- Analistas explicam como escolher um Fiagro com menos riscos para a carteira
- Um especialista comenta sobre quatro Fiagros atrativos para o investidor; veja quais são
- Outra analista não recomenda compra para Fiagros e diz que o setor não está consolidado e continua repleto de riscos para o investidor
A Agrogalaxy (AGXY3) entrou com pedido de recuperação judicial na última quarta-feira (18). A empresa também teve renúncia de CEO e troca de comando na diretoria. Em meio a essa restruturação, as ações da companhia desabaram 49,5%. Além disso, quatro Fiagros também foram impactados negativamente com a forte exposição aos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) da companhia.
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O ativo mais exposto a esses recebíveis é o Kijani Asatala Fiagro (KJNT11), cujo percentual da carteira atrelado a esses ativos é de 8,24%, segundo recente comunicado ao mercado. O segundo mais impactado é o JGP Crédito Fiagro Imobiliário (JGPX11), que possui 8% do patrimônio líquido (PL) aplicado em CRAs da AgroGalaxy. Já em terceiro lugar, está o XP Crédito Agrícola (XPCA11), com 7,95% de exposição.
Qual é a lição que fica para o investidor? Analistas do mercado financeiro se dividem sobre o que o investidor deve fazer nesses casos. Na visão de Luigi Wis, especialista da Genial Investimentos, a exposição máxima adequada dependerá do perfil de risco dos CRAs que o Fiagro está investindo. Se forem papéis de perfil high grade (médio e baixo risco), pode ser adequada uma exposição de 5% do portfólio. “Caso sejam papéis de perfil high yield (maior risco de crédito, ou sem garantias), pode ser aquedada uma exposição máxima menor, como algo entre 2% e 3% do portfólio” aponta Wis.
Lana Santos, analista do Clube FII, comenta não haver um número exato, mas concentrações próximas de 10% já são um ponto de atenção, e havendo fundos de qualidade equivalente e maior diversificação, ele diz preferir optar pela diversificação. “ Vale lembrar que os Fiagros investem em ativos de crédito, e por isso, além de observarmos a concentração por ativo, é preciso também olhar a concentração por devedor”, comenta Lana Santos.
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Já Gustavo Didier, especialista em Finanças e CEO e Fundador da Unio, afirma que a concentração máxima recomendada em um único ativo em uma carteira de Fiagros deve estar entre 10% e 15% para minimizar o risco de inadimplência. “Fundos com mais de 20% a 30% de exposição a uma única empresa são considerados mais arriscados”, aponta.
Gabriel Junqueira, gestor agro da Santa Fé Investimentos, relata que não só a questão empresarial que pode pesar para o investidor, mas também a setorial. Segundo ele, um Fiagro não pode estar focado em apenas um setor. Desse modo, a carteira do Fiagro deve não estar com mais de 15% de um mesmo segmento. “No entanto, não existe regra de bolso e isso depende também da estratégia proposta no veículo, bem como do retorno e risco ajustado do investidor” aponta Junqueira.
Apesar dessa ‘regea’ do mercado, Lana Santos, do Clube FII, ressalta dois Fiagros que são monoativos, o FZDA e o FZDB, ou seja, tem 100% da carteira investida em um único ativo, representando um risco maior. No entanto, ela comenta que esse tipo de fundo possui uma estratégia específica e, por isso, são voltados a investidores qualificados, que possuem maior ciência dos riscos.
“Nos fundos para investidores em geral, que possuem liquidez no mercado, não tenho em vista um fundo em específico com risco excessivo de concentração em um devedor. Como vimos no caso da Agrogalaxy, os fundos mais impactados possuíam uma exposição do Patrimônio Líquido em torno de 8% aos ativos da devedora”, argumenta Lana Santos.
Como o investidor pode identificar um bom Fiagro?
Embora os analistas não concordem com o porcentual máximo a ser aplicado em cada empresa ou setor, eles chegam a um consenso quando o assunto é identificar bons Fiagros para comprar agora. De acordo com Luigi Wis, da Genial Investimentos, o mais importante é não olhar somente o rendimento do Fiagro. Ele lembra que no mercado financeiro sempre há a relação risco-retorno, onde maior rentabilidade também significa maior risco.
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“A melhor forma de escolher um Fiagro é analisando a carteira do fundo, disponibilizada no relatório gerencial mensal. Olhar a pulverização do Fiagro. (quantos CRAs eles possuem, qual a exposição por emissor), observar as garantias dos CRAs através da métrica LTV (loan to value), quanto menor o LTV mais garantias o CRA possui”, argumenta Luigi Wis.
Lana Santos diz que o investidor deve aportar seu dinheiro em Fiagros que possuam um patrimônio superior a R$ 200 milhões, favorecendo a diversificação do portfólio do fundo em mais de um ativo.
“Hoje ainda não temos tantos Fiagros que possuem todas essas características, uma vez que a indústria é nova e continua se consolidando. Esses problemas eventuais de inadimplência fazem parte do mercado, e não devem afastar os investidores dos Fiagros. Apenas os lembrar de que, como todo produto novo, os Fiagros continuam passando pelo teste do tempo, com diferentes ciclos de commodities, de juros, e ciclos climáticos, até que a indústria cresça e se consolide”, afirma a analista.
Quais Fiagros o investidor deve comprar agora?
Ainda assim, os analistas ouvidos pelo E-Investidor se dividem sobre a avaliação de Guilherme Sharovsky, líder de crédito corporativo da Bloxs Capital Partners, que comenta que o investidor deve tomar cuidado e formar um portfólio diversificado com Fiagros com credores diferentes. Desse modo, o especialista vê o fundo da Sparta Fiagro (CRAA11), Leste FI (LSAG11), JGP Crédito Fiagro Imobiliário (JGPX11) e o FG Agro (FGAA11).
O especialista diz que os quatro Fiagros estão atrativos para o investidor. O fundo da Sparta e FG são os preferidos por conseguirem se segurar nesse momento de tensão no mercado em meio aos problemas da Agrogalaxy. Já o fundo JGP é visto pelo especialista como uma boa alternativa para o investidor que não teme a volatilidade do mercado. Ele seria o ideal para a pessoa que busca ganhos com a valorização.
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“O papel caiu forte justamente devido à exposição em Agrogalaxy. E agora a cota do fundo está em um preço atraente. No entanto, vale lembrar que esse Fiagro continua sendo de alto risco pela sua exposição à companhia que está entrando em recuperação judicial, o que pode trazer riscos para o investidor”, aponta Sharovsky.
Já Izabele Correia, analista de fundos imobiliários da Nord Research, avalia que o mercado de Fiagro ainda é muito prematuro e veio a mercado com promessa de retornos atrativos para os investidores, o que causou um preço alto a ser pago pelo investidor.
“Quando os Fiagros foram lançados, a concessão de crédito via CRAs foram inúmeras. No entanto, a grande maioria foi realizada sem grandes exigências ou critério por parte de quem concedeu. Por causa dessa baixa seletividade, a grande parte dos CRAs enfrenta problemas de pagamento, impactando diretamente nos fundos com a disparada da inadimplência”, argumenta Correia.
Justamente por causa desses fatores, a analista diz que esse não é o momento para o investidor pessoa física entrar no setor. O ideal é esperar uma maior consolidação. Segundo ela, o caso da Agrogalaxy não foi um evento isolado. Outras empresas do setor estão atrasando o pagamento de dívidas em meio à queda dos preços das commodities. “Nesse momento, o melhor é ficar de fora dessas teses”, diz a analista.
Em linhas gerais, a decisão final deve ficar com o investidor, visto que ele deve saber o seu perfil e qual é o seu apetite ao risco. Caso ele não tenha medo dos riscos da inadimplência,comprar Fiagros buscando grandes retornos pode ser positivo. Já no caso do investidor mais conservador, o ideal é esperar o segmento ter uma melhor consolidação.
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