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Como a alta do dólar definiu o setor campeão da Bolsa em 2024

Marfrig (MRFG3), BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3) estão entre as maiores altas do Ibovespa; uma delas é a queridinha

Como a alta do dólar definiu o setor campeão da Bolsa em 2024
Ações de frigoríficos – Marfrig (MRFG3), BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3) – ocupam 3 das 5 maiores valorizações acumuladas no ano na Bolsa. (Foto: Cesar Machado em Adobe Stock)
  • A ponta positiva do Ibovespa é dominada pelas ações de frigoríficos, com três das cinco maiores valorizações acumuladas no ano
  • Marfrig (MRFG3), BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3) disparam, beneficiadas pela alta do dólar e uma série de fatores benéficos ao setor
  • Especialistas explicam o que motivou a alta ao longo do ano; projeções apontam a ação preferida das casas para comprar

A pouco mais de um mês antes do encerramento de 2024, já dá para dizer que há um setor vencedor na Bolsa. A ponta positiva do Ibovespa é dominada pelas ações de frigoríficos, com três das cinco maiores valorizações acumuladas no ano. Até o fechamento desta sexta-feira (22), Marfrig (MRFG3), BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3) tinham altas de 87,63%, 82,55% e 51,06%, respectivamente.

Os ganhos expressivos dos frigoríficos refletem uma combinação de fatores. De um lado, são empresas “protegidas” da volatilidade doméstica por terem receitas em dólar. De outro, questões micro jogaram a favor com a redução no preço dos insumos e movimentações estratégicas entre os players.

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“Sem dúvida, é o setor vencedor dentre os principais do Ibovespa”, diz Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais. “São empresas que dependem muito do momento do mercado e souberam aproveitar o momento favorável para transformar isso em lucro, aumento de margem e de mercado.”

A exceção é a Minerva (BEEF3), que cai 24,50% no ano. Segundo o especialista, a companhia pagou “caro” ao comprar ativos da Marfrig, aumentando seu endividamento, e ainda não pode colher os frutos da sinergia da operação, porque o Cade demorou a aprovar a transação.

Uma história sobre o dólar

Por serem exportadoras e com operações no exterior, as empresas de frigoríficos são grandes beneficiadas por momentos em que o dólar está mais elevado. E foi o que aconteceu em 2024.

A cotação da moeda disparou, especialmente nos últimos meses. No início de novembro, o dólar chegou a bater os R$ 5,86, o segundo maior valor nominal da história. Como mostramos aqui, a alta acumulada nos primeiros 10 meses do ano é a 3ª maior em 15 anos, atrás apenas de 2015 e 2020.

O estresse no câmbio reflete uma combinação de fatores. Lá fora, a incerteza em relação ao resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos e a vitória de Donald Trump impulsionaram uma tendência de dólar forte pelo mundo. No Brasil, a indefinição com o fiscal com a espera pelo anúncio de medidas de corte de gastos também pressiona o desempenho do real.

Esse contexto de volatilidade pressiona ativos da Bolsa brasileira, sobretudo nomes cíclicos e ligados à economia doméstica, penalizados pela abertura da curva de juros. Mas JBS, Marfrig e BRF parecem estar passando “ilesas” desse turbilhão. E boa parte disso tem a ver com a ligação ao dólar.

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Um levantamento feito pela Economatica mostra como as ações dos frigoríficos andaram em linha com a moeda americana ao longo dos meses. Os dados mostram a performance de BRFS3, JBSS3 e MRFG3 em relação ao dólar, na base 100. Veja:

“O efeito da valorização do dólar ajuda a melhorar a linha da receita das companhias. Como o dólar subiu mais de 20% desde o começo de 2024, o ciclo foi muito positivo para as empresas do setor de carnes”, destaca Idean Alves.

Vantagens micro também ajudam

Mas não dá para resumir o bom desempenho do setor em 2024 ao câmbio. Os especialistas explicam que há uma série de fatores na tese das próprias empresas que fizeram o mercado concluir como promissores esses papéis na Bolsa.

O primeiro, que joga a favor de todas essas empresas, foi a queda do preço de grãos como milho e soja, que são a base da alimentação de frangos e suínos. O barateamento da ração significa para as empresas uma queda de custos, gerando menor custo operacional, e ajudando a reduzir o endividamento, o que tem um efeito caixa positivo nos balanços ao reduzir a alavancagem financeira. “Além disso, houve uma maior demanda por frango e suíno no Brasil e no mundo, o que ajudou no aumento das receitas, e com uma alavancagem menor, muitas empresas reverteram os prejuízos de trimestres anteriores em lucro”, diz Alves.

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Mas as líderes de alta Marfrig e BRF também foram beneficiadas pela união dos negócios. Em setembro, as companhias anunciaram um acordo para que a Sadia, da BRF, “endosse” os hambúrgueres Bassi, da Marfrig. O movimento tinha como objetivo unir os portfólios das suas companhias no mercado premium de carnes; e foi bem recebido no mercado, como explica Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “BRF e Marfrig praticamente se fundiram e as sinergias já começaram a ser observadas ao longo do ano durante os releases trimestrais, algo que agradou bastante investidores.”

A JBS, por sua vez, teve um desempenho muito positivo não só no Brasil, mas também lá fora. Ela é, inclusive, a “queridinha” entre as recomendações.

O consenso disponível no Broadcast dá o seguinte panorama para as ações das quatro empresas frigoríficas:

  • JBS (JBSS3): 6 recomendações de compra, com preços-alvo entre R$ 35 e R$ 49;
  • Marfrig (MRFG3): 4 recomendações neutras e 2 recomendações de compra, com preços-alvo entre R$ 10 e R$ 23;
  • Minerva (BEEF3): 4 recomendações de compra e 2 recomendações neutra, com preços-alvo entre R$ 7 e R$ 11;
  • BRF (BRFS3): 3 recomendações neutra e 3 recomendações de compra, com preços-alvo entre R$ 19 e R$ 35.

O Itaú BBA é um dos que preferem a JBSS3 ante os pares do setor. Em relatório, o banco destacou que os resultados da JBS no 3º trimestre foram sólidos, com revisão do guidance para cima. A análise diz que há “uma preocupação significativa” com um potencial desinvestimento do BNDES na companhia, mas reforça a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 46 para 2025.

Boicote ao Carrefour

Na semana passada, uma declaração feita pelo CEO global do Carrefour (CRFB3), Alexandre Bompard, pegou os brasileiros de surpresa. O executivo afirmou nas redes sociais que o grupo francês não comercializaria mais carnes provenientes do Mercosul. Por trás do movimento de boicote, estão protestos de agricultores franceses sobre o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o bloco econômico que engloba Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, para reduzir tarifas sobre os produtos desses países.

A iniciativa provocou um mal-estar entre os frigoríficos nacionais, que reagiram ao boicote promovido pelo Carrefour. A Minerva, por exemplo, já parou de fornecer à varejista, como confirmado por João Sampaio, diretor institucional da empresa, ao Agro Estadão.

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De acordo com João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, quem sai perdendo nesse braço de ferro é o grupo varejista francês. Isto porque os frigoríficos brasileiros já não têm a Europa como um mercado relevante, e sim, a Ásia.

“Para os frigoríficos daqui, a Europa sempre fez isso. O mercado europeu sempre busca privilegiar o consumo interno da região deles. Barrando, de alguma maneira, o produto do Mercosul. Sempre tem uma história, um embargo, um ‘lance’ de desqualificar a qualidade”, diz Abdouni. “O que acho que pode pegar é para o Carrefour Brasil, porque se os frigoríficos resolverem mesmo embargar o Carrefour Brasil, ninguém vai deixar de consumir carne por isso.”

Essa também é a visão Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “O Brasil exporta muito pouco para a França. Já para o Carrefour aqui no Brasil, aí sim, esse movimento de boicote conta a varejista é bem prejudicial. Os frigoríficos (JBS, Minerva, Marfrig e BRF) são as grandes marcas nacionais. Fora eles, também vimos associações de restaurantes e empresas não listadas falando que não iam distribuir para o Carrefour.”

José Ricardo Rosalen, analista da Ágora Investimentos, aponta que, no 3° trimestre de 2024, a exportação de JBS, Marfrig e Minerva para a Europa foi de aproximadamente 7%, 15% e 6% da receita, respectivamente.

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“Por mais que a França deixe de receber esses produtos daqui pra frente, as vendas poderão ser realocadas para demais países do próprio ou de outros continentes, além da demanda no Brasil que poderá ajudar a absorver a oferta”, diz o especialista. Em relação ao Carrefour, Rosalen estima que a carne bovina seja responsável por 4 a 5% das vendas totais e, apesar do percentual relativamente baixo, é uma categoria importante para direcionar tráfego para as lojas. Ou seja, um “contraboicote” dos frigoríficos pode trazer algum impacto negativo – ainda não totalmente estimado.

“Nesta fase, ainda é muito cedo para avaliar o impacto total deste boicote (dos frigoríficos ao Carrefour), pois os níveis reais de falta de estoque nas lojas Carrefour e a velocidade com que eles podem aumentar permanecem incertos”, diz Rosalen.

*Com colaboração de Jenne Andrade

 

 

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