- As projeções otimistas têm atraído os investidores estrangeiros que buscam oportunidades de investimentos em mercados emergentes
- A procura influenciou na alta de 19,4% do ETF India 50 (INDY), fundo de índice que investe em ações indianas, que é negociado na bolsa de Nova York
A Bolsa de Valores do Brasil vai precisar se esforçar nos próximos meses para despertar o interesse dos investidores internacionais. Com os juros nos Estados Unidos ainda em patamares elevados e o aumento dos risco fiscal no ambiente doméstico, os gringos retiraram R$ 35,4 bilhões em 2024, segundo os dados mais recentes da B3, em busca de melhores oportunidades de investimento. Um dos destinos desse capital, além da renda fixa norte-americana, é a Índia, que caminha para se tornar a terceira maior economia do mundo.
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Relatório do Centro de Investigação Económica e Empresarial (CEBR, na sigla em inglês), publicado em dezembro do ano passado, mostra que as estimativas apontam para um crescimento médio de 6,5% da economia indiana até 2028. A título de comparação, as projeções para o Brasil falam em crescimento anual médio de 1,9% durante o mesmo período, conforme os dados do CEBR. Ou seja, nesse ritmo, a Índia tem chances de ultrapassar o Japão e a Alemanha e conseguir ficar atrás apenas da economia dos Estados Unidos e da China até 2032.
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“A economia da Índia é mais moderna do que a da China e mais diversificada. Temos visto ainda estabilidade política, que é bem vista pelos investidores”, diz Marcelo Cabral, CEO da gestora internacional Stratton Capital. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, que caminha para o seu terceiro mandato após receber a maioria dos votos nas eleições presidenciais, foi o responsável por realizar investimentos em infraestrutura, reformas de redução de impostos e privatizações. “São termos que os investidores gostam de ouvir e têm surtido bons resultados, com a Índia crescendo de 6% a 7%”, complementa Cabral.
O diferencial não se resume ao aspecto econômico. A força de trabalho dos indianos também se destaca. Eduardo Grübler, gestor de multimercados da Asset Management Warren (AMW), cota que o mercado de trabalho na Índia é mais qualificado e mais barato em comparação a outros países, como os da Europa. “A Índia responde por 5% dos serviços globais. O diferencial da Índia é que eles possuem trabalhadores técnicos e baratos. O segundo maior escritório da Goldman Sachs, por exemplo, fica na Índia”, diz Grübler.
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Além disso, a classe média na Índia deve alcançar a marca de 1,167 bilhão de pessoas em 2030. Essa população será responsável daqui a seis anos pela movimentação de cerca de US$ 8,8 trilhões.
Todos esses fatores influenciam os investidores a expor parte do patrimônio às empresas indianas. De acordo com os dados da Stratton Capital, o ETF India 50 (INDY), fundo negociado na bolsa de Nova York como se fosse uma ação, subiu 19,4% em apenas um ano e 111,25% nos últimos dez anos.
Veja o desempenho dos ETFs de mercados emergentes e dos EUA
Mercado | ETF | Retorno em 1 ano | Retorno em 5 anos | Retorno em 10 anos |
Estados Unidos | SPY | 28% | 107,80% | 227,80% |
Índia | INDY | 19,40% | 46,80% | 111,20% |
Brasil | EWZ | 9% | -2,60% | -0,50% |
China | MCHI | 4,90% | -16,30% | 1% |
Fonte: Straton Capital |
A performance do ETF indiano está bem distante de outros mercados emergentes, como os de China e Brasil. Ainda segundo a Stratton, os ETFs Msci Brazil (EWZ) e MSCI China (MCHI) apresentaram uma rentabilidade de 9% e de 4,9% em 12 meses, respectivamente. Já em um intervalo de dez anos, o desempenho foi de -0,5% para o EWZ e 1% para o MCHI.
O mesmo aconteceu com o fundo da Franklin Templeton, gestora internacional com US$ 1,3 trilhão em ativos sob gestão, com exposição a ações de empresas indianas. Com o interesse dos investidores em alta para o país asiático, o Franklin India Fund elevou o seu patrimônio líquido de US$ 1,24 bilhão em janeiro de 2023 para US$ 2,45 bilhões em maio de 2024.
A Índia rouba o investidor estrangeiro do Brasil?
A notoriedade da Índia com o seu gigante potencial econômico pode ofuscar as oportunidades de investimento em outros países emergentes e influenciar no destino final do capital estrangeiro para mercados de maior risco. E esse movimento pode prejudicar o mercado brasileiro. Thiago de Aragão, diretor de estratégia da Arko Advice e colunista do E-Investidor, explica que os investimentos gringos não chegam ao Brasil apenas pelo mérito da qualidade dos ativos locais, mas também pela exclusão das possibilidades existentes entre os mercados emergentes.
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“Há vários países que estão em uma situação complicada para investir, como a Rússia e Turquia. Agora, se houver um país com um mercado de consumo quase infinito e com uma organização melhor em aspectos fiscais e regulatórios, esse mercado vai se tornar irresistível”, reforça Aragão. O desvio parcial da rota do fluxo estrangeiro não deve ser de imediato.
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Para o especialista, as aéreas de destaques dos dois mercados não se relacionam. Os investimentos na Índia costumam ir para os setores farmacêuticos e de software. Já o mercado brasileiro se destaca em commodities. Além disso, a consolidação desse movimento vai depender da capacidade do país manter o mesmo ritmo de crescimentos nos próximos anos. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, responsável pelas recentes mudanças econômicas, conseguiu a maioria dos votos nas eleições presidenciais deste ano e caminha para a sua terceira gestão, mas o problema está no Congresso indiano.
O partido Bharatiya Janata (BJP), de Modi, não teve o número de votos que esperava e esse resultado pode dificultar o avanço de propostas de reformas no Congresso. Por enquanto, o ambiente de investimentos favorável à reforma continua. “A ampla continuidade política, a macroeconômica, a resiliência e os fortes fundamentos de crescimento devem manter relativo apelo para as ações da Índia”, escreveram os analistas do Goldman Saches em relatório.
Como investir na Índia?
Os indicadores econômicos da Índia têm estimulado os investidores a buscar fundos e ações do país a fim de conseguir lucrar com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) indiano. Para os brasileiros com conta no exterior, há a opção de investir nos ETFs negociados na bolsa de Nova York, que replicam a performance dos índices acionários listados na bolsa da Índia, para se expor ao mercado indiano. São os casos dos ETFs MSCI India (INDA) e MSCI India Small (SMIN), este último focado em small caps (companhias consideradas pequenas quando comparadas com as demais na bolsa) indianas.
A outra alternativa fica com o BNDA39, BDR negociado na B3 que representa o ETF INDA. Com esse BDR (título emitido no Brasil que reproduz uma ação de companhia aberta sediada no exterior), o investidor brasileiro consegue se expor ao mercado indiano. Os pontos de atenção citados pelos especialistas ficam por conta da volatilidade dos ativos da Índia em comparação a países desenvolvidos e se o risco está adequado ao objetivo financeiro do investidor. “O investidor precisa observar ainda se o ambiente econômico vai continuar em linha com o que o mercado observa hoje. Há o risco de ter uma queda brusca nesse cenário econômico? Não estamos vendo isso acontecendo na Índia”, reforça gestor de multimercados da Asset Management Warren.
O custo de oportunidade também não pode ficar de fora do radar. Nos últimos anos, as ações da Índia mostraram forte alta, especialmente as small caps do país. Assim, o investidor precisa calcular se o preço da cotação está compatível ao retorno esperado pelo investimento. “As ações indianas negociam a 23x o seu preço sobre lucro. A Índia é um mercado caro, mas sempre ofereceu prêmios maiores em comparação a outros asiáticos. Para nós, vamos continuar com exposição na Índia”, reforça Cabral, CEO da Straton. Hoje, para quem deseja investir no Brasil, o preço sobre o lucro do Ibovespa corresponde a 9,6x.
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