De um lado, questões climáticas cada vez mais frequentes e trazendo prejuízo para a vida das pessoas. De outro, um grande volume de capital que pode financiar processos de transição para mitigar e até eliminar esses problemas. A avaliação é de Denísio Liberato, CEO da BB Asset e único latino-americano presente no Conselho Global do PRI (Principles for Responsible Investment), que avalia o potencial do Brasil em atrair capital do Norte global.
Leia também
Para Liberato, está cada vez mais claro que os países do Norte global têm o dinheiro e os países do Sul global, com destaque para o Brasil, têm as oportunidades para recebê-lo. E é nessa direção que os esforços do executivo estão empenhados.
“Há uma necessidade clara de mobilização de capital do Norte global para o Sul global. E entendemos que o Brasil tem vasta biodiversidade e um mercado financeiro sofisticado, é o país que pode criar produtos, soluções e desenhar instrumentos financeiros com capital orientado a gerar externalidades positivas em larga escala”, afirmou Liberato, em entrevista exclusiva ao Broadcast Investimentos. “O Brasil está numa maturidade bacana e tem muito potencial.”, complementou.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Há quase dois anos como conselheiro na iniciativa das Nações Unidas, Liberato tem atuado em prol dessa mobilização de interesse e capital para a economia brasileira. E parte desse esforço, inclusive, se reflete em um anúncio do PRI feito na semana passada.
No encerramento do evento “PRI in Person”, que neste ano ocorreu em Toronto, no Canadá, o executivo esteve ao lado de David Atkin, CEO do PRI, para revelar que São Paulo será a sede da edição de 2025. Com realização alguns dias antes da 30ª Conferência das Partes (COP30) das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém, a expectativa é que o evento também seja uma oportunidade para fomento de discussões sobre finanças sustentáveis.
“Os maiores investidores do mundo vão estar presentes, com as maiores gestoras e investidores institucionais. Será uma chance única. Há pessoas que estiveram no Brasil há muito tempo, então vai ser bom elas poderem olhar de perto em 2025 e ver a dimensão do mercado financeiro e as oportunidades que o País pode oferecer”, diz Liberato.
Ele também vê chance de desenvolvimento do próprio mercado financeiro do Brasil, que “ainda é muito focado no curto prazo e na taxa de juros alta”. Para o CEO da BB Asset, será uma oportunidade de diálogo sobre investimentos responsáveis para o longo prazo.
Publicidade
Hoje há aproximadamente 5.500 signatários do PRI trocando boas práticas pelo mundo, sendo mais de 100 no Brasil, entre bancos, gestoras de recursos de terceiros, proprietários de ativos e provedores de serviços.
Avanços e obstáculos nos investimentos responsáveis
A cada edição do “PRI in Person”, o nível de discussão é mais elevado, segundo Liberato. No evento deste ano, ele ouviu relatos sobre progresso em relação a ferramentas, capacidade de análise e disponibilidade de dados para que os investidores consigam cada vez mais fazer uma integração ESG (sigla em inglês para critérios Ambientais, Sociais e de Governança), com o objetivo de mitigar risco de portfólio, enxergar oportunidades de valor relativo e maximizar retornos. Ainda, o executivo destaca que a tônica das discussões no Canadá continuou com a abordagem de Tóquio, na edição de 2023, sobre como sair dos compromissos e progredir globalmente para ações mais concretas.
Por outro lado, Liberato reconhece alguns obstáculos. Ele conta que, neste ano, a delegação dos Estados Unidos presente no evento foi menor, por exemplo. “Há um movimento político, notadamente nos Estados Unidos e concentrado nos Estados republicanos, contra o ESG e o chamado ‘capitalismo woke'”, diz o executivo, acrescentando que isso foi abordado nas conversas do PRI, mas que o avanço das iniciativas no sentido de descarbonização da economia se sobrepõem.
Além disso, Liberato destaca como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira tem ido no sentido contrário de ações como a da SEC (a CVM americana), que encerrou sua força tarefa anti greenwashing. “A CVM tem exigido disclosure de informações ESG das empresas, com materialidade e padrão ISSB. Essa liderança da CVM foi muito comentada aqui no PRI in Person, com o Brasil assumindo esse papel. O mundo caminha nesse sentido.”
* Com informações do Broadcast
Publicidade