Um grupo de sete gestoras que são acionistas minoritárias da Cielo (CIEL3) afirmou, em carta enviada à companhia, que o laudo feito pelo Bank of America (BofA) para avaliar o quanto a empresa deve ser avaliada na oferta pública de aquisição (OPA) proposta pelos controladores reduziu o valor justo das ações.
Leia também
Segundo eles, um ajuste nas premissas utilizadas pelo banco elevaria o preço dos papéis dos R$ 5,35 propostos para R$ 7,89, e a comparação a outras empresas do setor listadas em Bolsa o elevaria a R$ 8,61. Sob estas premissas, o desembolso dos dois bancos sairia dos R$ 5,9 bilhões previstos na proposta original para algo entre R$ 8,7 bilhões e R$ 9,5 bilhões.
Assinam a carta a Encore, a Clave, a Mantaro, a Ibiuna Ações e a Ibiuna Macro, a XP Gestão de Recursos e a AZ Quest. Juntas, as gestoras detêm mais de 10% do capital da credenciadora, através de fundos que gerem, e pedem uma assembleia especial de acionistas para que os minoritários votem sobre um laudo alternativo ao apresentado por Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3), os controladores da Cielo, que pretendem retirar a empresa da B3.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
As gestoras afirmam que há três inconsistências na metodologia de cálculo aplicada pelo BofA: a alíquota de imposto de renda considerada seria mais alta que a efetiva; o valor dos investimentos (capex) previsto não deveria ser próximo aos de depreciação e amortização; e o cálculo não deveria incluir o aumento de despesas com as contratações de agentes comerciais que a Cielo fez no último ano.
No primeiro caso, as gestoras afirmam que a alíquota considerada foi a estatutária, de 34%, mas que no balanço da Cielo, a alíquota efetiva ficou entre 25,5% e 26,1%, porque já deduzia o pagamento de juros sobre o capital próprio feito pela companhia. Desta forma, ao considerar um pagamento de imposto maior, o laudo reduziria o valor justo da empresa, na visão dos minoritários.
No segundo, eles afirmam que a previsão de capex próxima à depreciação e amortização inclui um pagamento, por parte da Cielo, de direitos de exploração dos cartões Ourocard que a Cateno, subsidiária da companhia, detém. “Logo, equiparar o capex à Depreciação e Amortização na perpetuidade fará com que a companhia desembolse caixa por um direito de exploração já adquirido e pago no passado.”
Em relação ao terceiro ponto, as gestoras dizem que as despesas com o reforço comercial não deveriam ser incluídas no laudo porque não há, até aqui, previsão de quando se pagarão através de um aumento na receita da Cielo. Para sustentar a tese, as gestoras utilizam trechos da teleconferência de resultados da companhia referentes ao segundo trimestre do ano passado, em que a Cielo afirmou esperar um aumento de despesas de até R$ 180 milhões ao ano caso todas as 1.000 contratações previstas fossem feitas.
Publicidade
Mudanças nessas premissas para os parâmetros que o grupo considera justos levariam o valor por ação a ser ofertado na OPA a R$ 7,89, o que avaliaria a Cielo em R$ 21,4 bilhões e elevaria o desembolso de Bradesco e BB a R$ 8,7 bilhões, dos R$ 5,9 bilhões previstos.
Para além das questões contábeis, os acionistas minoritários afirmam na carta que “não há como concordar” com a ausência de comparação entre a Cielo e a Stone (STOC31) e PagBank (PAGS34), as duas outras empresas do setor que têm capital aberto. Segundo eles, é possível igualar o múltiplo entre preço e lucro da Cielo aos de ambas as empresas, que têm avaliação de mercado mais alta, para se chegar a um possível preço justo.
Neste caso, eles chegam ao preço de R$ 8,61, o que elevaria o valor da Cielo a R$ 23,4 bilhões, e o valor envolvido na OPA a R$ 9,5 bilhões. Nesta quinta-feira, a empresa é avaliada na Bolsa em R$ 14,4 bilhões, após uma alta nas últimas duas semanas causada justamente pela proposta de OPA.
A Cielo informou que o conselho de administração da companhia vai apreciar os pedidos dos minoritários e deliberar a respeito. O conselho é formado por 12 membros, sendo oito ligados aos bancos controladores.
Publicidade