- Nas últimas semanas, o Brasil se descolou dos demais emergentes, e os preços de quase todos seus ativos encontram-se nos seus extremos
- Dados chamam a atenção: o desemprego está em níveis historicamente baixos, o PIB surpreende ano após ano, a inflação controlada e a balança comercial apresenta resultado forte
- Em relação à política fiscal, é fundamental que esta tenha credibilidade e ancore as expectativas dos agentes de mercado
Imagine que um marciano pousou sua espaçonave no planeta Terra, mais especificamente no Brasil. Ele tem interesse em economia e, procura alguns dados sobre a economia local para entender a situação. Alguns dados chamam atenção. O desemprego está em níveis historicamente baixos, o PIB surpreende ano após ano, a inflação controlada e a balança comercial apresenta resultado forte pelo segundo ano consecutivo. No entanto, há algo estranho: por que o câmbio dispara e a curva de juros está tão estressada? Esse marciano é operador do mercado financeiro em Marte, e ele se pergunta o motivo.
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É com essa dicotomia que nos deparamos. Nas últimas semanas, temos observado diversos sinais de estresse nos preços dos ativos brasileiros, principalmente refletidos na curva de juros e na desvalorização do real frente ao dólar. Paradoxalmente (ou não), temos visto diversos números da nossa economia surpreendendo positivamente.
Essa dicotomia não é de surpreendente, afinal os parâmetros econômicos estão associados a uma fotografia de um período curto que acabou de acontecer, enquanto os preços de mercado estão associados a toda trajetória futura de diversos números econômicos. A mensagem que temos visto embutida nas curvas de juros e no câmbio é “Cuidado! Perigo à frente!”.
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Mas que perigo seria esse? Nas últimas semanas, muito se foi falado de dois temas fundamentais para a saúde da economia brasileira: a política fiscal e a política monetária.
Em relação à política fiscal, é fundamental que esta tenha credibilidade e ancore as expectativas dos agentes de mercado, trazendo previsibilidade e confiança para aqueles que financiam o Tesouro Nacional quando compram um título de dívida do Brasil.
As escolhas sobre aumento de gastos têm vindo acompanhadas por aumento de receita. Porém essa escolha tem dois lados negativos: primeiro, afeta a capacidade de crescimento da economia quando a carga tributária aumenta para as empresas; segundo esse aumento tem limite e, esse limite, parece estar sendo alcançado. Discussões sobre a capacidade do governo compensar parte de aumento de despesas obrigatórias com revisão de outras despesas esquentou e, toda dúvida sobre isto causou parte desse estresse no mercado.
Nas últimas semanas, o Brasil se descolou dos demais emergentes, e o preços de quase todos seus ativos encontram-se nos seus extremos, com a maior desvalorização do real no ano, juros na máxima e Bolsa quase na mínima. Essa perda de credibilidade vem se refletindo nos preços dos ativos, que levam em consideração toda trajetória futura da economia e, com menor credibilidade de que a regra fiscal será seguida, o efeito desses preços que hoje são sentidos pelo mercado financeiro, amanhã se traduzira em menos investimento, menos crescimento e menor geração de emprego e renda, dado o aumento do custo para investir no Brasil.
Pelo lado da política monetária, a desaceleração e a parada da queda dos juros trouxeram dívidas sobre o apetite do banco central em combater a inflação, processo fundamental do modelo de metas de inflação que é baseado na crença dos agentes econômicos de que a autoridade monetária vai cumprir seu papel de buscar a meta. Felizmente, a última reunião do Copom deu sinal claro desse objetivo importante para a economia.
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Portanto, é fundamental que a liderança política do País sinalize que apoia as instituições, tanto a monetária, fortalecida pela autonomia do Banco Central e, principalmente, para as instituições fiscais que enfrentam grandes desafios desde a Lei de Responsabilidade Fiscal, passando pelo teto de gastos e agora com o novo arcabouço fiscal, recém aprovado pelo parlamento em 2022 mas que já passa por problemas de falta de credibilidade.
O reforço do apoio das lideranças e seu cumprimento tem reflexos significativos para a nossa economia, afinal, a organização das contas públicas não é um fim em si mesmo, mas um meio para viabilizar políticas públicas sustentáveis e um bom ambiente para investir e gerar emprego e renda.