia para uma criança”, diz.
Segundo a especialista, os pais sonham com o que o filho vai ser, fazer e querem dar o que eles mesmos não tiveram, ou não fizeram, e essa criança acaba ficando sobrecarregada. “Ela precisa brincar e ter tempo para não fazer nada, é produtivo para criança. E cria quando ela não está fazendo nada”, diz.
Gastos básicos dos 13 aos 18 anos: ao longo de um período de cinco anos, dos 13 aos 18, o investimento em saúde, alimentação e educação chega a R$ 95.239,56. Essa é a fase mais cara, pois dá início aos planejamentos mínimos do futuro, com investimento em cursos preparatórios para os vestibulares, por exemplo.
“Além das necessidades sociais de um adolescente, em uma fase que por si só surge uma série de fantasias e desejos em torno de roupas, eletrônicos, passeios, e isso independe da classe social”, ressalta Gomes.
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