O governo de São Paulo defendeu nesta terça-feira (23) o modelo de vendas da Sabesp (SBSP3) e o preço pago pelos investidores nas ações da empresa de saneamento, de R$ 67,00, criticado por partidos de esquerda por estar abaixo das cotações de tela do papel. Feita a oferta pública, agora haverá a transição da empresa para o setor privado, após aprovação da entrada da Equatorial (EQTL3) pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em processo que deve terminar este ano.
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Em entrevista à imprensa após cerimônia na B3 que marcou o encerramento do processo de privatização da Sabesp, o governador Tarcísio de Freitas disse que o preço de R$ 67 da ação na oferta está bem acima do que estava quando o processo de privatização começou, há 18 meses. Em 2022, o preço do papel foi de R$ 33 a R$ 46, só começando a subir de fato após as eleições daquele ano e a expectativa de privatização, quando chegou a R$ 51.
“Essa narrativa [da esquerda] não nos preocupa”, disse o governador. “Do ponto de vista financeiro, valeu muito a pena para o Estado”, completou, argumentando que este não é o objetivo principal do Estado, mas sim a universalização do acesso ao saneamento, que deve ocorrer até 2029.
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“Atingimos nosso objetivo e o alcance financeiro foi maior do que o esperado”, disse a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do governo de SP, Natália Resende, também ao ser questionada sobre o preço de venda da ação.
No dia em que o investidor de referência foi revelado, em 28 de junho, o preço da ação estava ao redor de R$ 74 na B3. “Estamos falando da maior ordem individual da história das ofertas públicas de ações no Brasil”, disse governador, ressaltando que a Equatorial pagou R$ 6,8 bilhões, mas não terá o controle da Sabesp. Nesta quarta-feira (24) vai ser conhecido o preço mínimo que o governo de SP fixou em junho para a venda das ações, mas que só seria revelado após o final da oferta.
Ainda ao defender o preço de R$ 67, Tarcísio argumenta que a Equatorial, que propôs esse preço para ficar com 15% da Sabesp, terá que fazer investimentos pesados para universalizar o acesso ao saneamento até 2029, além de não poder vender as ações até dezembro daquele ano, o chamado lock-up. “Era natural que tivesse um desconto em relação ao valor de tela do dia.”
Ao revelar um investidor de referência que terá o compromisso de investir para universalizar o acesso a água e saneamento em São Paulo até 2029, Tarcísio disse que o preço da ação na B3 subiu, como era de se esperar, chegando a máxima histórica de R$ 85 logo depois. Se não houvesse essa figura do investidor de referência, a ação estaria a um valor menor do que está hoje, argumentou o governador.
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No evento da B3, o Tarcísio falou do potencial de a ação chegar a R$ 120. “Vamos ter um crescimento muito grande da base de ativos da Sabesp, vai dobrar”, disse ele. A esse preço, os 18% da fatia remanescentes do governo paulista após a privatização vão estar valendo mais do que os 32% que foram vendidos agora – e renderam R$ 14,8 bilhões.
Transição em 2024
“Queremos garantir uma transição suave, o Estado continua na empresa, como principal acionista“, disse Tarcísio. O processo de transição vem sendo discutido dentro da Sabesp desde o ano passado, quando foi montado um time para avaliar o assunto, que montou um plano de 100 dias.
Agora o processo precisa de aprovação do Cade e sem seguida, após a aprovação, haverá a assembleia dos acionistas para eleger o novo conselho, dos quais a Equatorial pode escolher três membros, incluindo o presidente, do conselho e da Sabesp. “Esse ano”, disse Resende ao ser perguntada se esse processo ficaria para o ano que vem.
O CEO da Equatorial Energia, Augusto Miranda, considera que ainda é cedo para falar sobre as indicações da companhia para a presidência e conselho da Sabesp. “Indicações ainda estão prematuras”, afirmou na entrevista. Para bancar investimentos na Sabesp, ele disse que a Equatorial tem “ativos maduros” que podem ser vendidos, além de poder acessar os mercados locais e externos. “Não é uma ruptura, é uma continuidade.”
Perguntada sobre cláusulas da oferta que teriam sido o motivo para afastar outros investidores do processo, como a Aegea, Resende argumentou que o governo paulista se baseou em princípios de governança e avaliou outros modelos no mercado para definir o da Sabesp. “Não tem investidor indesejado, queremos que todos venham para o Estado de São Paulo”, disse a secretária.
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Uma das cláusulas foi a da “posion pill”, mecanismo que protege minoritários em trocas de controle. Resende disse que essa é uma regra comum, presente em várias empresas. “Tem investidores com características especificas, que trabalham mais com lógica do controle e não se enquadrariam, mas o governo sempre manteve uma linha reta, clara do que queria.”
O livro de ofertas (book) da oferta pública foi de qualidade, com muitos investidores de longo prazo, argumentou Resende. “Era o modelo que a gente tinha a maior segurança jurídica.”