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Sabesp (SBSP3): 17 mil pessoas participaram da privatização. Vale a pena comprar a ação?

Setor privado pagou 22,9% menos que o valor da estatal de saneamento na Bolsa; entenda

Sabesp (SBSP3): 17 mil pessoas participaram da privatização. Vale a pena comprar a ação?
Privatização da Sabesp (SBSP3) é concluída; saiba o que fazer agora (Foto: AdobeStock)
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  • A privatização da Sabesp consistiu na redução da participação acionária do governo de São Paulo de 50,3% para 18,3%
  • Analistas recomendam compra se o foco for lucrar com a valorização das ações da Sabesp
  • Caso o investidor queira lucrar com dividendos, esse não é o melhor momento

A privatização da Sabesp (SBSP3) foi concluída nesta terça-feira (23). Segundo informações da companhia, a oferta teve um total de 17,5 mil investidores pessoa física, que compraram 21,8 milhões de ações. Esse número equivale a 10% das 218,6 milhões de ações ofertadas pela empresa. Já os 390 investidores estrangeiros adquiriram 43,2 milhões de ações, correspondendo a 19,8% do total vendido pelo governo paulista.

Em linhas gerais, a privatização da Sabesp consistiu na redução da participação acionária do governo de São Paulo. O Estado detinha 50,3% das ações da companhia e passou a ter apenas 18,3%. Para isso, um acionista de referência da Sabesp ficou com 15% das ações da empresa, sendo a Equatorial (EQTL3) a única ofertante da privatização. As pessoas físicas, fundos de investimento e outras pessoas jurídicas que não desejaram se tornar controladores ficaram com os 17% restantes.

Com a privatização concluída da Sabesp, muitos investidores questionam se ainda vale a pena adquirir ações da Sabesp no mercado. Isso porque aqueles que participaram da reserva e compraram as ações do governo paulista pagaram R$ 67 por ação, um valor 22,9% inferior aos R$ 87,00 registrados no fechamento do pregão de segunda-feira (22). Segundo Arlindo Souza, analista da Levante, mesmo os investidores que não conseguiram participar da reserva devem considerar a compra das ações, aproveitando a oportunidade.

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O analista acredita que as ações da Sabesp podem atingir R$ 140 nos próximos 12 meses, o que representa um aumento de 60,9% em relação ao fechamento de segunda-feira (22). Ele atribui essa perspectiva a diversos fatores, incluindo o novo contrato de concessão da empresa de saneamento de São Paulo, que reduz o risco de mudanças arbitrárias nas Revisões Tarifárias Periódicas pelo regulador. Além disso, especialistas apontam melhorias nos custos após a privatização.

“Há espaço para a companhia reduzir custos e despesas abaixo dos limites estabelecidos pelo regulador, uma vez que a estrutura de OPEX da empresa deve se aproximar da eficiência reconhecida pelo regulador, ao mesmo tempo em que a Sabesp deve implementar movimentos significativos de redução de custos”, destaca Souza.

Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, observa que, mesmo na faixa dos R$ 80, o papel continua sendo atrativo para o investidor. O especialista baseia sua análise no fato de que a maioria dos bancos recomenda a compra das ações da Sabesp, estabelecendo um preço-alvo acima de R$ 100. “A privatização será muito positiva. No longo prazo, o papel é atrativo para o investidor”, conclui Horta.

Vale a pena comprar a Sabesp pelos dividendos?

Durante o processo de privatização, a Sabesp aprovou uma nova política de dividendos com a possibilidade de pagamento de 100% do lucro aos acionistas a partir de 2030. Analistas do mercado financeiro veem essa notícia como positiva, mas há algumas ressalvas na tese de investimento na companhia. Eles destacam que o pagamento de dividendos nesse patamar pode ser considerado uma possibilidade remota e que a companhia de saneamento não deverá satisfazer os investidores em dividendos nos próximos dois anos, pois planeja concentrar seus recursos em investimentos para atingir metas de universalização do saneamento básico.

De acordo com a própria companhia, o pagamento de 100% dos dividendos da Sabesp está condicionado ao Fator de Universalização (Fator U), conforme estabelecido no contrato de concessão. Quanto menor for o Fator U, maior será a distribuição de dividendos.

Por exemplo, se o indicador for igual a zero, a distribuição de dividendos poderá alcançar os 100% a partir de 2030. Se estiver entre 0% e 1%, a distribuição será limitada a 80% do lucro; entre 1% e 2%, cairá para 60%; e se exceder 2%, o dividendo será limitado ao mínimo exigido pela Bolsa, de 25%.

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No entanto, para alcançar os dividendos máximos de 100% em 2030, a empresa estabelece um período de transição, aumentando gradualmente a porcentagem do lucro distribuído aos acionistas. Eles poderão receber até 50% do lucro líquido ajustado nos exercícios de 2026 e 2027; até 75% nos anos de 2028 e 2029; e até 100% a partir de 2030.

Para Raony Rossetti, CEO da Melver, a Sabesp enfrentará desafios significativos nos próximos anos, com grandes necessidades de investimento para atingir suas metas de universalização. Ele destaca que, por isso, os investidores podem ter que esperar para ver dividendos robustos. “O consenso de mercado estima um lucro entre R$ 3,2 bilhões e R$ 3,6 bilhões para 2024 e 2025, respectivamente. Considerando uma distribuição de 25% nos próximos dois anos, o dividend yield deverá situar-se entre 2,1% e 4,6%”, comenta Rossetti.

Ricardo Salim Júnior, analista da Lumi, prevê que a companhia lucrar R$ 2,8 bilhões em 2024 e R$ 3,3 bilhões em 2025. Segundo ele, o dividend yield da Sabesp deve variar entre 2% e 3%, refletindo os investimentos necessários para a universalização do saneamento. Assim, se o objetivo do investidor é obter lucro com dividendos nos próximos anos, a ação da Sabesp pode não ser a melhor opção.

Mesmo privada, Sabesp ainda apresenta riscos

A Genial Investimentos recomenda a compra das ações. O analista destaca que a privatização da Sabesp representa um evento crucial para a tese da empresa. No entanto, ele alerta para alguns riscos envolvidos. Primeiramente, destaca a dificuldade em reduzir custos e dobrar a base de investimentos da empresa nos próximos seis anos, o que não é uma tarefa simples. Além disso, ele menciona que os ganhos de eficiência podem não atender às expectativas e a execução dos investimentos pode enfrentar desafios.

Segundo a Genial, outro ponto de atenção é a base de ativos regulatória da empresa, que deve praticamente dobrar até 2030. Esses investimentos precisam ser reconhecidos na base tarifária para fins de cálculo. “Em um cenário pessimista, a ARSESP pode não reconhecer totalmente os investimentos realizados entre um ciclo e outro”, esclarece Souza.

Um último fator de preocupação é a exclusão de Guarulhos da privatização. O Tribunal de Justiça suspendeu a lei municipal que permitia a participação do município no bloco econômico da antiga estatal de saneamento. A Genial minimiza essa questão ao apontar que Guarulhos representa apenas 4% da receita da Sabesp e que, mesmo que opte por não participar do bloco, a cidade deverá continuar comprando água da Sabesp e provavelmente terá que compensar os investimentos feitos pela empresa no atendimento ao serviço.

Por que o investidor pode considerar comprar ações da Sabesp após a privatização?

Apesar desses riscos, Souza acredita que a empresa continua sendo atrativa para os investidores. Ele destaca que a privatização da estatal do setor de saneamento deve impulsionar a universalização dos serviços de água e esgoto, reduzir os custos operacionais (atualmente a empresa opera com uma ineficiência de pelo menos R$ 3 bilhões por ano, de acordo com sua estrutura tarifária) e melhorar a governança.

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O analista comenta que a operação de serviços públicos em uma região como São Paulo é interessante devido à escala e à economia do negócio – regiões com maior renda tendem a ter maior demanda, melhor absorção de produtos e menor inadimplência, entre outros benefícios. Assim, ele mantém grandes expectativas para a operação de saneamento da empresa na região.

A Levante prevê um aumento de 60,9% para as ações, a Genial estima que o valor das ações possa subir com a privatização. O preço-alvo da corretora para 2024 está desatualizado, pois considera a Sabesp como estatal. Para 2025, os analistas calculam que as ações podem alcançar até R$ 101, o que representa um crescimento de 16,09% em relação ao fechamento de segunda-feira (22).

Em resumo, há um consenso entre os analistas de que as ações da Sabesp (SBSP3) são atrativas e podem gerar bons retornos para os investidores que buscam valorização a longo prazo dos ativos. No entanto, quanto aos dividendos nos próximos anos, a expectativa é de que não sejam tão atrativos, já que a empresa planeja investir massivamente nos próximos cinco anos após a privatização.