- O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu retomar o ciclo de alta da taxa de juros no Brasil, elevando a Selic de 10,50% para 10,75% ao ano nesta quarta-feira (18)
- Esta foi a primeira reunião do grupo em algum tempo em que não havia consenso prévio no mercado sobre a decisão; também é a primeira alta de juros do governo Lula 3
- Especialistas avaliam impacto da decisão e o que este novo ciclo de aperto monetário indica para o mercado de investimentos
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu retomar o ciclo de alta da taxa de juros no Brasil, elevando a Selic de 10,50% para 10,75% ao ano nesta quarta-feira (18). Esta foi a primeira reunião do grupo em algum tempo em que não havia consenso prévio no mercado sobre a decisão. Ainda que nos últimos dias o ajuste de 0,25 ponto percentual tenha ganhado força, investidores vinham se dividindo também entre aqueles que defendiam um ajuste superior, de 0,50 p.p, e os que eram contra subir novamente a Selic.
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A volta do ciclo de aperto monetário está na mesa desde meados de agosto, endossada inclusive por falas de dirigentes do Banco Central. O argumento era que o cenário para a política monetária tinha se tornado mais desafiador: o crescimento da economia estava robusto, as expectativas de inflação se desancoraram e as incertezas em relação ao fiscal continuam fortes. Mas não era só isso.
Grandes gestoras do mercado, como a Verde, a SPX e a JGP, começaram a defender que uma nova alta de juros era uma forma de o BC aumentar sua credibilidade em relação ao compromisso de alcançar a meta de inflação em um momento de transição na instituição. O mandato do atual presidente Roberto Campos Neto se encerra em 31 de dezembro e assumirá o cargo o diretor de política monetária Gabriel Galípolo, indicado pelo governo Lula.
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Mas a tese estava longe de ser unanimidade. Como mostramos aqui, já às vésperas da reunião do Copom, algumas gestoras e casas de investimento defendiam que o melhor cenário era o de manutenção da Selic em 10,5% ao ano. A TAG Investimentos, por exemplo, chamou essa suposta necessidade de “comprar credibilidade” para o BC via alta de juros de “viralatismo monetário”.
Foi nessa bola dividida que o Copom chegou a mais uma “Super Quarta” com a possibilidade de subir a Selic mesmo com a primeira redução de juros nos Estados Unidos em quatro anos. Em comunicado, a instituição informou que o ritmo e a magnitude deste novo ciclo de aperto monetário dependerão dos riscos no radar; “fiscal crível e comprometido” assim como a desaceleração da economia global serão monitorados.
“O Copom não deu indicação sobre o que vai fazer na próxima reunião, dizendo apenas que os ajustes futuros e a magnitude total do ciclo dependerão pelo compromisso que eles têm de fazer o necessário para levar a inflação para a meta. Assim, ele deixa a porta aberta para qualquer movimento na próxima reunião”, destaca Rafael Yamano, economista da SulAmérica Investimentos.
Veja a avaliação do mercado sobre a decisão:
André Perfeito, economista
“Chama atenção no comunicado a perspectiva, não necessariamente nova, sobre o hiato do produto no campo positivo, ou seja: o BCB vê que a atividade está mais forte que o necessário para ancorar as expectativas no horizonte relevante. Dado que a taxa de juros nos EUA teve um corte significativo no dia de hoje, talvez o Copom acredite que possa administrar a curva de juros aqui de maneira mais cautelosa. Neste sentido projetamos mais um corte de 25 na próxima reunião, mas lembrando que a Autoridade Monetária irá observar com atenção a evolução tanto da expectativa de inflação como os dados correntes. Vejo o tom do comunicado relativamente duro, mas a magnitude do ajuste dependerá da dinâmica dos dados e, principalmente, dos juros nos EUA e seus efeitos no câmbio.”
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank
“O Banco Central já vinha sinalizando em comentários e relatórios que faria esse movimento, então, mercado já havia antecipado grande parte desse ajuste. Vale destacar que a decisão de voltar a subir os juros tem como base o avanço das projeções de inflação para 2025, principalmente – que passaram a se distanciar da meta de acordo com os últimos relatórios Focus. A alta dos juros aqui no Brasil somada à queda dos juros nos EUA faz com que o diferencial de juros (carry trade) aumente e isso, em tese, é positivo para o câmbio. Lembrando novamente que grande parte desse movimento já havia sido antecipado pelo mercado, de forma que o impacto amanhã poderá ser reduzido.”
Guilherme Jung, economista da Alta Vista Research
“No balanço de riscos, o Copom destacou uma assimetria altista. Entre os principais riscos, estão a desancoragem prolongada das expectativas de inflação e a persistência de um câmbio mais depreciado. Já no lado positivo, a possibilidade de uma desaceleração global mais forte e um efeito maior do aperto financeiro no exterior podem as pressões inflacionárias.
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A decisão do Copom não surpreende, mas o cenário segue delicado. O diferencial de juros em relação ao exterior deve ajudar a aliviar o câmbio, mas as expectativas inflacionárias estão desancoradas e o quadro fiscal segue sem avanços claros. A resiliência do mercado de trabalho mantém a pressão sobre a inflação de serviços, e a política fiscal frouxa continua sendo um risco inerente. Mesmo com a Selic elevada, o mercado enxerga a necessidade de manter a taxa em patamar contracionista por mais tempo e o juro neutro se deslocou para patamares mais elevados.”
Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Asset Management
“Comunicado realista e hawkish, principalmente porque menciona explicitamente que estamos iniciando um ciclo de alta. E não deixa claro o tamanho da alta porque o comitê é data dependent, depende da evolução das variáveis, seja de inflação, seja da ritmo de atividade, desancoragem, para poder precisar isso.
Eles colocam que o comitê avalia que há uma assimetria altista no balanço de riscos para a projeção de inflação. Portanto, isso significa uma maior possibilidade ou probabilidade de que a inflação suba vis-à-vis a probabilidade que ela caia. Os pontos apontados por eles em razão da alta da taxa basicamente são os mesmos do comunicado anterior, com a diferença bastante clara de que está sim havendo uma assimetria positiva para o lado da inflação, entre a probabilidade de alta da inflação e de baixa dela. Importante destacar que a decisão foi unânime. Todos os diretores votaram pelo aumento da taxa.”
Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos
“A análise do Copom é que tem uma estratégia para convergir para o centro da meta da inflação no horizonte, mas que era necessário o aumento dessa taxa de juros. No comunicado fica claro que tudo vai depender do que acontecer nos próximos meses para a decisão de continuar subindo os juros. Percebe-se que o cenário projetado pelo mercado foi exatamente o que aconteceu, mas segue, a meu ver, o cenário fiscal extremamente impactante nessa decisão. Precisa-se mudar o cenário fiscal. Acredito que o Fernando Haddad venha a público falar alguma coisa, porque a gente tem uma desaceleração econômica global. A gente viu resultados da Alemanha e dos Estados Unidos que não estão bons. Não dá para o Brasil ficar apenas com o pé na política monetária sem que a política fiscal seja contemplada também.”
Paulo Gala, Economista-chefe do Banco Master
“Se o Copom não tivesse feito nada, ele basicamente estaria rasgando a meta de inflação. O que ele está dizendo de maneira bem clara é que a meta de inflação é para valer, que ele vai agir. Ele começou esse mini-ciclo, e eu tenho dito que é melhor um mini-ciclo agora do que um maior depois, então, é melhor fazer um movimento agora para tentar moderar e estancar a inflação, e não ter que fazer um choque de juros de verdade lá no futuro levando a Selic a 14%, 15% ou 16%.
Claro que a decisão do FED ajuda muito o Brasil. Esse corte de 0.5% do FED que foi surpreendente até certo ponto. Aprecia a moeda brasileira. Com câmbio a R$ 5,40, R$ 5,30, ou R$ 5,20, a vida do BC fica mais fácil. O cenário é muito favorável para que a gente tenha um pequeno ciclo de alta no Brasil, um miniciclo, levando a Selic a, no máximo, 12% na minha visão, que já deve ser o suficiente para deixar a inflação bem perto da meta no começo de 2026.”
Rafael Yamano, economista da SulAmérica Investimentos
“A alta de juros foi justificada pela deterioração do cenário inflacionário prospectivo, com hiato do produto mais apertado (atividade econômica mais forte) e a inflação mais forte nos últimos dados sendo destacadas no comunicado. O Copom não deu indicação sobre o que vai fazer na próxima reunião, não dando pistas se deve seguir no ritmo gradual ou acelerar para o ritmo de 0,50 p.p de alta por reunião, apenas que os ajustes futuros e a magnitude total do ciclo dependerão pelo compromisso que eles têm de fazer o necessário para levar a inflação para a meta. Nos parece mais provável que ele deve acelerar na próxima reunião.”
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos
“Essa decisão do Copom pela alta de 0,25%, sinaliza uma estratégia mais voltada para o combate à inflação, mantendo o controle sobre a demanda doméstica e tentando estabilizar o real. Essa decisão reforçaria o compromisso do Brasil com uma política monetária mais rígida, diante de pressões inflacionárias. No entanto, com o corte nos EUA, o aumento da Selic pode acabar gerando uma maior atração de capital estrangeiro, fortalecendo o real temporariamente, mas com o risco de enfraquecer o crescimento econômico.”
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike
“Em relação ao aumento dos juros no Brasil, sentimos uma preocupação significativa, especialmente porque muitos países estão reduzindo suas taxas para estimular a economia. A situação no Brasil, marcada por incertezas fiscais e comentários do presidente Lula que sugerem falta de compromisso com a responsabilidade fiscal, tem contribuído para esse aumento. No entanto, a chegada de um novo presidente do Banco Central pode trazer uma perspectiva mais positiva, pois transmite confiança ao mercado sobre o compromisso com a estabilidade econômica. Apesar disso, o aumento da Selic pode resultar em um crescimento do PIB mais lento para o Brasil no próximo ano, especialmente quando comparamos com outros países que estão adotando políticas de juros mais baixos.”
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