Mercado

Em ano difícil, a recompra de ações pode mudar o jogo da Hapvida (HAPV3)

Ações caem 21% em 2024 com investigação do MPF; mercado vê exagero e projeta crescimento de quase 70% no papel

Em ano difícil, a recompra de ações pode mudar o jogo da Hapvida (HAPV3)
O grupo Hapvida é a maior operadora de saúde da América Latina (Foto: Agência Brasil)
  • As notícias relacionadas às investigações do Ministério Público envolvendo a companhia são uma das causas para a queda do papel
  • As dificuldades de reduzir as sinistralidades e evoluir o seu desempenho operacional também trazem pessimismo para as ações
  • Procurado pelo E-Investidor, o grupo Hapvida informou que o programa  de recompra trata-se de um movimento da administração da companhia que ocorre dependendo das condições de mercado

Os primeiros meses de 2024 foram difíceis para as ações da Hapvida (HAPV3). Desde o primeiro pregão do ano até agora, os papéis acumulam uma desvalorização de 24,6%. Analistas do mercado consultados pelo E-Investidor dizem que, em parte, a queda reflete o pessimismo dos investidores com os resultados operacionais da empresa e a recente repercussão da investigação do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) sobre o descumprimento de liminares judiciais, além das dúvidas do mercado se a empresa seria capaz de reduzir as sinistralidade das suas operações

Na última semana, o grupo Hapvida anunciou o seu programa de recompra de 200 milhões de ações, o que pode induzir uma alta do papel. A empresa justifica a operação como forma de maximizar valor ao acionista e gerenciar a sua estrutura de capital. Na prática, deve reduzir pela metade o número de ações circulando na Bolsa de Valores.

Procurado pelo E-Investidor, o grupo Hapvida informou que o programa de recompra trata-se de um movimento da administração da companhia que ocorre dependendo das condições de mercado. “O plano atual tem as mesmas características do anterior, que FOI lançado em maio de 2022 e englobava a recompra de até 400 milhões de ações”, informou a operadora de saúde em nota.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

 

Para os analistas da XP, o anúncio é visto como positivo por sinalizar ao mercado que os acionistas consideram a ação como subvalorizada devido aos recentes eventos. “Assim que o programa começar, esperamos que os investidores se tornem menos céticos em relação à tese e que as ações ganhem impulso. As recompras não devem aumentar significativamente a alavancagem”, informaram os analistas em relatório.

Atualmente, a XP recomenda compra do papel e estipula um preço-alvo de R$ 5,70, o que sugere uma valorização de 69,6% em comparação ao fechamento desta quarta-feira (21), quando o papel encerrou o dia sendo negociado a R$ 3,36.

Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset management, também acredita que o programa de recompra pode elevar a cotação dos papéis no curto prazo por aumentar a demanda pelas ações. Por outro lado, o especialista ressalta que os investidores precisam ficar atentos aos principais riscos que envolvem o papel, como os desafios na integração pós-fusão com a NotreDame Intermédica. “Pode afetar negativamente o desempenho financeiro e operacional da empresa. Há também os possíveis impactos regulatórios no setor de saúde, como as mudanças nas políticas governamentais ou legislação que poderiam afetar as operações da empresa”, diz Gonçalvez.

A perspectiva de uma possível valorização do papel do Hapvida não é unânime no mercado. Embora enxergue a notícia como positiva, Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research, ressalta que os investidores aguardam as melhorias operacionais do grupo após a fusão da NotreDrame que, até o momento, não aconteceu. “Dado o tamanho da empresa e a incapacidade de operar uma aquisição grande, o mercado ficou bastante decepcionado e os resultados continuam caindo”, afirma a analista.

As notícias sobre a investigação do MPE-SP envolvendo a companhia sobre o descumprimento de liminares judiciais também são monitoradas de perto pelo mercado. Segundo uma reportagem do Estadão, há casos de pacientes que, de acordo com os relatos de familiares, morreram após a operadora de saúde recusar o tratamento de urgência garantido pela Justiça. Na época, quando a notícia foi veiculada, as ações apresentaram uma queda de 6,98%, para R$ 4.

“O comportamento de seus ativos fiscais de judiciais vem preocupando bastante em um momento que envolve uma perda agressiva na rentabilidade operacional (ROIC)”, diz Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital. Segundo dados da Hapvida, os recursos destinados da companhia para as indenizações judiciais cresceram 17% entre janeiro a setembro de 2023. Já em comparação a 2019, o aumento corresponde a quase 1.041%.

Publicidade

O Bradesco BBI destaca que a repercussão da investigação prejudica a recuperação do Grupo, mas avalia como exagerada a depreciação do papel em decorrência da veiculação das notícias referentes à investigação do MP. “Acreditamos que o descumprimento das liminares por parte do Hapvida não se deve à existência de uma política ou diretriz, mas sim a possíveis complicações”, destacou o banco em relatório publicado em janeiro. Por essa razão, a instituição financeira recomenda compra do papel e mantém um preço-alvo de R$ 5,50.

Leia também: Maior plano de saúde do País, Hapvida NotreDame é investigada por se negar a cumprir liminar

Vale lembrar que outras operadoras de saúde também possuem provisionamentos para decisões judiciais com potencial de resoluções desfavoráveis. A Kora Saúde (KRSA3), por exemplo, elevou em 45% o seu provisionamento para ações judiciais. Já a Rede D´OR São Luiz reduziu em 8,5% os seus depósitos judiciais durante o mesmo período. As ações das duas companhias também operam com perdas em 2024, com quedas de 29,23% e de 11,6%, respectivamente.

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos