O dólar fechou em queda de 0,47% nesta quarta-feira (17), cotado a R$ 5,2439. A trajetória de baixa ocorreu após o Banco Central divulgar sua estimativa de crescimento econômico do Brasil, medida pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), ele avançou 0,40% em fevereiro ante janeiro, acima do 0,30% projetado pelo mercado.
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Essa alta fez a economia brasileira crescer 1,3% no acumulado do primeiro trimestre de 2024. Além disso, as taxas de juros de investimentos da renda fixa dos EUA, os treasuries, estão em baixa, deixando o país menos atrativo para os investidores, o que ajuda a desvalorizar o dólar.
A aceleração da economia brasileira é relevante para a redução da equação dívida sobre PIB. Assim, o risco fiscal, que impulsionou a moeda americana nos últimos dias, ganha um certo alívio.
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O mau-humor no mercado começou na segunda, após o governo modificar a meta do governo de superávit de 0,5% para déficit de 0% em 2025, o que foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à emissora Globo News. De acordo com Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, essa mudança fez o mercado perder a confiança com a questão fiscal. “Eu já imaginava que o arcabouço fiscal encontraria dificuldades, visto que o governo não conseguiria subir a arrecadação como queria para zerar o déficit público”, afirma.
O economista aponta também que Haddad sempre esteve sozinho nessa questão fiscal, mas não tem apoio do governo. “Para fazer um bom projeto fiscal, é preciso que essa seja uma proposta do governo e não de apenas um ministro”, ressalta.
Para outros analistas, a nova meta fiscal entregou uma mensagem de que o governo pode não conseguir pagar todas suas obrigações e terá que emitir mais dívida para suprir o básico por meio de títulos como os do Tesouro Nacional, precificados com base no humor do mercado em relação à credibilidade do País diante de suas finanças. Quanto maior o déficit, mas dívida o governo emite.
Esse foi um dos fatores para a forte alta do dólar nos últimos dias. No entanto, é importante lembrar que com um crescimento do IBC-Br acima do esperado, a arrecadação também pode subir, evitando um déficit e uma nova emissão de dívida. Isso atrai o investidor, aumentando a demanda por real e por consequência faz o dólar valer menos em relação à nossa moeda.
Mercado internacional também alivia situação do dólar
Além dos motivos domésticos, receios internacionais fizeram o dólar subir nos últimos dias. O principal deles é a perspectiva de que o Banco Central americano, o Federal Reserve (FED), ter que manter ou até mesmo elevar a taxa de juros atual, que está no intervalo de 5% a 5,25%.
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Segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, isso aconteceria após os EUA apresentarem dados econômicos acima do esperado, o que inibe a tão desejada queda de juros. “Os dados do varejo vieram acima do esperado. Isso está provocando uma forte desvalorização das moedas emergentes por estresse no mercado financeiro”, explica Gala.
As vendas no varejo nos EUA subiram 0,7% em março ante fevereiro. Segundo o consenso reunido pela FactSet, o número ficou acima das estimativas dos analistas, que esperavam uma alta de 0,4%. Na avaliação de Gala, os resultados estão fazendo com que o mercado norte-americano precifique os juros longos a 4,7%, máxima desde outubro. “O mercado caminha para conclusão de que o tão sonhado início do corte de juros do Fed pode ser prorrogado novamente. Dessa vez, o corte começaria em setembro”, afirma.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, apontou ontem que devido à resiliência da economia, o ideal é deixar a política monetária em um território restritivo pelo tempo que for necessário. Ele também argumentou que os dados não trazem confiança para cortar juros.
Por que o dólar vale mais que o real?
A cotação do real ante o dólar é um indicador estruturante da economia. Isso acontece pela importância da divisa norte-americana no mercado de câmbio, além de ser a moeda oficial utilizada no comércio internacional.
O dólar se firmou como a principal moeda do mundo no século 20. Na Primeira e na Segunda Guerra Mundial as potências envolvidas gastaram grande parte de suas reservas em despesas bélicas, os estoques de ouro ficaram, portanto, escassos. Ao fim destes conflitos, os EUA se consolidaram enquanto potência mundial e sua moeda tornou-se dominante nos mercados globais. Assim, a maioria dos negócios entre os países passou a acontecer por meio da moeda norte-americana.
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As operações de câmbio ocorrem entre quaisquer moedas, mas é em relação ao dólar que se compara o quanto elas estão valorizadas. Na hora de trocar reais por pesos chilenos, por exemplo, a relação dessas moedas frente ao dólar dá lastro à troca.
Essa é a razão por que se fala tanto na balança comercial. Quando um país exporta muito, como o Brasil, embora as commodities tenham menor valor agregado – ou recebe muitos turistas, entram mais dólares na economia local. Já quando importa muito, é necessário comprar mais produtos em preço americano e isso se torna desfavorável às contas públicas.
* Colaboração de Cecília Mayrink