Em recuperação judicial, a Americanas (AMER3) surpreendeu o mercado ao reverter o prejuízo de R$ 1,63 bilhão – referente ao terceiro tri de 2023 – para lucro de R$ 10,28 bilhões no acumulado de julho a setembro deste ano. O desempenho rapidamente impactou na cotação dos papéis na Bolsa de Valores. No pregão do dia 14 de novembro, as ações da varejista subiram 180%, negociadas a R$ 9,41. Já na última segunda-feira (18), os ganhos foram de 1,17% após um pregão com alta volatilidade. O movimento ajudou a companhia a quase triplicar o seu valor de mercado na B3 em menos de uma semana.
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Segundo dados da Elos Ayta consultoria, do dia 13 de novembro até a última segunda-feira (18), a Americanas saiu de R$ 673 milhões em valor de mercado para R$ 1,9 bilhão. Apesar dos ganhos, os números podem não ter sido suficientes para reverter o prejuízo da carteira do investidor pernambucano Inácio de Barros Melo Neto, que se tornou acionista relevante da companhia em julho deste ano.
No dia 12 daquele mês, quando os papéis eram negociados a R$ 0,69, a Americanas comunicou ao mercado que o empresário passou a deter 12,52% do total de ações AMER3, o equivalente a 113 milhões de papéis. Com essa posição, ele ficou atrás apenas do trio 3G – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira – na composição acionária da empresa. Após essa data, os papéis seguiram em ritmo de queda até chegar na cotação de R$ 0,05 no dia 26 de agosto, quando a companhia anunciou o grupamento de ações na proporção de 100 para 1.
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Com essa estratégia, os papéis saíram de uma negociação de centavos e passaram a ser negociados a R$ 5,40 no pregão do dia 27 de agosto. A mudança também alterou a posição acionária do investidor pernambucano, que ficou com um volume equivalente a 1,130 milhão de ações. Ao considerar apenas a posição de Melo Neto em Americanas no dia 12 de julho, o preço médio na carteira hoje é equivalente a R$ 69 (levando em conta a soma do preço de 100 papéis à época do grupamento). Ou seja, mesmo com as recentes altas, o investidor poderia estar no prejuízo, visto que as ações da varejista encerraram no pregão da última segunda-feira (18) a R$ 9,52. Procurado pela reportagem, Inácio de Barros não retornou os nossos contatos; o espaço segue aberto.
Segundo a simulação da Elos Ayta, isso representaria um prejuízo de R$ 67,2 milhões caso Melo Neto tivesse liquidado a sua posição no início da semana.
Data | Cotação | Quantidade de ações | Valor de mercado |
12 de julho | R$ 0,69 | 113 milhões | R$ 77,9 milhões |
18 de novembro | R$ 9,52 (ou R$ 0,0952 sem considerar o agrupamento das ações) | 1,130 milhão | R$ 10,7 milhões |
Fonte: Elos Ayta Consultoria |
“Eu acredito em Americanas”
A simulação mostra que o balanço positivo da companhia não é o suficiente para apagar o seu histórico de fraude contábil, responsável por manchar a credibilidade da varejista e derrubar as ações. Daniel Fontana, especialista da mesa de fundos imobiliários da RJ+ Investimentos, explica que a companhia precisa entregar resultados ainda melhores nos próximos trimestres para resgatar a confiança do mercado e avançar no processo de recuperação judicial. “A posição elevada de encargos com fornecedores no longo prazo e encargos financeiros de curto prazo, valor em níveis mais controlados, são os principais desafios da companhia”, diz.
Como mostramos nesta reportagem, os números da Americanas no terceiro trimestre de 2024 refletem o processo de novação de dívida, mecanismo jurídico de reestruturação das pendências financeiras. Por outro lado, o volume bruto de vendas de mercadoria caiu no mesmo período de R$ 4,90 bilhões para R$ 4,70 bilhões no terceiro trimestre de 2024, o que reflete os desafios do varejo. “O setor está com a demanda reprimida devido ao cenário interno e setor experimenta uma competitividade muito acirrada”, diz Rafael Lage, analista CNPI da CM Capital.
O cenário ainda incerto parece não abalar a crença do investidor pernambucano de uma possível recuperação da Americanas nos próximos anos. Desde quando se tornou relevante para a companhia, o Melo Neto não deixou de comprar as ações da empresa. Segundo informações da agência Reuters, o investidor afirmou que tinha 3,240 milhões de ações AMER3 a um preço médio de R$ 32 cada e que estava tranquilo em relação à sua posição na companhia. “Eu acredito na recuperação da empresa,” disse Melo Neto em entrevista à agencia.
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Por volta das 15h30 desta quinta-feira (21), as ações da Americanas (AMER3) apresentam uma depreciação de 9,01%, sendo negociadas a R$ 8,28. Já em 2024, os papéis ainda acumulam uma queda de 90%.