As preocupações internas com as dinâmicas da inflação, do juro básico e das contas públicas pesam no Ibovespa, se sobrepondo à influência do viés de alta da maioria dos índices de ações dos Estados Unidos. A agenda de indicadores interna e externa está esvaziada, mas os investidores monitoram falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e o boletim Focus, informado pelo Banco Central (BC), mais cedo.
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A pesquisa Focus mostrou revisão para cima nas estimativas do mercado para a taxa básica de juros, que atualmente está em 10,50% ao ano. A Selic no levantamento para 2024 passou de 9,75% para 10,00% ao ano. Ainda no relatório, houve alteração nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano (de 3,76% para 3,80%) e do seguinte (de 3,66% para 3,74%), além de redução na expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 e aumento na estimativa do déficit primário deste ano.
“A revisão na projeção de inflação para cima é ponto de atenção na Focus, ao passo que o mercado já vinha reavaliando a possibilidade de uma Selic maior. Agora, fala-se em taxa de 10% no final do ano e não mais de 9,75%, tampouco de 9,50%. E nos EUA, antes falava-se qual seria o ritmo de corte dos juros, agora há dúvidas se de fato haverá queda”, diz Raony Rossetti, CEO e cofundador da Melver. Desta forma, acrescenta, os mercados ficam sem entender qual direção devem seguir.
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A queda do petróleo e as incertezas acerca de qual será a conduta da nova gestão na Petrobras, ainda que a nomeação da presidente indicada pelo cargo esteja prestes a acontecer, também entram como limitadores a uma alta do Índice Bovespa por conta da elevação do minério de ferro na China. Nem mesmo impulsiona o principal indicador da B3 a informação de que a Braskem (BRKM5) poderá receber uma indenização bilionária da Novonor. As ações da Braskem sobem quase 5,00%, mas sem forças para animar o Ibovespa.
Além do fato de o banco central chinês ter mantido suas principais taxas de juros inalteradas, os investidores ainda digerem a informação de que a Vale (VALE3) apresentou nova proposta relacionada ao rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, no Estado de Minas Gerais. A informação foi antecipada na sexta-feira (17) pelo Broadcast. Ao mesmo tempo, miram a reunião que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá à tarde com o setor siderúrgico, para anunciar medidas ao segmento.
Em dia de agenda parca de indicadores, os mercados aguardam sinais sobre a política monetária americana. Nesta segunda-feira (20), há discursos de vários dirigentes do Federal Reserve (Fed) e na quarta será divulgada a ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) de maio.
Mais cedo, o vice-presidente para Regulação do Federal Reserve (Fed), Michael Barr, afirmou que crescimento dos EUA é “sólido” e o desemprego está baixo, enquanto na inflação houve avanços nos dois últimos anos, mas “ainda há um caminho pela frente”.
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Além das incertezas externas, Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, acrescenta que a piora nas projeções na Focus reforçam o clima de desconforto que ficou nos mercados após o placar dividido no Comitê de Política Monetária (Copom) de maio. Isso, diz, somado aos riscos fiscais crescentes e de iniciativas intervencionistas como na Petrobras, deságua na piora das expectativas.
“O Focus está refletindo um pouco o entendimento que o mercado teve sobre a decisão e o argumento do Banco Central nas ultimas semanas”, reforça o economista Carlos Lopes, do BV. No Copom deste mês, o BC optou por uma decisão mais dura, ao reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual, ao mesmo tempo em que mostrou divisão entre os diretores, com os membros indicados pelo governo optando por um recuo de meio ponto da Selic, explica. “Isso fez com que o mercado majoritariamente entendesse que o próximo BC pode ser mais propenso a tomar o risco de reduzir a Selic, quem sabe aceitando uma taxa de inflação maior”, avalia Lopes.
Às 11h17, o Índice Bovespa subia 0,01%, na máxima aos 128.169,06 pontos, ante recuo de 0,52%, na mínima aos 127.487,97 pontos. Vale (VALE3) caía 0,09% e Petrobras tinha elevação entre 0,71% (PETR3) e 0,41% (PETR4). No setor de siderurgia, Gerdau (GGBR4) cedia 1,33%.