Investimentos

Luiz Crivelenti: ‘Maioria dos brasileiros não entende os investimentos mais arrojados’

Gerente de investimentos do Sicredi explica sua visão conservadora em relação à renda fixa

Luiz Crivelenti: ‘Maioria dos brasileiros não entende os investimentos mais arrojados’
Luiz Crivelenti, gerente de investimentos do Sicredi Vale Piquiri Abcd PR/SP. Foto: Divulgação/Sicredi
  • O Sicredi é uma instituição financeira cooperativa, em que os associados têm acesso a todos os serviços de um banco comum, mas recebem participações de lucro anuais e têm poder de voto em Assembleias
  • Para Luiz Crivelenti, gerente de investimentos do Sicredi, a maioria dos brasileiros ainda não entende produtos mais arrojados de investimento. Na visão do executivo, a Poupança ainda é a aplicação mais democrática, mesmo que pouco rentável
  • Crivelenti também explica sua visão sobre ‘conflitos de interesse’ e como esse tema funciona dentro do Sicredi

Depois que as taxas de juros derreteram, os especialistas têm reforçado a importância de não deixar o patrimônio parado no investimento mais conhecido dos brasileiros. O motivo é simples. Com a Selic a 2%, a poupança tem rentabilidade de cerca de 0,11% ao mês. Considerando a inflação projetada para 2,05% ao final de 2020, os rendimentos ficam ainda mais apertados, chegando às margens negativas.

Ainda assim, a visão de Luiz Crivelenti, gerente de investimentos do Sicredi Vale Piquiri Abcd PR/SP, é outra, principalmente quando o assunto é o pequeno investidor. “Nem sempre as pessoas entendem o risco envolvido em produtos arrojados e mais complexos”, afirma.

O executivo diz ainda que uma cooperativa tem outros benefícios, diferente das plataformas de investimentos e bancos tradicionais, já que o associado recebe anualmente uma participação de lucros e tem poder de votar em Assembleia, segundo ele. Hoje, o Sicredi conta com 158 mil clientes e 88 espaços de atendimento entre São Paulo e Paraná.

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Leia a entrevista na íntegra:

 E-Investidor – Quais são os produtos de investimento que o Sicredi oferece?

Luiz Crivelenti – Temos um portfólio completo de produtos de investimentos. Partimos do produto mais conservador e popular, que é a Poupança Sicredi.

Depois temos a nossa linha de depósitos a prazo. Nessa linha, se o associado tem algum valor que ele queira investir por um prazo determinado, basta ele entrar em contato com a agência e avisar o prazo em que deseja deixar os recursos aplicados. Assim podemos discutir as possibilidades de remuneração com base na trava de resgate. Conseguimos customizar isso para o associado, diferente de muitas plataformas e bancos. Se no Sicredi o associado pode deixar aquele recurso aplicado por seis meses, nós podemos ter uma remuneração melhor. Se o cliente puder deixar aplicado por 1 ano, ou mais, podemos avançar ainda mais na remuneração. Tudo é questão de conversar com o associado, de uma forma bem próxima.

Oferecemos também a LCA [Letra de Crédito do Agronegócio],  assim como fundos de investimento, sejam eles atrelados à inflação, de crédito privado, cambial, de ações ou multimercados. Por fim, temos a parte das opções de previdência privada, em parceria com a Icatu, que hoje é uma das maiores empresas de previdência do Brasil.

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E-Investidor – Vocês enxergam a Poupança como um dos produtos mais populares, mas ela é pouco rentável em comparação a outros produtos de renda fixa. 

Crivelenti – A Poupança é muito democrática e acessível. Hoje é comum ver as pessoas falando sobre o investimento em ações, títulos públicos, fundos de investimento e etc. Tudo isso faz sentido, mas quando olhamos para a maioria dos brasileiros temos que lembrar que grande parte não entende e não tem acesso a isso. Para grande parte da população a Poupança é o produto mais acessível. Não só pela questão de valores, mas pela simplicidade. As pessoas conseguem investir na Poupança pelo caixa na agência ou por aplicativo no celular, de forma simples.

Nem sempre as pessoas entendem o risco envolvido em produtos mais arrojados, mais complexos. Talvez aquele investidor superconservador, que não tenha o entendimento mais profundo do mercado financeiro, invista em um fundo DI e ao ver os retornos negativos se pergunte: ‘poxa, mas me falaram que isso aqui não poderia ter retorno negativo’. Na Poupança isso não acontece, não tem surpresa.

E-Investidor – Então a Poupança ainda é um bom investimento, na sua visão?

Crivelenti – Sem dúvida. Principalmente olhando para dois níveis de investidor: o pequeno investidor precisa da Poupança porque é o tipo de investimento mais acessível. Esse investidor talvez tenha a necessidade de movimentar mais os recursos aplicados, ou seja, não vai ser alguém que vai colocar o dinheiro e deixar por anos. Ele precisa da Poupança porque é isento de imposto de renda, não precisa esperar tanto tempo e ele não tem surpresas. Essa é uma aplicação que vai preservar o valor de compra, que é o grande intuito da renda fixa.

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Para o grande investidor, mais arrojado, que precisa de uma carteira maior, é importante ter uma Poupança para que ele não movimente os investimentos que são mais arrojados. Temos visto, por exemplo, queda no mercado de ações em um momento em que as pessoas estão ficando desempregadas. Será que nesse período é realmente melhor vender minhas ações? Por isso é necessário ter uma Poupança ou depósito a prazo, que seja conservador, tenha liquidez e seja seguro.

E-Investidor – Como o senhor interpreta o momento que o mercado acionário está passando?

Crivelenti – Passamos dois ou três anos de excelentes retornos. Quando olhamos para o segmento de ações, por exemplo, que é mais arrojado, o mercado só subiu nos últimos anos. O mesmo acontece com os títulos públicos, prefixados e atrelados à inflação. Como houve uma queda expressiva nas taxas de juros, essas aplicações também tiveram um retorno muito positivo, porque o momento era bom.

Acontece que o mercado se movimenta em ciclos e chegamos em um momento ruim, com algumas pessoas que não conhecem essas fases ruins, muito surpreendidas. Investidores com grande parte, ou até 100% do capital, investido em ações ou em títulos de longo prazo têm visto seu capital passar por momentos de turbulência.

É muito importante que o investidor tenha a consciência da importância dos investimentos mais conservadores, como a Poupança ou até mesmo o RDC [equivalente a um CDB da cooperativa], para que não tenha um susto tão grande nos momentos ruins do mercado.

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E-Investidor – Como vocês lidam com o tema ‘Conflito de Interesse’ dentro do Sicredi?

Crivelenti – Eu vejo o Sicredi como uma das instituições mais isentas porque os nossos associados são clientes e proprietários do empreendimento. Se por algum motivo o associado perceber que a indicação feita não faz sentido, ele tem como denunciar por meio dos ‘delegados’ de cada núcleo, que são pessoas estratégicas dentro das agências. O associado participa das assembleias e também tem uma relação próxima também com os conselheiros e diretores.

E-Investidor – Como é feita remuneração dos gerentes de investimento do Sicredi?

Crivelenti – Vemos muitos modelos de negócio que beneficiam o colaborador da ponta de acordo com algumas métricas, como a venda de produtos de maior risco. Ou seja, aquele colaborador que vende o maior volume de um fundo multimercado ou possui uma taxa de administração mais elevada, recebe uma comissão maior. No Sicredi isso não existe, todos os produtos têm a mesma remuneração e são vistos de forma igual pelos colaboradores.

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