O que este conteúdo fez por você?
- Há cinco anos, na mentalidade dos investidores comuns, ter dinheiro no exterior era quase que equivalente a praticar “Caixa 2”
- "No imaginário popular, o exterior era um ambiente de ilegalidade”, relembra Roberto Lee, CEO e fundador da Avenue
- Hoje, Lee comemora uma transformação no entendimento do brasileiro do porquê investir no exterior e explica novidades, como a conta em euro e disponibilização de ETFs europeus
Há cinco anos, na mentalidade dos investidores pessoa física, ter dinheiro alocado no exterior era equivalente a praticar “caixa 2”. Essa percepção foi capturada pelas pesquisas iniciais feitas pelos fundadores da Avenue quando ainda estudavam o mercado para lançar a corretora internacional no Brasil.
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“Olha o tamanho do desafio que foi para começarmos. No imaginário popular, o exterior era um ambiente de ilegalidade”, relembra Roberto Lee, CEO e fundador da Avenue. Hoje, o executivo comemora o fato de o brasileiro buscar diversificação ao investir em ações de grandes empresas no exterior, como Microsoft e Apple, mas também como uma forma de buscar na alocação internacional uma forma de proteger o capital em uma economia forte.
Segundo Lee, mais de 80% do montante captado pela Avenue nos últimos meses foi aplicado na renda fixa americana. As “treasuries”, títulos do Tesouro Americano, por exemplo, estão em um momento ímpar, já que os Estados Unidos estão com os juros mais altos em duas décadas. “Os brasileiros estão descobrindo o Tesouro Americano, agora com a percepção de acesso a uma maior segurança”, diz o CEO.
Daqui para frente, as expectativas são ambiciosas. O executivo espera que o mercado movimente, em conjunto, R$ 1 trilhão nos próximos 5 anos e, em um prazo maior, de 10 anos, que toda conta de investimento tenha um componente internacional. Nessa toada, a Avenue passou a oferecer a conta em euro, além da tradicional conta em dólar. Ao E-Investidor, Lee antecipou que opções de investimentos em produtos europeus serão disponibilizadas na plataforma ao longo de 2024, como os ETFs (fundos de índice).
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“Na Europa há um mercado gigante de fundos de índice. Só que os ETFs europeus não pagam dividendos, eles acumulam. Ao acumular, é possível diferir imposto. Como instrumento fiscal, isso será um diferencial extremamente eficiente para o brasileiro que investe a longo prazo”, afirma Lee. A corretora também confirmou que já olha para outras moedas, como libra esterlina e francos suíços, e que deve expandir o serviço de assessoria para 100% dos usuários ainda em 2024; a operação atual comporta cerca de 15% da base de clientes.
A Avenue, que teve a compra de uma fatia da empresa pelo Itaú aprovada pelo Banco Central em dezembro do ano passado, possui mais de US$ 3 bilhões de ativos sob custódia e 800 mil clientes.
E-Investidor – A Avenue completou 5 anos no final do ano passado. Como o comportamento do investidor mudou nesse tempo?
Roberto Lee – Há 5 anos, antes de abrir a Avenue, nós fizemos pesquisas de mercado para posicionarmos o produto. Sabe qual era a resposta quando perguntávamos para o público, que já era investidor no Brasil, sobre o motivo de as pessoas terem dinheiro fora do país? Que era para “caixa 2”. No imaginário popular, o exterior era um ambiente de ilegalidade. Essa percepção não era só do investidor em geral, mas de fornecedores de inteligência, como imprensa e casas de análise. O próprio regulador tinha uma certa hostilidade a esse assunto. Isso se transformou e, hoje, o cenário é completamente diferente. Temos um ambiente estrutural de brasileiros investindo fora.
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Já no banking, no caso das contas internacionais, estamos caminhando para sair do case de “uso para viagens” para o case de pessoas que usam muitos os serviços financeiros lá fora. Muitas pessoas trabalham no Brasil, mas recebem de empresas estrangeiras e, cada vez mais, o brasileiro está usando instrumentos internacionais para pagar coisas na internet.
Quem busca investir no mercado americano, tem preferência por quais ativos?
Começamos a Avenue oferecendo somente ações. Em 2020, quando rodamos novamente a pesquisa sobre o brasileiro ter conta no exterior, as respostas vieram com “para comprar ações da Apple” ou “para comprar ações da Tesla”. O investidor olhava o maior mercado do mundo e ligava ele imediatamente à renda variável, risco e especulação. Foi um primeiro passo, melhor do que aquela ideia de “caixa 2”.
Refizemos essa pesquisa na segunda metade do ano passado. Agora, em um ambiente com muito mais informação, grande parte das respostas veio com “porque eu preciso proteger meu patrimônio”. Ou seja, o investidor tem parte do dinheiro na maior economia do mundo para preservar o capital, em busca de segurança. Essa é a grande conquista, o conhecimento sobre a possibilidade de se investir fora. Hoje, ainda temos pessoas buscando ações de tecnologia, entretanto, mais de 80% do que captamos nos últimos trimestres foi direcionado à renda fixa. Os brasileiros estão descobrindo o Tesouro Americano, tendo a percepção de acesso a uma maior segurança.
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A Avenue anunciou recentemente a conta em euro, além da conta em dólar. Essa era uma demanda dos investidores?
Dentro do case de viagem, sabemos que os brasileiros gastam mais em euro do que em dólar quando estão fisicamente fora do Brasil. Essa era uma deficiência que tínhamos. Essa iniciativa também é uma preparação para as atividades europeias. Vamos começar a vender alguns ativos de investimentos na Europa ao longo de 2024. Lá tem um monte de benefícios fiscais, produtos que são super atraentes para o investidor brasileiro, mas que hoje só o cliente muito sofisticado conhece. Investir nos EUA é uma coisa nova. Investir na Europa ou na Ásia ainda nem passa na cabeça das pessoas. É algo que nós vamos introduzir no mercado.
Poderia dar um exemplo desses investimentos europeus com benefício fiscal?
Um exemplo são os ETFs europeus. Há um mercado gigante de fundos de índice, igual nos EUA. Só que os ETFs europeus não pagam dividendos, eles acumulam. Ao acumular, é possível diferir imposto. Como instrumento fiscal, isso vai ser um diferencial extremamente eficiente para o brasileiro que investe a longo prazo. Alguns produtos nós já oferecemos para aproveitar essa dinâmica. Vários fundos de investimento da Avenue são emitidos na Europa justamente para fazer esse acúmulo fiscal. Alguns clientes já têm acesso a isso. A ideia é abrir isso para uma quantidade tremenda de pessoas.
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Qual a projeção de vocês para a diversificação internacional no portfólio dos brasileiros nos próximos anos?
Temos uma previsão que, ao longo da próxima década, todas as contas de investimento no Brasil já vão nascer com componente internacional. Isso causa uma transformação gigante na sociedade brasileira. Por exemplo, em alguns países da Europa e outros da América Latina, até nos EUA, esse componente internacional tende a gerar entre 35% e 40% de alocação. Hoje, o nosso cliente mais experiente tem entre 20% e 25%. Talvez, quando todos tiverem acesso, cerca de 20% do patrimônio líquido das pessoas poderá ser investido no exterior. Acreditamos que ao longo dos próximos cinco anos, o mercado deve movimentar R$ 1 trilhão no exterior, cerca de US$ 200 bilhões.
Dados do emprego mais fortes nos EUA geraram preocupação sobre um possível adiamento do corte de juros pelo Federal Reserve (Fed). Quando os juros devem começar a cair por lá?
Embora os dados de emprego continuem consistentes, vários outros dados, como financiamentos de imóveis, já caíram bastante. A economia já está dando uma desacelerada e temos um consenso no mercado de que esse juros não sobem mais. Projetamos que, lá para o final do ano, o juro começa de verdade a virar para baixo. Agora o ponto é que temos juros em dólar, com muita segurança, rentabilidade, depois de uma década de juro quase zero. O juros mais alto nos EUA tendem a fazer o investimento em renda fixa crescer e acredito que isso se mantém ao longo dos próximos anos. Não vejo o país voltando para o juro zero, como na pré-pandemia. Veremos uma nova estrutura da sociedade americana com inflação e juros diferentes daqueles da última década.
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Ainda há risco de recessão nos EUA?
Hoje o consenso é de que se vier, será leve, um “pouso suave”. Não vejo uma recessão brusca, que contamina o mundo todo. Agora, recessões americanas ou problemas de economia americana tendem a fazer investidores do mundo inteiro buscarem segurança. Acredito que teremos uma aceleração da liquidez do mundo vindo para os Estados Unidos, seja porque o juro permanece alto, seja porque a economia começa a ficar mais lenta. Para quem está buscando investir agora nos EUA, esse é o melhor momento da história, pois você têm juros altos e atrativos. Sobre o Brasil, o dinheiro que o investidor estrangeiro dedica ao nosso mercado nos melhores momentos é muito ínfimo, no radar deles. Ainda temos muita volatilidade política e econômica. Enquanto tivermos isso, não entraremos no mundo estrutural.
Mas qual a sua avaliação sobre a Bolsa americana? Alguns analistas dizem que as ações estão caras no momento.
A renda fixa está mais atrativa do que a renda variável. Ainda assim, a renda variável americana sempre foi cara e as bolsas estão nos máximos de alta há muitos anos. A economia americana é muito dinâmica e tende a atrair os maiores cases de crescimento do mundo. Eu não acho que todas as ações vão subir, mas alguns casos específicos, principalmente do mundo de tecnologia, ligados a inteligência artificial, energia limpa e diversidade, devem voar. Acho que a renda fixa é um “must have”[todos devem ter]. E na renda variável, é preciso escolher onde investir.
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