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As novatas da Bolsa que ainda valem menos do que no IPO

Para alguns investidores, as novatas podem ter dado "um passo maior que a perna" ao lançar teses inovadoras

As novatas da Bolsa que ainda valem menos do que no IPO
Prédio da B3, a Bolsa de Valores do Brasil. (Foto: Divulgação/B3)
  • Um dos pontos que sustentou o boom de IPOs em 2021 foi o baixo nível dos juros no período
  • A maioria das empresas que abriu capital na época era de ‘crescimento’ e precisava de investimentos para alavancar, diz economista
  • Das 46 empresas que fizeram suas ofertas iniciais de ações em 2021, 35 delas valem menos do que no dia de estreia na B3 (B3SA3)

Das 46 empresas que fizeram suas ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) em 2021, 35 delas valem menos do que no dia de estreia na B3 (B3SA3). Para alguns investidores, as novatas podem ter dado “um passo maior que a perna” ao lançar suas teses inovadoras, no entanto, algumas dessas empresas argumentam que o projeto está de pé e que o break even (“ponto de equilíbrio”) das operações é vislumbrado ainda neste ano.

O chamado ponto de equilíbrio é uma marca simbólica para os investidores que apostaram na empresa. Indica que o negócio saiu do vermelho e está a caminho da lucratividade. Ganha um peso maior num cenário em que a alta dos juros tornou os recursos menos disponíveis no mercado e fundos passaram a olhar mais de perto os resultados e, não apenas a curva de crescimento. Um dos pontos que sustentou o boom de IPOs em 2021 foi o baixo nível dos juros no período, quando chegou a cair a 2% ao ano.

“A maioria das empresas que abriu capital na época era de ‘crescimento’ e precisava de investimentos para alavancar. Diante dessas características das empresas, de lá para cá alguns riscos incontroláveis do mercado, como a pandemia, o aumento de juros e a inflação oneraram o capital das companhias, levando algumas delas a mudarem a rota e atrasarem a possibilidade do break even”, disse o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti.

Virada próxima

A Dotz (DOTZ3) é uma das novatas que enxerga a virada próxima: prevê alcançar o ponto de equilíbrio no último trimestre deste ano. “A empresa está em constante evolução, são quatro trimestres consecutivos de melhora, e estamos confiantes que registraremos Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ligeiramente positivo no quarto trimestre de 2023”, afirmou a CFO, Cynthia Pinho, em entrevista ao Broadcast.

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Antes da companhia entrar na Bolsa, em maio de 2021, o seu lucro bruto somou R$ 23 milhões no primeiro trimestre, enquanto o Ebitda foi negativo em R$ 8,3 milhões. Agora em 2023, e considerando estes mesmos períodos, a Dotz reportou lucro bruto de R$ 31,6 milhões e Ebitda, também negativo, de R$ 5,9 milhões.

A empresa vem investindo na ampliação de suas frentes de negócios, deixando de ser apenas uma empresa de fidelidade. “Quando fizemos a abertura de capital, iniciamos um processo de investimento mais agressivo para construção de dois novos pilares: a digitalização, com Super App, e a parte de serviços financeiros, chamada de Techfin”, disse o co-fundador e CEO da Dotz, Roberto Chade.

Para aumentar os produtos e serviços e monetizar a base de clientes, a Dotz apostou em iniciativas como Super App e crédito – como intermediadora de outros parceiros, como financeiras e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). Já a Techfin passou a representar 25% do faturamento total da empresa no terceiro trimestre deste ano, contra uma participação de 14% no mesmo período em 2022. “Isso demonstra que a Dotz tem se tornado cada vez mais robusta e mantém todos os pilares integrados (Coalizão, Marketplace, Super App e Techfin)”, afirma Chade.

No entanto, ao migrar para a B3, a história de recuperação gradual ainda não foi embutida no papel. No primeiro pregão do mês de dezembro, a ação fechou cotada a R$ 0,99, enquanto no momento do IPO (Oferta Pública Inicial), o papel foi inicialmente negociado a R$ 13,20. Com essa desvalorização, a ação passa a integrar o grupo das chamadas “penny stocks” (quando a cotação está na casa dos centavos). A desvalorização acumulada desde a abertura de capital já alcança mais de 90%.

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O desempenho das ações não tem ligação direta com o potencial break even da empresa, mas o CEO da companhia destaca que a “queima de caixa”, que comumente é mal vista no mercado, deve ser interpretada como “investimentos”, uma vez que a Dotz fez o IPO com o intuito de aumentar o capital e aplicá-lo na nas novas frentes de negócios.

Apesar do encolhimento, Chade lembra que a base acionária é composta majoritariamente pelos acionistas controladores da Dotz, e que essa base pouco se alterou desde o IPO – Farallon, Ant Group, Softbank e Velt, mantêm-se na companhia.

A Dotz encerrou o terceiro trimestre deste ano com R$ 71 milhões de caixa líquido, um terço do que tinha no mesmo período de 2022, e com aplicações financeiras o caixa total é de R$ 125,4 milhões. Além disso, o resultado líquido foi impactado por uma reestruturação da dívida, que aumentou a despesa financeira, com prejuízo de R$ 18,7 milhões no trimestre, em linha com o trimestre anterior.

Mudança de rota

O recálculo da rota foi adotado pela loja online de móveis Mobly (MBLY3). Na época do IPO (em fevereiro de 2021), a empresa planejava crescer de forma agressiva, porém, passou a notar que a demanda por móveis foi desproporcionalmente aquecida no período da pandemia e, com o afrouxamento da restrições sanitárias, a procura ficou abaixo dos níveis normais do segmento.

“Saímos de um negócio que era puramente crescimento e queima de caixa para tentar focar em margem saudáveis, visando segurar as rédeas enquanto o mercado está depreciado. Com isso, assim que o mercado voltar ao crescimento normal ano contra ano, vamos acelerar o investimento e tentar chegar no break even de lucro líquido”, disse o head de Relações com Investidores (RI) da Mobly, Victor Chunques.

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A meta da empresa é ter Ebitda positivo e gerando caixa. Já em relação ao lucro líquido positivo, Chunques acredita que o resultado pode ser alcançado no longo prazo, dentro de quatro a cinco anos.

A TC Investimentos também está na mesma toada. A empresa disse que está dedicada a uma mudança no modelo B2C (negócio entre a empresa e o consumidor final), especialmente na área transacional da TC Investimentos. O segmento transacional envolve a plataforma do TC, que engloba a tanto a possibilidade dos indivíduos investirem nos fundos da TC Pandhora, como também acessarem conteúdos e análises sobre educação financeira.

Para efetivar essa transição, a ordem é reduzir custo, como ajustes na equipe e renegociação de contratos com fornecedores. “Essas ações resultaram em uma economia anual de R$ 60 milhões, aproximando-nos do break even”, afirmou o CEO e Fundador do TC, Pedro Albuquerque Filho.

Segundo ele, as iniciativas de 2023 foram direcionadas para acelerar o processo de alcançar o “ponto de equilíbrio”. “As economias anualizadas em cortes de custos desde o IPO da empresa já excedem R$ 100 milhões”, disse Albuquerque Filho.

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O TC abriu capital em julho de 2021 e no terceiro trimestre deste mesmo ano, o lucro líquido ajustado foi de R$ 11,897 milhão, enquanto as despesas operacionais atingiram R$ 20,8 milhões. Já em 2023 e neste mesmo período, a companhia reverteu o lucro e somou prejuízo líquido ajustado de R$ 7,206 milhões, mas reduziu as despesas operacionais para R$ 8,7 milhões.

Reflexo nas ações

Apesar dos resultados da empresa não estarem diretamente atrelados ao desempenho das ações na Bolsa, o economista-chefe da Messem observa que se o investidor passa a não ver o retorno proposto pela companhia no momento do IPO, o mercado passa a aumentar as ordens de vendas.

Dentre os IPOs de 2021, 35 empresas tiveram suas ações desvalorizadas até aqui – 10 nomes desse grupo registraram uma queda superior a 80%. Este foi o caso da Dotz (-92,50%), da Mobly (-88,70%), do TC ([TRAD3] -90,10%) e da Westwing (-89,10%). Essa última companhia abriu capital registrando um prejuízo de R$ 16,677 milhões. Reduziu as perdas no terceiro trimestre deste ano, mas ainda reporta resultado negativo, de R$ 14,644 milhões.

Segundo a Westwing, as principais iniciativas de ganhos de eficiência e melhoria de rentabilidade foram executadas durante o último trimestre, com foco na reestruturação de despesas em geral, sublocação de parte do centro de distribuição e início de fechamento de lojas deficitárias. “O break even é uma meta almejada dentro da Westwing”, afirma a analista de branding e Relações Públicas (PR) da Westwing, Bárbara Calabresi. A executiva, porém, não indica quando isso deve acontecer.

Segundo ela, a companhia continua focada em executar os seus pilares estratégicos de ganhar eficiência, preservar caixa e retomar o crescimento do volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês). “Com o objetivo de reforçar o compromisso público de redução de despesas fixas para o quarto trimestre de 2023”, acrescentou Calabresi.

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